sexta-feira, 26 de junho de 2015

Revista O MENELICK 2° Ato e Departamento de História da USP discutem a trajetória da imprensa negra paulista

Caso estivesse sendo regularmente publicado “mez a mez” desde a sua fundação, em 1915, como ambicionava seu núcleo gestor, o jornal O Menelick, que exibia orgulhoso em seu subtítulo a sugestiva frase orgam noticioso, literário e crítico dedicado aos homens de cor, completaria em 2015 um século de existência. Nada mal para um periódico que nasceu no último país das Américas a “abolir” formalmente a escravidão; que enfrentou toda a sorte de um pseudo-movimento eugênico brasileiro que se disseminava por diversos setores da elite intelectual do país. Isso sem contar os escassos recursos financeiros que dispunha e os incontáveis efeitos políticos, econômicos e sociais ocasionados pe
la Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918).

Tivesse sido respeitada a heterogeneidade formadora dos alicerces da sociedade brasileira, as diferentes matizes que a constituíram e a livre expressão das “minorias”, a utopia da secular longevidade do periódico paulista superaria hoje, por exemplo, consagrados ícones da imprensa negra mundial. Como é o caso, por exemplo, das gigantes norte-americanas Ebony (1945), Jet (1951) e Essence(1970).

Mas a realidade enfrentada pelo jornal O Menelick – assim como de quase a totalidade dos veículos de comunicação da chamada imprensa negra que o precederam e o sucederam foi outra. Com pouquíssimos recursos financeiros para se viabilizar e, consequentemente, com sérias dificuldades em manter uma periodicidade regular, o jornal encerrou seus trabalhos ainda em seu segundo número, em 1916. Mas a semente fora plantada, e a importância dos negros de São Paulo possuírem um jornal que os representassem legitimou-se através das poucas páginas publicadas por O Menelick, suficientes, porém, para encorajar que outras publicações semelhantes surgissem a sua luz.

Com a participação de Oswaldo de Camargo, Rosane Borges, Alexandre Araújo Bispo, Oswaldo Faustino e Nabor Jr., o encontro O Menelick, 100 Anos (1915 – 2015): Revisitando a Trajetória da Imprensa Negra Paulista, jogará luz sob essa história secular contada a próprios punhos e os desdobramentos deste movimento na contemporaneidade.

OBS: No mesmo dia haverá a distribuição gratuita da edição zer016 da revista O Menelick 2° Ato.

SERVIÇO
O MENELICK, 100 ANOS (1915 – 2015): REVISITANDO A TRAJETÓRIA DA IMPRENSA NEGRA PAULISTA
DATA 26 DE JUNHO
HORÁRIO DAS 18H ÀS 21H
LOCAL ANFITEATRO DE HISTÓRIA – DH/USP
ENDEREÇO AV. PROF. LINEU PRESTES, 338 – CIDADE UNIVERSITÁRIA
ENTRADA GRATUITA
+ INFO omenelick2ato.com/ lemad.fflch.usp.br

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Independência do Mali fo celebrada com festa em São Paulo

Estamos aguardando notícias e convite para as comemorações em 2015.
 
O aniversário da libertação do país subsaariano foi celebrado pela primeira vez em São Paulo com danças, roupas e comidas típicas, em festa realizada na Missão Paz no último domingo (21/9/14).

Os espaços da Missão Paz (Rua do Glicério, 225, São Paulo), acostumados à acolhida e ao encontro entre as diversidades, serviu ontem (21) como pano de fundo para a celebração da primeira comemoração, em São Paulo, da independência da República do Mali (no seu 54° aniversário, cuja data oficial é hoje, 22 de setembro) promovido pela União Malinesa de São Paulo (UMSPB), organização que reúne e representa as centenas de cidadãos do país africano que se encontram na capital paulista.


No evento estavam presentes personalidades como o embaixador do Mali no Brasil, Sr. Cheickna Keita, e o Sr. Grand Papa Modibo Diarra, chefe religioso muçulmano e conselheiro dos malineses em São Paulo.

Após a mesa redonda, em que se falou a respeito dos desafios e das perspectivas atuais do país africano, os jovens moderadores e coordenadores do evento, Tieman Coulibaly e Adama Konate, pediram aos membros da mesa para entregar oficialmente uma carta de agradecimento e uma obra de artesanato típico malinês a alguns convidados representantes de grupos e comunidades que se destacaram em oferecer aos cidadãos do Mali (e não só) uma acolhida digna em sua chegada a São Paulo. Simone Bernardi, Sônia Altomar, Cyntia Macedo e Beatriz Lipskis (representada por Sheila) receberam o agradecimento em nome de todos os missionários, funcionários, voluntários e amigos do Arsenal da Esperança que é, atualmente, a instituição que acolhe o maior número de malineses na cidade de São Paulo.


Na sua fala, Simone Bernardi, do SERMIG – Fraternidade da Esperança, agradeceu pelo reconhecimento e, dirigindo-se aos imigrantes que estavam na plateia, disse que, mesmo passando por uma situação difícil (muitos estão sem documentos, em situação de trabalho irregular, sem um lar, etc.), eles também encontraram acolhida, o que é sinal de que há pessoas trabalhando para o bem deles, e ainda acrescentou: “...um problema pode se tornar uma oportunidade, no caso, a de restituir aos outros o bem que receberam e a de sempre buscar retribuir o mal com o bem. Essas são as únicas armas que temos para construirmos uma paz verdadeira”. 

Terminado o cerimonial, a festa continuou com apresentações culturais, teatro, canções, danças e comidas típicas, além da recitação de um poema sobre a independência do Mali, tudo sob o olhar atento do jornalista Maurício Kubrusly, do “Me Leva Brasil", quadro do Fantástico.

A noite, na portaria e no refeitório do Arsenal, dava para encontrar muitos rostos sorridentes daqueles que, ainda vestindo os trajes tradicionais africanos, retornavam da festa felizes por ter ido até Bamako (capital do Mali) e voltado, sem sair do Brasil... Porque, afinal, a África já é aqui.

