sábado, 25 de julho de 2015

Três Crônicas de Antonio Matabele diretas de Mozambique


Rotina
Maputo, 31 de Julho de 2015

Não é costume a dona de casa atrasar o almoço! O normal é ela tê-lo pronto antes de a família chegar. Aliás, quase sempre, é esta que se atrasa a chegar para almoçar.

Esta pontualidade tempestiva da mulher na observância da hora da conclusão do almoço não sucede por mero acaso. A mulher cumpre as rotinas domésticas. Ela não anda improvisando nada ao longo da manhã. As tarefas de casa programadas na sua cabeça são concretizadas em sequência costumeira, quotidianamente, de A a Z.

A mulher tem inúmeras tarefas a concretizar com excelente qualidade desde o nascer do sol até que este se ponha. Tem horas para lavar as crianças, dar-lhes o matabicho, e enquanto estas comem, prepara-lhes o lanche para a escola, depois arruma a casa, lava a loiça e enfim, a mulher desmultiplica-se como se tivesse milhares de mãos para tanta tarefa executar em tão curto espaço de tempo.
A mulher é uma excelente gestora da economia doméstica. Neste espaço ela cuida com esmero a educação, saúde, higiene física e psicológica de toda a família. Ela inventa forças e tempo para ser heroína em matéria de guardiã do património familiar. Por vezes reinventa o episódio bíblico da multiplicação dos peixes, quando do magro salário do marido consegue alimentar e vestir a família todos os trinta dias do mês. 

Aliás, se formos a ver que, etimologicamente, a palavra Economia – Oikos (casa) e Nomos (regras) - que é de origem grega e quer dizer as regras de gestão da casa, não há razão para nos espantarmos deste génio de administração criativa existente na dona de casa. 

O sucesso da mulher está também ligado ao cumprimento escrupuloso da rotina. A mulher é, no bom sentido da palavra, escrava da rotina. Mas rotina disciplinadora, dinâmica e construtiva. A mulher evita agir sem programa. Ela é alérgica à improvisação, como regra geral de viver e estar. Se necessário e para salvar o pior, ela lança mão, excepcionalmente, à improvisação. 

A rotina é o caminho já trilhado ou sabido. É uma prática constante de uso geral. É o hábito salutar de fazer uma coisa sempre do mesmo modo. As modernas fábricas de automóveis aperfeiçoam, tecnologicamente, a rotina de fazer um carro. Não abandonam a rotina. Melhoram-na. Modernizam-na.
Entenda-se por rotina aquela actividade que tem que ser feita sempre da mesma forma e obedecendo a um ritual imutável no espaço geográfico e temporal. Quando o Padre se aparamenta, formalmente, para celebrar a missa e inicia-a sempre da mesma forma com o clássico “em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”, está cumprindo uma rotina que vem dos primórdios da Igreja Cristã. Quando o soldado corneteiro todas as madrugadas dá o toque para acordar os soldados cumpre uma rotina tão antiga como o próprio exército.

Ao longo da História da Humanidade há 3 instituições que não desaparecem e resistem aos vários cataclismos políticos, sociais e até militares porque são obedientes à prática da rotina que as caracterizam. São elas: a família formada por pessoas com os mesmos laços de consanguinidade; a família eclesiástica, ou seja, a Igreja; e a família castrense, isto é, o exército.
Portanto, as famílias consanguíneas, a eclesiástica e a castrense são historicamente sobreviventes aos efeitos erosivos da História, dos Homens e da Natureza porque se alicerçam também na rotina.
Mas não assumamos a rotina na sua acepção conservadora, reaccionária e refractária ao progresso dialéctico e materialista da roda da História que nunca anda para a retaguarda, tal como a corrente de um rio jamais molha o mesmo lugar duas vezes.

Queremos referir-nos à rotina que é propulsora de avanços porque se baseia na disciplina dinâmica, organizada e que coloca os processos em carris seguros.

Ora, mudando o que houver a mudar, os Governos de todo o mundo deveriam inspirar-se nas mulheres donas de casa – que gozam do condão de, raramente, atrasarem o almoço - para que cumpram durante a vigência do seu mandato, todas as promessas eleitorais feitas e que mobilizaram o povo a votar neles.

Oferta
Maputo, 10 de Julho de 2015

Numa das primeiras aulas de Economia na Faculdade do mesmo nome na então Universidade de Lourenço Marques, em 1972, o Professor Doutor Manuel Vaz, com acentuados traços somáticos e pronúncia de saloio minhoto, mas exímio economista, homem dotado de excelsos dotes pedagógicos, contou-nos que na sua terra natal, havia dois vizinhos muito amigos. Um tinha a sua casa ricamente mobilada, possuía gado bovino, caprino, suíno e equino, machambas de vários produtos e a sua dispensa estava sempre bem aprovisionada de víveres alimentícios para um ano de reserva. O outro, tinha pouco património e padecia de inúmeras carências para satisfazer as suas necessidades básicas, passava a vida a pedir emprestado dinheiro e os seus filhos não trabalhavam.

