sexta-feira, 20 de abril de 2012

Novelas brasileiras passam imagem de país branco, critica escritora moçambicana

Brasília - "Temos medo do Brasil." Foi com um desabafo inesperado que a romancista moçambicana Paulina Chiziane chamou a atenção do público do seminário A Literatura Africana Contemporânea, que integra a programação da 1ª Bienal do Livro e da Leitura, em Brasília (DF). Ela se referia aos efeitos da presença, em Moçambique, de igrejas e templos brasileiros e de produtos culturais como as telenovelas que transmitem, na opinião dela, uma falsa imagem do país.

"Para nós, moçambicanos, a imagem do Brasil é a de um país branco ou, no máximo, mestiço. O único negro brasileiro bem-sucedido que reconhecemos como tal é o Pelé. Nas telenovelas, que são as responsáveis por definir a imagem que temos do Brasil, só vemos negros como carregadores ou como empregados domésticos. No topo [da representação social] estão os brancos. Esta é a imagem que o Brasil está vendendo ao mundo", criticou a autora, destacando que essas representações contribuem para perpetuar as desigualdades raciais e sociais existentes em seu país.

"De tanto ver nas novelas o branco mandando e o negro varrendo e carregando, o moçambicano passa a ver tal situação como aparentemente normal", sustenta Paulina, apontando para a mesma organização social em seu país. 

A presença de igrejas brasileiras em território moçambicano também tem impactos negativos na cultura do país, na avaliação da escritora. "Quando uma ou várias igrejas chegam e nos dizem que nossa maneira de crer não é correta, que a melhor crença é a que elas trazem, isso significa destruir uma identidade cultural. Não há o respeito às crenças locais. Na cultura africana, um curandeiro é não apenas o médico tradicional, mas também o detentor de parte da história e da cultura popular", destacou Paulina, criticando os governos dos dois países que permitem a intervenção dessas instituições.

Primeira mulher a publicar um livro em Moçambique, Paulina procura fugir de estereótipos em sua obra, principalmente, os que limitam a mulher ao papel de dependente, incapaz de pensar por si só, condicionada a apenas servir.

"Gosto muito dos poetas de meu país, mas nunca encontrei na literatura que os homens escrevem o perfil de uma mulher inteira. É sempre a boca, as pernas, um único aspecto. Nunca a sabedoria infinita que provém das mulheres", disse Paulina, lembrando que, até a colonização européia, cabia às mulheres desempenhar a função narrativa e de transmitir o conhecimento. 

"Antes do colonialismo, a arte e a literatura eram femininas. Cabia às mulheres contar as histórias e, assim, socializar as crianças. Com o sistema colonial e o emprego do sistema de educação imperial, os homens passam a aprender a escrever e a contar as histórias. Por isso mesmo, ainda hoje, em Moçambique, há poucas mulheres escritoras", disse Paulina.

"Mesmo independentes [a partir de 1975], passamos a escrever a partir da educação europeia que havíamos recebido, levando os estereótipos e preconceitos que nos foram transmitidos. A sabedoria africana propriamente dita, a que é conhecida pelas mulheres, continua excluída. Isso para não dizer que mais da metade da população moçambicana não fala português e poucos são os autores que escrevem em outras línguas moçambicanas", disse Paulina.

Durante a bienal, foi relançado o livro Niketche, uma história de poligamia, de autoria da escritora moçambicana.

Por: Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil
Edição: Lílian Beraldo


Cineclube Afro Sembene indica: A Negação do Brasil - o negro na telenovela brasileira, livro e documentário. Vencedor do Festival É Tudo Verdade de 2001, o documentário traz à tona a história das lutas dos atores negros pelo reconhecimento de sua importância na história da telenovela brasileira. O filme é enriquecido ainda mais com depoimentos de atores como Milton Gonçalves, Ruth de Souza, Léa Garcia, Zezé Motta e Maria Ceiça, entre outros, que contam suas experiências e discutem o preconceito contra artistas negros. O diretor Joel Zito Araújo, baseado em suas memórias, e em uma minuciosa investigação, analisa as influências das telenovelas nos processos de identidade étnica dos afro-brasileiros. Junto ao documentário, o autor lançou no mesmo ano (dezembro de 2000) o livro "A Negação do Brasil – o negro na telenovela brasileira" pela Editora Senac. 

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Filhas do Vento no projeto "Brasil – Tela para Todos" do CCBB


Brasil – Tela para Todos

Sobre: Mostra de filmes brasileiros no Centro Cultural Banco do Brasil, sempre de quinta a domingo, às 13 horas.