Senado incorpora visão humanista à legislação para migrantes no país


Uma nova legislação para regular a entrada e a permanência de estrangeiros e definir normas de proteção para o brasileiro que deixa o país foi aprovada em primeiro turno pela Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) no mês passado. De autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o Projeto de Lei do Senado (PLS) 288/2013 estabelece a chamada Lei de Migração, em substituição ao Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815/1980), em vigor. Para Aloysio, a proposta altera profundamente o espírito da lei vigente, elaborada no período do regime militar e baseada em princípios de segurança nacional, dando ao estrangeiro um tratamento de ameaça à soberania, ao emprego e à cultura do país.
— O projeto traz a perspectiva do acolhimento. O Brasil é hoje um importante destino de imigração. Os que deixam seus países por catástrofes naturais, como o caso do Haiti, ou abalos sociais, como os casos do Oriente Médio ou África, ou vêm com o amparo da lei ou serão vítimas de exploração em nosso país — argumenta o senador e atual presidente da CRE.
A opinião é compartilhada pelo senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), que foi relator do PLS 288/2013 na CRE.
— A proposta é mais adequada ao espírito do século 21, da globalização, enterrando o “entulho autoritário” representado pelo Estatuto do Estrangeiro.
O senador acredita que a legislação não pode servir para dificultar a imigração e que é preciso constatar a realidade migratória no mundo e criar um ambiente legal para que o governo brasileiro possa desenvolver políticas mais estruturadas para essa realidade.
Para Ferraço, a nova Lei da Migração apresenta enfoques de cooperação tanto na área humanitária quanto trabalhista e é preciso compreender que a força de trabalho dos imigrantes pode contribuir com a economia brasileira hoje como contribuiu ao longo da história. O senador lembra que hoje convivem no país regimes de acolhida e de autorização para trabalho que são diversos e muitas vezes criados de forma circunstancial.

Mudanças

A proposta de Lei de Migração foi aprovada na forma de substitutivo de Ferraço e passará por turno suplementar de votação amanhã, após o que deverá ser encaminhada para a Câmara dos Deputados. No substitutivo, foram incorporadas sugestões do Executivo, muitas constantes de anteprojeto elaborado por comissão de especialistas criada pelo Ministério da Justiça em 2013.
Aloysio relata que a apresentação do PLS 288/2013 serviu como catalisador de uma série de propostas que estavam sendo discutidas e o Executivo passou a trabalhar com foco no projeto do Senado.
— A tramitação da proposta ficou suspensa até que chegassem as sugestões do Executivo, mesmo porque há disposições de ordem prática dos órgãos envolvidos que precisavam ser consideradas. A discussão foi bastante amadurecida — afirmou.
A proposta traz entre os princípios e garantias que devem reger a política migratória brasileira a “universalidade, indivisibilidade e interdependência dos direitos humanos”, o que na prática implica tratar os estrangeiros igualmente aos cidadãos nacionais.
Também consagra o repúdio à xenofobia, a não criminalização da imigração, a acolhida humanitária e a garantia à reunião familiar. O projeto prevê uma série de direitos e garantias para os imigrantes, como o acesso à justiça e medidas destinadas a promover a integração social. Regulamenta a expedição de documento de trânsito vicinal para residentes em cidades que fazem fronteira com o Brasil e cria mecanismos de proteção ao apátrida (aquele que não tem nacionalidade alguma).
A proposta também estabelece uma nova regulamentação para os tipos de visto a serem concedidos: de trânsito, turismo e negócios, temporário, permanente, diplomático e oficial e de cortesia. Procura incentivar a admissão de mão de obra especializada necessária ao desenvolvimento econômico, social, cultural, científico e tecnológico do Brasil e à captação de recursos e geração de emprego e renda, desde que condicionados a critérios exigidos pela legislação específica, sem discriminação. O visto temporário poderá ser concedido, por exemplo, para cientistas estrangeiros mesmo sem vínculo empregatício com instituição de pesquisa brasileira.
Outra novidade do projeto é a tipificação do crime de tráfico internacional de pessoas para fins de migração, a fim de combater a ação dos chamados coiotes. Regula ainda o tema do asilo político e da reunião familiar e dispõe sobre a repatriação, a deportação e a expulsão, mas sem fazer referências à extradição, que, segundo o autor, deve ser tema de lei específica fruto de cooperação judiciária internacional.
A proposta também inova ao criar normas para o emigrante brasileiro relacionadas à previdência social, sequestro de crianças ou adolescentes, direitos de tripulantes de embarcações ou armadoras estrangeiras, benefícios fiscais e de sepultamento. Também permite que o brasileiro que tenha trabalhado no exterior possa contribuir retroativamente para a Previdência Social na condição de segurado facultativo e facilita o reingresso de pertences para brasileiros que retornam ao país.

Otimismo e cautela

A aprovação do PLS 288/2013 pelo Senado foi recebida com um misto de otimismo e cautela pelas organizações de acolhimento e de defesa dos direitos dos imigrantes no país.
A presidente do Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH), Rosita Milesi, ressalta que o projeto deixa clara a necessidade de cuidar da plena integração do migrante à sociedade brasileira, da atenção ao brasileiro residindo fora do país, da proteção às crianças e adolescentes, além de repudiar a discriminação, o racismo e xenofobia.
— São princípios da maior importância para uma política migratória de acolhida, respeito e integração dos imigrantes — considera.
Rosita destaca, porém, pontos que despertam preocupação das organizações. Um deles é que, com a revogação do Estatuto do Estrangeiro, o Conselho Nacional de Imigração deixaria de existir, uma vez que não há menção ao órgão no novo texto. As organizações defendiam a sua transformação em Conselho Nacional de Migração, incluindo também a atenção aos brasileiros que vivem no exterior. Na justificativa para o projeto, Aloysio sugere a criação de uma Agência Nacional de Migração, mas lembra que tal iniciativa é exclusiva do Executivo.
O direito a voto, já conferido por outros países, também é umas das reivindicações das organizações não contempladas na proposta, mas só pode ser atendida por emenda constitucional. Aloysio já apresentou proposta (PEC 25/2012) em que defende a concessão do direito a voto aos imigrantes nas eleições municipais.
Rosita também mostrou preocupação com as disposições sobre valores a serem pagos para a obtenção de documentos e outros serviços relativos à migração, que muitas vezes é um impedimento para a regularização dos migrantes.
— Esperamos que não onerem mais ainda o migrante que busca superar a burocracia e custear sua regularização migratória — observa.