Ambos os amigos decidiram viajar por longo tempo. Colocou-se-lhes, entretanto, o problema de levarem consigo o seu património, dado que seria arriscado deixarem-no abandonado. Como solução prática acordaram inventar um meio de, comodamente, transportarem o seu património nas suas algibeiras. Mas como é que, por mais minúsculos que fossem todos os itens que constituíam os respectivos patrimónios, poderiam caber numa algibeira? 

Então inventaram um objecto, comodamente transportável, cujo valor intrínseco representasse o universo dos respectivos patrimónios. Convencionaram cada um criar uma moeda cujo valor fosse igual ao respectivo património. Assim, partiram sossegados porque cada levava consigo no bolso todo o seu património.

No fim o nosso professor perguntou-nos: Acham que as moedas de cada um dos amigos tinham valores idênticos? Acham que o poder de compra de cada uma delas era o mesmo? Acham que quando chegassem aos seus destinos, ambos teriam o mesmo poder de trocar as suas moedas com as dos locais visitados?

A nossa resposta foi que a moeda representativa do património do primeiro vizinho era mais forte porque ela representava e tinha dentro de si mais riqueza, mais bens, em suma, mais valor intrínseco. Enquanto a outra era fraca porque dentro de si havia pouco património de baixo valor global.

Afinal o que torna uma moeda forte ou fraca é a quantidade de património que ela representa. Por património queremos, de forma simples, sumarizar a quantidade de produtos e serviços existentes numa economia durante determinado período de tempo. Se assim quisermos poderíamos dizer que é a quantidade da Oferta (S) disponível no País num determinado período de tempo, normalmente, um ano. 

Por isso, nunca será somente por medidas de índole meramente macro-económicas ou administrativas do Governo que o valor da moeda aumenta.

A via privilegiada de fazer aumentar o valor da moeda é apostando, através da adopção, pelo Governo, de políticas e medidas macro-económicas e administrativas que, uma vez aplicadas no terreno pelos agentes económicos, se traduzam no aumento da Oferta Global Nacional. Se a dispensa nacional estiver desprovida de bens a moeda enfraquecerá! Se a produção nacional de bens e serviços não aumentar o valor da moeda cai! Se o nosso País continuar a importar mais do que exporta, o nosso Metical desvaloriza! Se a força produtiva principal do nosso País – o Homem - continuar desaproveitada (padecendo de índices elevados de desemprego), não dando, consequentemente, o seu contributo válido para o aumento da produção, a nossa moeda perderá o seu valor intrínseco! Se nós passarmos a vida a pedir emprestado dinheiro aos vizinhos, acima da nossa real capacidade de endividamento, para nos abastecermos de coisas não imediatamente geradoras de produtos e serviços que aumentem a oferta global nacional, a nossa moeda cai!

Sem pretender avançar um veredicto conclusivo, atrevo-me a sugerir que, a par da continuação da adopção das medidas macro-económicas e administrativas em curso, aumentemos a nossa produtividade e, consequentemente, a nossa produção para que a nossa Oferta Global Nacional também aumente de maneira a satisfazermos a Procura Global (Consumo Interno e Exportação), e, deste modo, veremos como o nosso Metical ficará, tendencialmente, mais forte, apesar da tão propalada crise económica e financeira internacional, que grassa o nosso mundo cada vez mais globalizado desde 2008. 

Priorização
Maputo, 08 de Julho de 2015

Em 1978, o mui confuso e desorganizado, mas inteligente, Professor Doutor Luís Mota de Castro, ensinou-nos na Disciplina de Investigação Operacional, na Faculdade de Economia da Universidade Eduardo Mondlane, que para construirmos um avião por um lado, obviamente, teríamos que começar. Teríamos que, ante a multiplicidade de possíveis caminhos, privilegiar um como sendo o primeiro. Tentar fazer tudo em simultâneo não é acto sensato nem de boa sabedoria. É virtuoso sabermos se começamos a construir o avião pela roda ou pela asa. Nunca deveríamos tentar iniciar a sua construção pegando simultaneamente em todas as inúmeras partes componentes de uma aeronave.

Assim ele aconselhava-nos, prudencialmente, a fazermos um PERT-CPM (Program Evaluationand Review Technique – Critical Path Method), mediante o qual deveríamos definir, com a maior objectividade e exactidão possível, as prioridades decisivas para o começo da implementação da sua construção organizada e planificada, sem gerar desperdícios humanos, de material nem tão pouco de tempo, por se tratarem de uma trindade de recursos escassos, caros e não renováveis.

O PERT, tecnicamente, é o cálculo a partir da média ponderada de 3 durações possíveis de uma actividade (optimista, mais provável e pessimista). CPM, é um método de apuração do caminho crítico, dada uma sequência de actividades. Isto é, quais as actividades de uma sequência que não podem sofrer alteração de duração sem que isso reflicta na duração total de um projecto. Desta maneira, classificando-os em função do tratamento, a rede PERT é probabilística e o CPM é determinístico.
Mudando o que houver a mudar, poderíamos forçar a semelhança do nosso País a um avião que precisa de levantar, com segurança e depressa, o voo rumo ao desenvolvimento económico e social e que durante o seu trajecto, em velocidade cruzeiro, eliminará, paulatinamente, a pobreza.