Este mês: FILHAS DO VENTO (foto), de Joel Zito Araújo.

Sinopse: Cida (Ruth de Souza) e a irmã Jú (Léa Garcia) estão separadas por quase 45 anos. O tempo não conseguiu dissipar o rancor provocado pelo incidente amoroso e familiar que marcou a juventude e a vida das duas. Com a morte do pai, Zé das Bicicletas (Milton Gonçalves), que havia expulsado Cida de casa, as duas voltam a se encontrar. Cida tornou-se uma mulher solitária. Fez carreira de atriz atuando em cinema e em telenovela, mas, apesar do talento, não teve o reconhecimento merecido. Maria D’Ajuda nunca saiu do interior, cuidou do pai até a morte. Parece ter nascido para amar e cuidar dos outros, mas nunca conseguiu desenvolver nenhuma identidade profissional – o inverso da irmã atriz. Casou-se uma vez e depois teve vários filhos de companheiros diferentes. Sua família é uma típica família brasileira do interior, cheia de filhos, sobrinhos, netos e agregados. No entanto, uma de suas filhas, Dorinha (Danielle Ornellas), a que mais admira pela persistência profissional e talento artístico, é a única que despreza o amor da mãe.

O diretor de Filhas do Vento, Joel Zito Araújo foi homenageado pelo CINEPORT 2011. Assista o vídeo. 


Descrição do projeto: Mostra de filmes com títulos brasileiros com curadoria de Maria do Rosário Caetano que pretende dar visibilidade às obras de qualidade que tiveram uma bilheteria abaixo do esperado. O objetivo é criar um espaço durante os 10 meses da mostra para a discussão dos fatores que contribuem para a baixa penetração dos filmes de arte no mercado nacional, bem como despertar a curiosidade do público para estes filmes.

Programação:

01. Dezembro: Antes que o Mundo Acabe, de Ana Luiza Azevedo
02. Janeiro: Feliz Natal, de Selton Mello
03. Fevereiro: Pode Crer!, de Arthur Fontes
04. Março: Canta Maria, de Francisco Ramalho Jr.
05. Abril: Filhas do Vento, de Joel Zito Araújo
06. Maio: O Sol do Meio-Dia, de Eliane Caffé
07. Junho: Deserto Feliz, de Paulo Caldas
08. Julho: Eu me lembro, de Edgard Navarro
09. Agosto: O Homem que Engarrafava Nuvens, de Lírio Ferreira
10. Setembro: No Meu Lugar, de Eduardo Valente

Sempre de Quinta a Domingo, às 13h, no Centro Cultural Banco do Brasil - Rua Álvares Penteado, 112. Ingressos: R$ 4,00 inteira/R$ 2,00 meia

Gênero: Dramas, comédias, juvenis, "black", "cinema de batom", documentário e ficção, com produções de todo o Brasil.

Resumo da trama: O Brasil produz, hoje, em torno de 80 longas-metragens por ano. Um número significativo, mas que gera preocupações e impasses quando chega o momento do filme encontrar seu público. Em média, apenas três ou quatro títulos conseguem êxito nas bilheterias, ultrapassando um milhão de espectadores. Os dados de bilheteria mostram que o cinema brasileiro tem buscado, com grande dificuldade, a produção de filmes de médio porte. Ou seja, aquele que atinja entre 400 mil e 900 mil espectadores. As tabelas com bilheterias da produção nacional mostram, a cada novo ano, que mais de 80% dos filmes brasileiros situam-se abaixo da faixa dos 50 mil espectadores. Nesta faixa estão, na maioria das vezes, os filmes de maior empenho artístico e ousadia temática.

A proposta da mostra Brasil – Tela para Todos é apresentar ao público do CCBB, de forma orgânica, seleção de títulos que, nos últimos anos, enfrentaram dificuldade em dialogar com seu público potencial. Pelas razões mais diversas: espaço rarefeito em um circuito exibidor formatado para o blockbuster estrangeiro (filmes como Harry Potter chegam a ser lançados com 900 cópias, ocupando quase metade das salas), pouca verba para comercialização e ingresso caro. Outro fator importante: o Brasil, país de dimensões continentais e quase 200 milhões de habitantes, dispõe de apenas 2.238 salas comerciais. A maioria concentrada nas grandes capitais. Apenas 8% dos quase seis mil municípios brasileiros dispõem de cinemas. Se buscarmos modelos comparativos latino-americanos, veremos que o México, com 108 milhões de habitantes, dispõe de mais de 4.900 salas, e a Argentina, com 40 milhões de habitantes, oferece a seus espectadores cerca de 1.000 salas de exibição. Na Europa, a França mostra porque continua sendo o centro mundial da cinefilia: com cerca de 63 milhões de habitantes, dispõe de 5.481 salas.


quinta-feira, 5 de abril de 2012

Semana da Africa 2012 na Biblioteca Alceu Amoroso Lima

TEMA GERAL: ÁFRICA: EDUCAÇÃO, CULTURA E DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO AFRICANO.