Haitianos despertaram interesse da opinião pública

A onda de imigrações de haitianos que teve início em 2010, após o Haiti ser praticamente destruído por um terremoto, chamou a atenção para o problema da migração para o Brasil. De acordo com a Polícia Federal, mais de 39 mil haitianos ingressaram no Brasil entre 2010 e 2014. Os registros do governo do Acre já contabilizam cerca de 4,7 mil outros até março de 2015. Eles estão recebendo os chamados vistos humanitários, criados pela Resolução 97 do Conselho Nacional de Imigração em 2012.
A aprovação da Lei de Migração pode ajudar o Brasil a enfrentar situações como a dos haitianos de forma mais estruturada, não só por criar a figura do visto temporário por acolhida humanitária, mas também por criar instrumentos penais para combater o tráfico internacional de pessoas para fins de migração.
A maioria dos haitianos que chegam ao Brasil, o fazem pelo Acre, depois de percorrer um longo caminho que leva de 15 a 20 dias e inclui a República Dominicana, o Panamá, o Equador e o Peru. No caminho, são submetidos a violência física, a roubos e à exploração dos coiotes. Estima-se que cada imigrante paga entre US$ 2 mil e US$ 5 mil pela viagem em grupos até o Acre. A rota ilegal se consolidou e hoje está servindo também a imigrantes de outros países, com destaque para os senegaleses.
Integrante da CRE, Jorge Viana (PT-AC) elogiou a comissão pela aprovação da proposta de Lei de Migração. O senador tem repetidamente pedido por soluções para o problema da chegada dos haitianos ao Acre, que, como explica, tem excedido a capacidade do estado de dar acolhimento. Ele quer que o tema seja tratado de forma nacional, e não local.

Trabalho

O padre Paolo Parise, integrante da Missão Paz, que acolhe migrantes e refugiados na cidade de São Paulo, revela que tem havido uma corrida emergencial para atender os haitianos que procuram a instituição, gerando superlotação no abrigo oferecido. Ele diz que muitos têm se decepcionado com a realidade de oferta de trabalho e renda no Brasil e que alguns pensam mesmo em voltar ao Haiti.
A Missão Paz oferece serviços para inclusão do imigrante, como cursos de português, palestras sobre cultura e direitos e deveres no mundo do trabalho no Brasil. Eles oferecem instrumentos para que os imigrantes empregados denunciem qualquer tipo de exploração no trabalho.
A entidade também faz a intermediação entre os imigrantes e os interessados em contratá-los. As empresas assinam um compromisso ético para respeito aos direitos trabalhistas. Parise diz que a emissão de carteiras de trabalho já no Acre tem facilitado muito o encaminhamento dos haitianos ao mercado de trabalho. Segundo o padre, o perfil de empregos para os haitianos mudou: antes era maior na construção civil, mas hoje muitos têm se empregado como auxiliares de serviços gerais e garçons.
Parise diz que a situação dos haitianos despertou o interesse da opinião pública sobre a migração, mas que há outros imigrantes em situações precárias, como os sírios, que hoje estão abrigados em mesquitas pela cidade, ou os bolivianos, que são explorados em oficinas de costura e muitas vezes não dispõem dos R$ 220 necessários para o processo de regularização no país de cada um dos membros da família, e que, por isso, permanecem irregulares.
Parise saudou a aprovação da nova Lei de Migração como uma mudança de paradigma:
— O imigrante é gente, é humano, não é uma ameaça, não é um perigo — pondera.

Dinâmica das migrações não mudou, diz historiadora

Marília Bonas, historiadora, museóloga e diretora-executiva do Museu da Imigração do Estado de São Paulo, diz que os movimentos de migração acontecem desde sempre e vêm do desejo humano de uma vida melhor.
E o Brasil não foge a essa história, tendo havido movimentos migratórios internos desde o tempo em que aqui só estavam as populações indígenas, além da grande migração forçada dos africanos trazidos como escravos. A identidade cultural do país é formada pela contribuição de muitos migrantes, mas Marília diz que existe uma “romantização” da imigração europeia ocorrida entre o fim do século 19 e o início do século 20.
— A razão da imigração europeia era a substituição da mão de obra dos escravos libertos e o “embranquecimento” da população. Ideologicamente havia uma percepção de superioridade da cultura europeia em relação à cultura brasileira — reflete.
A historiadora pondera, no entanto, que os europeus vieram porque estavam passando fome em suas terras de origem, e mais do que “empreendedores que vieram fazer a América”, estavam fugindo da pobreza. A dinâmica das migrações hoje não é diferente, argumenta Marília. A diferença é a sociedade que recebe.
Marília vê avanços na Lei de Migração, mas pondera sobre a necessidade de estender direitos àqueles que não estão com a documentação regular.
— O caminho não é o da criminalização, e sim o do debate público para ampliar o conhecimento sobre a experiência migratória e seu papel na construção da sociedade brasileira. É preciso mostrar que as migrações de hoje são importantes e parecidas com a de avós e bisavós de muitos brasileiros e que cabe a nós receber bem — conclui.
O museu promove em junho a Festa da Imigração, que reúne manifestações culturais, artísticas e gastronômicas de diversas comunidades de imigrantes da cidade de São Paulo.

André Falcão | 02/06/2015

Cinco crônicas de António Nametil Mogovolas de Muatua, diretas de Mozambique, em homenagem à sua independência

Segundo a Wikipédia: "Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi uma colônia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975. A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.

No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV. A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.

Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975."

Nosso correspondente, António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele), que nos brinda com as suas cronicas, prestou homenagens à sua terra natal pela passagem de mais um ano de independência. Com prazer, publicamos na integra e esperamos que leitores brasileiros e os moçambicanos residentes no Brasil, apreciem. Oubí Inaê Kibuko, coordenador de programação do Cineclube Afro Sembene, editor de Cabeças Falantes.