Moçambique – ante tantos e complicados desafios que terá que resolver – obriga-nos, a todos nós, em geral, e aos nossos mandatários, em especial – o Estado e o seu braço executivo, o Governo – a termos que definir prioridades dentro da vasta panóplia de assuntos prioritários que temos que equacionar e implementar exitosamente, porque o Povo, que é o nosso único patrão e “até do Presidente da República” já não pode esperar por mais tempo sofrendo dos padecimentos causados pelo subdesenvolvimento na sua qualidade de vida.

A terra, com os seus incomensuráveis recursos, é de todos nós e temos o direito de, mediante o seu equitativo usufruto, sermos felizes.

Ao compulsarmos com o cuidado que o documento requer, o discurso de tomada de posse de Sua Excelência o Presidente da República, proferido à Nação a 15 de Janeiro de 2015 e cruzando-o com o conteúdo do Programa Quinquenal do Governo (PQG) e do Plano Económico e Social (PES), constatamos que tudo é importante fazer muito bem e depressa para que Moçambique se liberte das grilhetas do subdesenvolvimento.

No rol da quase interminável lista do que teremos que realizar, soa-me oportuno priorizar aquelas actividades cujo impacto imediato se traduzam na melhoria da qualidade de vida do Homem, da Pessoa de Moçambique.

Assim sendo, numa tentativa de elencar as actividades mais importantes a serem, urgentemente, priorizadas pontuam as seguintes: a) água – potável para o Homem e em condições óptimas para as actividades pecuária, agricultura, indústria, etc; b) comida – as pessoas precisam de comer alimentos provenientes da vasta terra arável de que Moçambique, País agrário, por excelência, dispõe; c) educação –um povo educado sabe defender a sua soberania e educação de qualidade facultada ao Povo é património que ninguém nos roubará e permitir-nos-á levar de vencida muitos outros desafios; d) saúde – através de uma cobertura nacional eficaz de unidades sanitárias profilácticas, privilegiando a medicina preventiva, deveremos fazer o controle da incidência das doenças endémicas perenes que, normalmente, enfraquecem o povo e os cofres do Estado, que é obrigado a comprar medicamentos, alguns deles de efeitos paliativos dada a gravidade das enfermidades, quando apenas se cuida da medicina curativa, mais cara e, nem sempre, eficaz; d) vias de comunicação - as estradas terciárias, ou vicinais, ou as picadas facilitarão a circulação de pessoas e bens durante todo o ano; e) comercialização – as comunicações e as estradas, os silos rurais e os armazéns distritais, as lojas, as cooperativas de comercialização, as cantinas e até barracas devem estar em condições de o Povo comercializar os seus produtos de modo organizado durante todo o ano; f) energia – o nosso país tem condições naturais para fornecer energia limpa, amiga do ambiente e renovável ao Povo durante todo o ano e assim pouparíamos uma grande percentagem da nossa floresta, que é eliminada para busca de combustível lenhoso para aquecimento e confecção de alimentos e, por outro lado, uma boa parte nocturna das 24 horas do dia passarão a ser aproveitadas para a realização de muitas actividades de rendimento; g) habitação condigna – viver em condições mínimas de higiene e conforto é um dos grandes desafios que levou o Homem a trocar as cavernas jurássicas pela casa dos nossos dias, por isso é importante que melhoremos as condições de habitação do nosso povo.

Com uma aproximada priorização deste jaez, sem “confusionismo” nem atabalhoamento, nem precipitações de cariz eleitoralista, saberemos por onde começar a implementar a nossa luta pelo alcance do nosso desenvolvimento económico e social.
Comecemos pela água!

quinta-feira, 9 de julho de 2015

Cineclube Afro Sembene homenageia o Dia da mulher afro-negra-latina-americana e Caribenha na PUC Consolação


18/julho/2015 - sábado - 19 horas: Fórum África e Cineclube Afro Sembene convidam
SESSÃO ESPECIAL DIA DA MULHER AFRO-NEGRA-LATINA-AMERICANA e CARIBENHA

Mulheres Africanas - a rede invisível (montagem)
Mulheres de Angola (documentário)
Mulheres negras Lélia Gonzales e Thereza Santos (entrevista)

PUC CAMPUS CONSOLAÇÃO
Rua Marquês de Paranaguá nº 111 - sala 20
Travessa Rua da Consolação - próximo ao Mackenzie

Entrada franca. Pede-se a colaboração voluntária de 1 kilo de alimento não perecível. 
Ou roupas, calçados, cadernos, livros, jornais, revistas, material de higiene e limpeza. 
Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que atende estrangeiros e africanos.

Informações: www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br 
www.forumafricabrasil.ning.com - www.tamboresfalantes.blogspot.com.br 

Coordenação: Vanderli Salatiel, ala afronegra e simpatizantes femininas do Fórum África e Cineclube Afro Sembene.

Realização: Fórum África 
Apoio: Cabeças Falantes, Agenda Guilherme Botelho Jr e Quilombhoje

Cineclube Afro Sembene: Nosso encontro mensal com o cinema africano.