O Fórum África convida estudantes, professores, pesquisadores e público interessado a participar de um curso de três dias que será realizado nos dias 22, 23 e 24 de maio de 2012 (terça-feira, quarta-feira, e quinta-feira), abordando o tema geral “África: Educação, cultura e desenvolvimento Econômico Africano”.
Este curso terá inscrições prévias com direito a certificado, e será realizado na Biblioteca Alceu Amoroso Lima – Rua Henrique Schaumann, 777, São Paulo - SP. Pretende-se atingir os professores da rede pública e privada, alunos e público em geral.

Três temas serão abordados:
1)A situação Econômica Africana antes e durante a colonização, o legado dos colonizadores.
2) Os desafios Econômicos Contemporâneos e a Manutenção da Identidade Cultural Africana.
3) Educação em África- Educar para desenvolver.
e uma sessão de comunicações de trabalhos coordenadas apresentados para concorrer ao premio Kabengele Munanga.

Pretende-se essencialmente:
1) Inserir conhecimentos sobre a História e a realidade do continente africano, da relação entre África-Brasil e da cultura produzida pelos afro-brasileiros na sociedade nacional;
2) Dialogar e debater sobre a implementação da lei 10.639/03 e a presença das culturas de matrizes africana e afro-brasileira na cultura brasileira;
3) Estimular a democratização da informação e conhecimento no intuito de contribuir com a valorização, fortalecimento e afirmação da identidade étnico-racial paulista.

Inscrição
A data limite das inscrições será 20 de maio de 2012.
.Preencher a ficha de inscrição e enviar para saddoag@gmail.com
Taxa de inscrição: Enviar comprovante de pagamento da taxa de inscrição R$20,00, por e-mail  ao saddoag@gmail.com
Informações pelos telefones: (55+11) 9244-8536/3124-5751/3333-5029, falar com Saddo Ag Almouloud ou Vanderli Salatiel.
.Pagamento da taxa de inscrição: depósito na Conta do Fórum África (Banco do Brasil – Agência Cidade Universitária 3559-9 – Conta Corrente 15.027/4).
Número de vagas: 80 (oitenta).

Baixe a programação do curso e da ficha de inscrição no link abaixo:

Universidade Eduardo Mondlane Os intelectuais Africanos face aos desafios do século XXI

UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE - CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS

2ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL: Os intelectuais Africanos face aos desafios do século XXI

Em Memória de Ruth First (1925-1982) e por ocasião do 50º aniversário da Universidade Eduardo Mondlane.

Local: Maputo, Complexo Pedagógico da UEM

Data: 28-29 de Novembro, 2012

Chamada a Apresentação de Comunicações

CENTRO DE ESTUDOS AFRICANOS/UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE

(Maputo, 28-29 Novembro 2012)

OS INTELECTUAIS AFRICANOS FACE AOS DESAFIOS DO SEC. XXI

Os caminhos percorridos pelos intelectuais Africanos ao longo da história deste continente são ricos em ilustrações sobre o papel desempenhado por estes actores sociais não só através de realizações na área científica, mas também como produtores de ideologias e participantes activos nos projectos de desenvolvimento do continente. A relação do intelectual africano com o pan-africanismo e com os movimentos nacionalistas, é talvez o aspecto mais emblemático do seu engajamento neste processo, se considerarmos o papel que os movimentos pan-africanistas e nacionalistas desempenharam para a libertação do continente.

Partindo da visão marxista da figura do intelectual vista a partir da praxis, retomando a função de “intelectual orgânico” desenhada por António Gramsci ou passando pelos debates mais recentes trazidos à ribalta por Thandika Mkandawire, Archie Mafeje, Ali Mazrui, Ngugi Wa Thiong’o, Aquino de Bragança, ou Paulin Hountondji, para citar apenas alguns nomes, é possível seguir os caminhos percorridos pelos intelectuais Africanos e as transformações que os seus papéis foram assumindo ao longo de várias décadas até aos nossos dias. Hoje, estamos perante uma sociedade marcada pela dissolução dos “sujeitos colectivos” e a relativização dos “valores públicos”. Sob a forte influência do neo-liberalismo, as últimas décadas produziram um novo tipo de intelectual virado para a individualização da pesquisa, com programas desenhados sob pressão de agendas externas e para quem a busca da verdade, da justiça e a necessidade da construção de um novo tipo de sociedade se vão transformado muitas vezes em meta-narrativas. A cultura científica hoje, tornou-se uma importante dimensão constitutiva das sociedades contemporâneas, enquanto recurso e enquanto problema, na medida em que interfere com todos os domínios da vida social. Dos cientistas sociais e dos humanistas se espera assim, um trabalho engajado e comprometido com todos os processos globais de mudança, já que não podemos continuar ignorantes da realidade social que nós próprios construímos.