Independência
António Mtabele
N’siripwiti
Maputo, 12 de Junho de 2015

Bem muito importante e sagrado para um povo que quer ser Nação.
Os moçambicanos sempre quiseram secularmente ter País e transformá-lo em Nação.
No calendário gregoriano decorria o mês de Junho, dia 25, do ano de 1975.
No calendário de Moçambique está escrito mês da Liberdade!
Naquela noite até a chuva nos cumprimentou, ela que sempre testemunhou a nossa secular vontade, expressa em lágrimas, de sermos livres.
Começava uma nova luta para este nosso heróico povo, porque unido do Rovuma ao Maputo, tinha acabado de conquistar um dos bens mais preciosos do Homem, a sua liberdade.
Este nosso Povo é gigante porque sua vontade não tem fronteiras, mas porque estava dividido, pensando que macua por não ser nhungwé, nem nyanja não era tão moçambicano como o lomwé, o chope e o changana o eram, facilitou a sua dominação pelos colonos.
Interessava ao nosso colonizador secular que continuássemos a laborar nesta confusão divisionista da qual ela recolhia vantagem reinando sob a nossa teimosa divisão.
E um homem com a dimensão de Moçambique nasceu, há 95 anos, nas matas mandlakhazianas!
Um nacionalista visionário emergiu daquele camponês, oportunamente, nascido.
Cedo experimentou a orfandade paterna.
Pela mão de sua mãe, humilde camponesa, que antevendo o futuro longínquo que por seu filho seria protagonizado, aquele Eduardo Chivambo Mondlane, conheceu as virtudes que o alfabeto escondia dentro de si.
Mondlane, bem colocado na profissão internacional que abraçara lá para as terras do tio Sam, em Nova Iorque, vivia triste.
Se Mondlane não tivesse a dimensão do sofrimento do seu povo teria, comodamente, continuado a progredir na sua brilhante e promissora carreira de alto funcionário das Nações Unidas.
Aprendeu que enquanto os moçambicanos estivessem aprisionados ele jamais seria livre. As iguarias alimentares e espirituais a que tinha acesso por força do trabalho que realizava tinham sabor a fel porque os seus compatriotas sofriam.
Era seu fado libertar os moçambicanos das grilhetas do colonialismo. Trocou o conforto das sumptuosas salas alcatifadas, dotadas de excelente arejamento condicionado para se embrenhar na mata arriscando a sua própria vida para o bem-estar do seu Povo.
E assim Mondlane tudo deixou!
Mondlane, feito Moisés, libertador do Povo Hebreu do cativeiro do Egipto, veio aos seus irmãos juntar-se e com eles – sempre com o timão na mão – fez a longa caminhada rumo à independência nacional.
Até à exaustão ensinou-nos o significado de “Povo Moçambicano”.
Mondlane nos ensinou-nos Povo Moçambicano era apenas Homem. Homem sem evidenciar a cor, credo, tribo, etnia, região, sexo, preconceitos, títulos nobiliárquicos e académicos, brasões, etc.
Quarenta anos já passados, nós moçambicanos, juramos continuar a valorizar o sangue derramado por Mondlane e outros heróis para que esta Pátria continue lutando para ser País desenvolvido em que todo o Povo seja feliz.
Parabéns Moçambique, Pátria de Heróis!

Casmurrice
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 12 de Junho de 2015

Eu sou do Clube Ferroviário de Nampula. Treinei para este clube, sob os ensinamentos de Joaquim Bento Chaveiro, nas classes iniciais, quando, em 1961, por razões escolares me mudei de Muatua para esta cidade.

Importa aqui informar aos mais novos e aos mais antigos como eu, que pelas mãos do Chaveiro, passaram ou devem ter passado directa e indirectamente alguns dos grandes nomes do futebol nampulenses e nacional, como são os casos do Moreira, Amarchande, Absalão, Magaia, Cabral, Rui Évora e muitos outros cujos nomes não me ocorrem de memória e, infelizmente, não figuram na fonte que ora consulto.

Face a este défice de informação sobre a História do Futebol em Moçambique, soa oportuno perguntar quando a Federação Moçambicana de Futebol contratará os serviços de um jovem historiador e de um jornalista desportivo reformado para montar o banco de dados sobre jogadores e o Futebol em geral em Moçambique?

Eu amo, consequentemente, aquele clube da minha segunda terra pelo facto de ter acreditado em mim, ter-me proporcionado a oportunidade de aprender algumas técnicas de bem pontapear a bola, mas, fundamentalmente, porque foi naquela colectividade onde fiz muito boas e grandes amizades.

Uma vez em Lourenço Marques, em razão de prossecução da minha formação académica, duas casas procurei para me complementar física, psicologicamente e na minha fé. Fui ao Clube Ferroviário de Maputo, apresentei-me para jogar futebol nos juniores, dado que já tinha 18 anos. Porque povoado de craques, não consegui titularidade neste clube. Então inscrevi-me nos departamentos de atletismo e ginástica. Sob a “batuta” dos saudosos Daniel Firmino pratiquei atletismo e do Nuno Abranches fiz ginástica aplicada neste clube. Na Igreja Católica Apostólica da Munhuana, encontrei o lugar de recolhimento para com Deus ter a minha conversa dominical e quando podia, durante a semana, ia a Santa Missa vespertina.

Portanto, os meus considerandos subsequentes não se prendem com pruridos clubistas. A questão é que nas minhas veias corre também sangue desportista. O meu clube, já o disse, é o Ferroviário de Nampula e amo todos os seus irmãos congéneres de outras províncias. E sou, visceralmente, tão ferroviário, que quis o destino que eu me casasse com uma das filhas – a mais linda - de um funcionário dos Caminhos de Ferro de Mocuba e ex-jogador do Clube Ferroviário daquela Cidade Zambeziana.

… E o meu Barcelona do Lionel Messi conquistou o seu Quinto Título da Liga dos Campeões Europeus em Futebol. Parabéns para este Clube que, este ano, guardou nas suas vitrinas a Taça da Liga Espanhola de Futebol, a Taça do Rei em Futebol. Os sucessos do Barcelona, por isso gosto dele, são fruto da boa gestão vivida e implementada por todos e em todos os capítulos da vida daquela colectividade clubista.

Mas parece que o mesmo já não sucede com o Sport Lisboa e Benfica, clube com o qual simpatizo por nele Eusébio e Coluna terem brilhado. Com efeito, numa atitude difícil de ser entendida esta colectividade desportiva não conseguiu manter o seu bem-sucedido treinador Jorge Jesus. Entretanto, preferiu pagar pesada indeminização pela rescisão do contrato do seu novo timoneiro ao clube ao qual este estava vinculado. Casmurrice dos gestores do clube lisboeta? Sim! Não! Talvez!

Enfim, são absurdos da próspera indústria do futebol, que é a única actividade que, aparentemente, ainda não se ressentiu da crise económica e financeira que sacode o Mundo desde 2008. E acredito que esse escândalo que ora abala a FIFA – Fédération Internationale de Football Association – não provocará feridas no futebol como indústria de entretenimento de massas, envolvendo vultuosas massas financeiras.

E entre muros nacionais parece que, por falta de uma clara e pouco confusa política de gestão do nosso futebol se pretende linchar publicamente a carreira profissional de João Chissano como seleccionador nacional dos Mambas. Ele, para quem tenta entender de gestão de futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e longo prazos. Enquanto ele continuar a apostar nas camadas mais jovens e esta sua atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, Moçambique voltará a fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado na arena internacional.

Paliativo
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 17 de Junho de 2015

Aparece-me um furúnculo purulento numa região do corpo. O médico, sem me submeter a análises clínicas para conhecer a origem do mal, receita-me uma pomada de uso tópico. O meu padecimento, obviamente, não passa.

As análises clínicas comprovam que as minhas dores de cabeça são devidas a um ataque de malária. O responsável da unidade hospitalar à qual fui pedir socorro receita-me somente aspirina. O resultado esperado, seguramente, não surge. A doença continua e evolui para níveis de grande perigosidade.

Os exemplos seriam infinitos. Não é objectivo desta reflexão exauri-los. Os resultados perspectivados não acontecem quando as medidas curativas não são as recomendadas no figurino.

A uma ferida em gangrena aplica-se-lhe o cauterizante na sua causa e nunca no seu efeito.

Graves problemas devem ser resolvidos com soluções eficazes, definitivas, num horizonte temporal a tender para o longo prazo.

Se não temos capacidade de diagnosticar, em ciência, a causa de um grave problema a atitude mais prudente é não inventar soluções empíricas. Algumas vezes é pior a emenda que o soneto.

A minha vetusta idade já não me autoriza ir à ribalta pública e esgrimir polémicas sobre assuntos alheios.

Mas o nosso desporto, o futebol, os MAMBAS, não são problemas alheios. São problemas nacionais. São problemas de todo o Povo moçambicano. De todo o Povo moçambicano porque engloba aqueles que gostam do futebol e que mesmo não sendo adeptos deste desporto, uma parte dos seus impostos é consagrada ao financiamento desta modalidade desportiva.

Portanto, sinto-me com, pelo menos, direito moral para emitir a minha opinião sobre a recente demissão de João Chissano do ingrato cargo de Seleccionador Nacional de Futebol os MAMBAS. Mas vou desde já adiantando que foi asneira grossa interromper-se, prematura ou precocemente, a carreira profissional de tão jovem e promissor Seleccionador Nacional.

Para o Povo Unido, independentemente, da sua cor político-partidária, do seu credo religioso, da sua tribo, da aldeia de onde é proveniente, do seu sexo e de outras características próprias de cada concidadão, o seleccionador nacional dos MAMBAS é algo que muito lhe pertence.

Ressalvados os exageros da comparação, o Seleccionador Nacional do MAMBAS é uma personalidade que, em termos de poder aglutinador do Povo, tem tanto ou mesmo que o Presidente da República. Este último é eleito por uma maioria qualificada. O Seleccionador Nacional dos MAMBAS é indicado pela Federação Moçambicana de Futebol, para, em nome de todo o Povo Unido do Rovuma ao Maputo, desempenhar aquele nobre cargo. Dirigir a equipa de futebol de todos os moçambicanos.

A camisete dos MAMBAS é única que qualquer moçambicano, independentemente de ter ou não Partido Político, religião ou outra característica que o torna “sui generis”, a usa sem quaisquer pruridos ou preconceitos.

Num passado recente, por causa do bom trabalho dos MAMBAS, que resultou num golo favorável a Moçambique, já vimos Presidentes de partidos políticos arqui-adversários abraçarem-se efusiva e despreconceituosamente em pleno Estádio da Machava.

Vale isto dizer que não é sem juros elevados pagos por todo o País despedir-se, em pleno campo de jogos, um Seleccionador Nacional do Gabarito de João Chissano, que tantas glórias e alegrias já trouxe ao nosso Povo durante o seu consulado.

Com grande efeito de placebo (medicamento que intruja psicologicamente o doente e este sente-se temporariamente curado da doença) a medida tomada de se correr com João Chissano é meramente paliativa. Não é com medidas de jaez paliativo como esta ora adoptada de se expulsar o nosso Seleccionador Nacional dos MAMBAS que a grave doença que mata, paulatinamente, o nosso futebol vai ficar curada a médio e longo prazos e de modo irreversível.

Os nossos dirigentes governamentais e das federações de todas as modalidades desportivas – com os pais e os encarregados de educação inclusos – deverão ter a coragem de parar de concretizar estas nossas habituais tendências de pretendermos fazer tudo por campanha, incluindo a gestão do desporto em geral e do futebol em particular.

O jogador que fará dos MAMBAS uma equipa de referência em Moçambique ainda é, neste momento, criança da pré-escola. Esta criança tem que aprender a correr em casa, depois na escolinha e escola primária, secundária, média e superior e só depois nos diferentes escalões etários dos clubes para mais tarde brilhar na selecção nacional.

Por falta de uma clara e delineada política de gestão do nosso futebol, “linchou-se” injusta e publicamente o seleccionador nacional dos Mambas, João Chissano. Este técnico de grande gabarito nacional e internacional, para além de entender de gestão de futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e longo prazos, pois enquanto continuar a apostar nas camadas mais jovens e se esta atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, creio que Moçambique voltará a fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado e merece na arena internacional.

Não é, portanto, com medidas paliativas e para “inglês ver” como esta que foi adoptada pela Federação Moçambicana de Futebol que passaremos a ter bom futebol e melhor desporto em Moçambique.

Tenhamos paciência! Já basta de tentarmos fazer tudo por campanha. O camponês semeia e fica, pacientemente, a espera do milho.    

Função Pública
António Matabele  
...a margem do Rio Pitamacanha.
Moatize, 24 de Junho de 2015

O mundo celebrou ontem, 23 de Junho de 2015, o Dia Internacional da Função Pública.

A data foi deliberada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para se fazer a exaltação da abnegação, dos valores defendidos e dos esforços feitos pelos servidores dos Estados e Governos ao serviço dos Povos pelo Mundo.