Com a proposta do tema: “OS INTELECTUAIS AFRICANOS FACE AOS DESAFIOS DO SEC. XXI”, o Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane pretende trazer para a mesa de discussões, questões de carácter teórico e metodológico que marcam os debates mais recentes em África, com um enfoque para África Austral, Moçambique e os países Africanos falantes da língua Portuguesa, sobre a questão do intelectual e seu papel na sociedade. Os resultados trazidos por este debate são assim uma forma de homenagear Ruth First, no ano em se completarão 30 anos do seu assassinato nas instalações desta instituição, em Agosto de 1982.

A conferência com a duração de dois dias e com um carácter internacional, pretende que as abordagens tenham um enquadramento multidisciplinar onde se questione sobre o papel que os intelectuais e as disciplinas de ciências sociais e humanidades podem desempenhar na interpretação do mundo, e até que ponto as suas acções podem contribuir para uma maior eficácia das decisões políticas e administrativas, no quadro da responsabilidade social que cabe aos intelectuais e às universidades e centros de pesquisa.

A Conferência será aberta por um orador principal, havendo ainda outras conferências em redor do tema central e debates em grupos de trabalho.

Sem prejuízo de outras questões relevantes, as comunicações propostas deverão procurar desenvolver problemáticas relacionadas com os seguintes temas e subtemas:

· Intelectuais em África: Formação, transformação e seu papel. Do Pan- Africanismo e Nacionalismo aos desafios do SEC.XXI.

- O papel dos intelectuais: do Panafricanismo ao Nacionalismo

- Os intelectuais africanos e os desafios do século XXI

- Ruth First e a geração de intelectuais virados para a libertação da África Austral

· Memória, Língua, Literatura e História

- Literatura, História e Memória: identidades e alteridades

- Línguas, comunicação e desenvolvimento

- Dinâmicas sociais: rupturas ou continuidades

· Identidades, Religião e Movimentos Sociais

- Movimentos Sociais: acesso a recursos naturais, participação e inclusão social

- Movimentos religiosos: passado e desafios das mudanças mundiais

- A configuração de novos modelos e expressões da religiosidade em África

·Ensino e investigação em África: o papel das universidades

- Universidade e Formação de professores

- Investigação autónoma e sistemática versus consultorias

- Liberdade académica e desenvolvimento institucional

- Qualidade de ensino e da investigação e os critérios de avaliação

- A produção e disseminação de conhecimento em África: problemas candentes

·Globalização e desafios: Tendências demográficas e políticas públicas em África

- Dinâmicas económicas, demográficas e populacionais

- Transformações territoriais, urbanização e Serviços Públicos

- Desigualdades sociais, pobreza e Políticas Públicas sectoriais

- Maneio dos recursos naturais, riscos ambientais e desastres naturais

·Governação e democracia em África

- Cidadania activa, participação e agência

- Papel das instituições políticas para a promoção e manutenção da justiça económica e social

- Politicas sociais, desenvolvimento económico inclusivo, durável e sustentável

- A língua como factor de inclusão/exclusão social

·Cultura, arte e desenvolvimento social

- Direito autoral e novas práticas de consumo: do original ao pirateado

- Práticas culturais e motivação social: dinâmica e significação dos festivais culturais em África

- Cultura, socialização e desenvolvimento

- Individualismo, competição e cooperação no universo artístico

Os interessados em participar nesta conferência deverão enviar os seus resumos, em português ou em inglês para o endereço que se segue, respeitando as seguintes características: Tema; autor, vinculação institucional e endereço electrónico; problemática.

O resumo não deverá ter mais que 350 palavras.

Todas as propostas serão avaliadas por um júri de selecção.

Prazos a considerar:

Receção de resumos: até 30 de Junho de 2012

Informação sobre aceitação de resumos: até 30 de Julho de 2012

Entrega de textos definitivos: até 30 de Setembro de 2012

Resposta final sobre aceitação dospapers : até 30 de Outubro

Endereço de envio e contactos: conferenciaruthfirst@uem.mz