Quis assim a ONU que aquele cidadão anónimo de todo o mundo, que sua vida sacrifica para que o Povo humilde receba com a qualidade e a tempestividade esperadas os serviços providenciados pelo Estado, se sentisse valorizado.

Sem pompa, mas com a circunstância merecida, em Moçambique, as cerimónias centrais desta efeméride internacional alusiva ao servidor público, tiveram o seu epicentro na Cidade de Inhambane, e foram presididas pela “servidora mor” do Ministério que também tutela a Função Pública, Sua Excelência a Drª. Carmelita Rita Namaschilua.

A tónica das celebrações em Moçambique, concentraram-se na valorização da Pessoa que serve e é servida. Para a materialização deste objectivo de importância capital foram realizadas acções de formação e informação do servidor e os seus clientes, que é o público em geral. Houve entrevistas, palestras, seminários, debates, actividades culturais, desportivas, culinárias e lúdicas de índole diversa nas quais os funcionários do Estado e as populações interagiram. Antigos ministros e actuais desta área foram convidados a apresentarem os seus pontos de vista sobre os desafios vividos pela Função Púbica. A juventude, a mulher, a universidade, o operário não foram, desta vez, infelizmente, convidados a dar o seu, talvez muito válido, contributo e a sua visão sobre esta problemática.

Esta muito saudada aproximação entre os funcionários públicos e as populações caracterizou-se pelo facto de os primeiros, num gesto de humilde grandeza e vontade de aprender, se terem exposto à mercê do crivo censor e didáctico do saber e experiência populares.

Moçambique, uma das Nações potencialmente mais ricas do mundo em termos de população maioritariamente jovem, terra arável abundante e bastante fértil e possuidora de recursos naturais variados de grande valor comercial e industrial, com 25 Milhões de Habitantes, possui apenas 296.856 Funcionários e Agentes do Estado, dos quais 184.891 são homens e 111.695 mulheres.

A gestão desta força de trabalho do aparelho do Estado é, em teoria, feita de forma dinâmica. Figura na Lei competente que ao servidor público é oferecida pelo Estado uma perspectiva de carreira técnico profissional e que esta é do seu prévio conhecimento. Para sua progressão objectiva, o servidor do Estado está contemplado por uma avaliação periódica, cujos parâmetros e critérios deveriam ser, também, do seu prévio conhecimento.

No período em análise, que preenche uma parte dos 40 anos da nossa independência nacional houve promoções, progressões e mudança de carreira beneficiando um universo de 45.000 servidores. Houve 13.076 promoções por bom desempenho, 3.700 promoções por concurso e 15.550 mudanças de carreira.

Com aquele número de Funcionários e Agentes do Estado (296.856) o "ratio" entre eles e os seus clientes, que é a população moçambicana, é desvantajoso em termos de cobertura "per capita" de servidores do Estado ao Povo. Há uma fracção enorme da Procura/Demanda (D) por serviços públicos que a Oferta/Supply (S) ainda não está capaz de satisfazer. Com efeito, somente 1,19% da nossa população trabalha como Funcionários e Agentes do Estado, significando, estatisticamente, que cada um tem que atender 85 Mil Pessoas.

Para a remuneração destes Funcionários e Agentes do Estado somas significativas do Orçamento Geral do Estado (OGE) são consagradas para a rubrica salários, perfazendo uma parte significativa do PIB (Produto Interno Bruto).

Investidor
António Matabele  
N’siripwiti
Moatize, 26 de Junho de 2015

Ontem, 25 de Junho de 2015, Moçambique, em Paz, cansado de guerra e só querendo desenvolvimento endógeno e irreversível, celebrou os 40 anos da sua Independência.

Foram anos de muita luta, coragem, esperança, lágrimas e alegrias. O Povo, buscando forças das profundezas do impossível, saiu ganhador. Com esta sua intrépida e estóica determinação levará Moçambique para os píncaros do progresso sonhado, em 1962, quando o movimento libertário da Pátria e dos Homens foi, com sucesso, iniciado.

A nossa Constituição determina que a Agricultura é a base do nosso desenvolvimento.

Oitenta por cento dos 25 Milhões de Habitantes da nossa população vive no meio rural fazendo agricultura de subsistência e outra para obtenção de rendimento.

Pela sua expressão numérica, o agricultor é o maior investidor em Moçambique. Todos os anos, nas campanhas agrícolas, o agricultor investe a quase totalidade dos seus recursos financeiros, económicos e patrimoniais, bem como o seu esforço físico e intelectual para fazer a sua machamba, que é o seu investimento sazonal por excelência. Nesta perspectiva, o agricultor rural indígena é o único investidor que consagra a totalidade do seu património no financiamento do seu empreendimento todos os anos. Sem paternalismos, urge que esta sua condição seja cuidadosamente estudada para evitarmos que o agricultor, durante todo o seu período de trabalho activo, trabalhe para o seu continuo, paulatino e irreversível empobrecimento. Com efeito, porque o agricultor todos os anos tudo investe na sua machamba, tudo perde nela quando no fim da campanha ou do ano agrícola vê o seu esforço perdido por uma miríade de razões a ele estranhas.

Face ao actual rosário de aparente descrença em relação ao papel desempenhado pelo agricultor, em sua qualidade de investidor integral (porque investe 100% dos seus recursos próprios todos os anos na sua machamba), quase que dá vontade de afirmar que o único agente económico que acredita que é possível desenvolver o País apostando forte na agricultura é o agricultor sozinho e mais ninguém.

Investidor, por definição muito simplificada, é aquela pessoa, singular ou colectiva, que usa as suas poupanças próprias e alheias, se necessário, para concretizar um empreendimento, normalmente, gerador de rendimento financeiro ou económico.

Para desenvolver o país, o Governo de Moçambique desenvolve políticas e iniciativas legais para incentivar a concretização de investimentos na economia.

As estatísticas oficiais comprovam que o investimento tem aumentado, graças aos incentivos atribuídos aos seus mentores e também porque o ambiente de paz que o País tem estado a viver tem propiciado esta apetência do investidor para com Moçambique.

Todavia, existe uma aparente contradição que reside no facto de o País – por força das suas condições naturais e por imperativo constitucional – ser agrícola por excelência, mas a nossa prática econômica não se traduzir na materialização deste comando da nossa Lei fundamental. E nesta sua condição de País vocacionado a ser naturalmente agrícola há um investidor individual ou familiar, nativo e indígena que é o agricultor rural ou camponês.

É um imperativo determinante do nosso desenvolvimento que o Estado e Governo de Moçambique reformulem o paradigma de apoio a este investidor nacional maioritário que é o camponês, ou agricultor rural.

O novo paradigma de apoio ao investidor agricultor rural passa pela realização de investimentos na área da sua capacitação técnico profissional e até educação convencional para adultos. Mas isto pressupõe paciência, planificação num horizonte de médio e longo prazos e nunca por campanhas de efémeros resultados.

Investir a montante e a jusante do investidor camponês poderá significar capacitá-lo técnica e profissionalmente, municiá-los de conhecimentos fundamentais de pedologia, do uso do sistema de rega, ensiná-lo a usar insumos agrícolas, adestrá-los em matéria de recurso ao crédito, revolucionar as garantias que lhe são exigidas pelos bancos, ensinar-lhe a desenhar os rudimentos de um projecto bancável, fazer o acompanhamento do processo de implementação do empreendimento do camponês (a sua campanha agrícola anual), melhorar as condições de transitabilidade das picadas dirigidas à sua machamba, melhorar os silos e os armazéns de produtos da sua colheita, organizar mercados nos quais a comercialização flua sem constrangimentos, conceder, quando necessário e devidamente estudados, incentivos de subvenção para que a venda dos seus produtos cubram a maior percentagem possível dos custos da sua produção e ele tenha, anualmente, por via deste artificio “paternalista” do Estado, “cash flow” não negativos, etc.

Assim agindo, o Estado de Moçambique, fazendo uso do seu “poder de império”, evitará que 80% da sua população empobreça todos os anos na medida em que enterra, sem vantagens, as suas parcas poupanças em machambas mal sucedidas.

Estudemos, “mudando o que houver a mudar”, as nossas boas experiências de um passado recente da nossa história, em que, por exemplo, no ex-BPD (Banco Popular de Desenvolvimento), mediante a utilização do trabalho de para-técnicos rurais, aquela instituição bancária, vocacionada a promover o desenvolvimento nacional e o rural em particular, ensinava o agricultor a ser um pequeno, mas bem-sucedido investidor. O retorno do crédito concedido naquelas condições seguras ao agricultor pelo ex-BPD rondava a casa dos 90%. E era visivel a sua lenta mas paulatina evolução, todos os anos, de tal maneira que 1981, ficou registado como o melhor ano agrícola de Moçambique no pós-independência, graças também ao ambiente de investimento favorável criado a favor do agricultor rural pelo Governo e seu braço financiador do investidor rural (o camponês), que era o ex-BPD.

Em resumo, temos que, a nível nacional, nos capacitarmos política e psicologicamente para vermos no agricultor o primeiro e o principal investidor do nosso País, quer pela sua expressão numérica, quer pelo que a sua produção representa para a formação do PIB – Produto Interno Bruto. E se assim procedermos, não estaremos inventando nada, nem tão pouco cometendo alguma heresia político-económica fora dos cânones estabelecidos, porque apenas estaremos agindo como determina a nossa Constituição: “a agricultura é a base do nosso desenvolvimento”.

Outra fatia substancial do OGE é consagrada ao desenvolvimento da Pessoa do Funcionário e Agente do Estado, através da sua inscrição em acções de formação no local e trabalho e fora dele, no País e no exterior. 

Para terminar esta reflexão, que fica prejudicada pelo espartilho limitativo de uma coluna de jornal, seria tamanha injustiça se, humildemente, não me curvasse para saudar o esforço militante, abnegado de verdadeiro e sério sacerdócio concretizado pela maioria dos Funcionários e Agentes do Estado para entregarem ao Povo um serviço de grande qualidade em tempo recorde.

Porém, seria cinismo imperdoável da minha parte se, acobardado no pretexto da limitação de espaço, deste humilde areópago da minha coluna, não lançasse a minha crítica àqueles, felizmente poucos Funcionários e Agentes do Estado, que padecem de sede crónica e passam a vida a molestar e a extorquir os parcos recursos do Povo pedindo-lhes refresco para dessedentarem as suas insaciáveis e eternamente ressequidas gargantas.

Urge que todo o povo "terça suas armas" e combata, sem tréguas, a esta minoria que, infelizmente, tem representantes desde o escalão de funcionários seniores aos mais juniores e cuja acção perniciosa, qual cancro em metástase acelerada, matará a Nação Moçambicana no limiar da sua juventude de 40 anos amanhã, 25 de Junho de 2015, condignamente celebrados.



  

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Missão Paz acolhe os Migrantes, Imigrantes e Refugiados

A Missão Paz acolhe os Migrantes, Imigrantes e Refugiados, entendendo suas histórias, respeitando suas identidades e celebrando, com alegria, a interculturalidade presente no encontro entre as diversidades.

A Missão Paz é um trabalho desenvolvido pelos Missionários Scalabrinianos e seus/suas colaboradores/as em São Paulo, sob o carisma de acolher, entender, integrar e celebrar a vida dos imigrantes e refugiados, sonhando com a cidadania universal.​

Quem somos: nossa razão de existir
​A Missão Paz​ é uma obra dos Missionários de São Carlos - Scalabrinianos. Com larga vivência junto aos migrantes, imigrantes e refugiados, vamos muito além do assistencialismo. Por isso, queremos que conheça mais sobre o conceito de Serviço Social aplicado na nossa Missão.

​Nossa equipe se dedica para viabilizar a construção de um mundo mais solidário e justo, fomentando a igualdade de direitos de todos os homens e todas as mulheres, independente da etnia, crença e cultura dos mesmos. Ela atua através do carisma Scalabriniano, colocando-se a serviço de todos os que migram, com uma presença acolhedora, mediadora, de comunhão e compaixão.

A Missão Paz é um trabalho desenvolvido pelos Missionários Scalabrinianos e seus/suas colaboradores/as em São Paulo, sob o carisma de acolher, entender, integrar e celebrar a vida dos imigrantes e refugiados, sonhando com a cidadania universal.​

Nossa Missão
Acolher os migrantes, os imigrantes e os refugiados, entendendo a história, respeitando a identidade, visando a integração e o protagonismo de cada um deles no novo contexto social, fortalecidos pela riqueza do encontro intercultural e unidos em torno da construção da cidadania universal.

Nossa Visão
Participar na construção de um mundo mais solidário e justo, fomentando a igualdade de direitos de todos os homens e todas as mulheres, independente da etnia, crença e cultura dos mesmos. Atuar através do carisma Scalabriniano, colocando-nos a serviço dos migrantes, fazendo-nos presença acolhedora, mediadora, de comunhão e compaixão.

A Missão oferece servoços através do Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (resultante da fusão entre o Centro Pastoral dos Migrantes – CPM e o Programa de Mediação) assentado em cinco eixos: trabalho, jurídico/regularização, saúde, comunidade/família e educação.

Convivência e Atividades Culturais

A casa tem vaga para 110 pessoas - 85 homens e 25 mulheres. Ao longo do ano são promovidas festas que servem de estímulo para a convivência e o intercâmbio cultural.​ Dentre as atividades culturais podemos destacar a projeção de filmes e desenhos infantis para as crianças, bem como as oficinas de artes (que iniciaram em 2013). As comemorações tradicionais na Casa do Migrante acontecem por ocasião da Páscoa, Festa Junina, Natal e do Ano Novo.​ Também são ministradas aulas de português para os imigrantes e refugiados(as) residentes.

Cursos
Seu objetivo é tornar possível e acessível aos imigrante as ferramentas necessárias para uma melhor colocação no mercado de trabalho brasileiro. Todos os anos são feitas diversas parcerias com escolas em toda a região metropolitana de São Paulo.

Comunidade e Família
A equipe deste eixo trabalha junto às famílias de imigrantes/refugiados, visitando-as nas suas casas, acompanhando seus casos, criando sinergia com a rede de atendimento municipal e estadual.

Documentação
É um serviço de apoio completo para que os/as imigrantes e refugiados/as possam tramitar o processo de regularização da sua situação no Brasil junto à Polícia Federal e demais órgãos competentes

Saúde
Tem como foco principal o acompanhamento da saúde física e psíquica dos imigrantes e refugiados/as, por meio do atendimento ou encaminhamento e orientação sobre o acesso e fluxo do Sistema Único de Saúde.

Eixo Trabalho
Tem como função ajudar os imigrantes em seu objetivo primário ao chegar no país: conseguir um emprego. O trabalho é fonte de independência e dignidade, portanto o auxílio nessa jornada se torna essencial àqueles que acabaram de chegar.

Jurídico
O Departamento Jurídico, além de atender os imigrantes pessoalmente em assuntos privados, dedicando-se à incidência política, fazendo valer os direitos dos imigrantes/refugiados no Brasil.

Educação
Atua auxiliando os imigrantes a inscreverem seus filhos em instituições de ensino, e promovendo a educação continuada dos pais. Também organiza diversas atividades culturais, ao memso tempo que sensibiliza alunos brasileiros aos imigrantes.

Casa do Migrante
A Casa do Migrante tem como principal objetivo fazer com que os acolhidos se sintam bem, se relacionando com o ambiente como se fosse sua própria casa. A equipe que trabalha na Casa fomenta a liberdade, responsabilidade e solidariedade num ambiente fraterno e solidário.

Os serviços de acolhida ao Migrante dos Scalabrinianos começaram em 1978, durante a década de maior deslocamento das pessoas do campo para as cidades. Surgiu como contrapartida à política migratória adotada no Estado de São Paulo, no momento em que a sociedade local passou a ver os migrantes como um problema. Os serviços de acolhida somaram-se a uma série de atividades que já eram desenvolvidas no âmbito da Missão Paz, visando a inserção dos migrantes, com destaque para a realização de cursos profissionalizantes.​​

No início, a Casa do Migrante (CdM) atendeu na sua grande maioria a migrantes internos (cerca de 95%), mas também atendia imigrantes e refugiados. Em 1978 recebeu vários refugiados vietnamitas, e após 1988 novos rostos foram chegando. Hoje 90% dos acolhidos são imigrantes e/ou solicitantes de refúgio.

Contato: Tel. 11 3340-6950
m.araujo@missaonspaz.org

Estrutura e Equipe 
A Casa do Migrante oferece os seguintes serviços/atividades/facilidades:​
Possibilidade de permanência na Casa de acordo com as necessidades de cada pessoa.​
Alojamento completo em dormitórios separados em duas alas: feminina e masculina.
Café da manhã, almoço e jantar.
Lavanderia para lavagem da roupa.
Bagageiro para guarda dos pertences pessoais.
Duas salas de TV e reuniões.
Atendimento religioso aos que solicitam
Atendimento emergencial de primeiros socorros.
Distribuição de roupas.
Utilização do endereço da Casa para receber correspondências.
Atividades de lazer, palestras formativas, atividades com psicóloga
Possibilidade de permanecer na Casa aos domingos e feriados.
Comemoração de datas especiais.
Encaminhamento para cursos profissionalizantes.
Orientação sobre os serviços que a cidade de São Paulo oferece.
A Casa conta com uma equipe de 13 funcionários e 10 voluntários que se revezam em turnos de trabalho durante os 365 dias do ano.

Quer ajudar a Missão Paz? Existem várias maneiras com as quais você pode colaborar.
Às vezes precisamos de coisas específicas, e postaremos aqui. Você também pode doar dinheiro ou seu tempo como trabalho voluntário. Veja abaixo como pode nos ajudar!

Para doar seu tempo e conhecimento:
Caso queira fazer parte do nosso grupo de voluntários, mande um e-mail com suas motivações, disponibilidade e currículo para voluntariado@missaonspaz.org

Para doações materiais:
Entre em contato conosco através de nosso e-mail, contato@missaonspaz.org, ou telefone, 3340-6950, para organizar a entrega.

Para doações monetárias:
Banco Bradesco
Agência 0515 - Conta Corrente 037060-6
Mitra Arquidiocesana de São Paulo
CNPJ: 63.089.825/0232-76
Agradecemos de coração pela generosidade e doação de vocês!
Caso queira se identificar, escreva para comunica@missaonspaz.org

Missão Paz
Rua Glicério, 225 - Liberdade 
Próximo ao Terminal Parque Dom Pedro II, sentido Radial Leste.
São Paulo/SP - 01514-000
(11) 3340-6950
Fonte: Portal Missão Paz