domingo, 1 de dezembro de 2013

Mostra Cinema de Quebrada invade o Cinusp

As salas “Maria Antônia” e “Paulo Emílio” do Cinusp receberão filmes que vieram direto das “quebradas” espalhadas por todo o Brasil. Com o intuito de estimular espaços, intercâmbios e reflexões para a produção cinematográfica oriunda da periferia – ou que tenha tal local como pano de fundo -, serão exibidas sessões de 2 a 15 de dezembro. E o melhor: tá tudo liberado!

 Os filmes exibidos nessa segunda edição da MOSTRA DE CINEMA DA QUEBRADA NO CINUSP são contemporâneos (quase todos foram feitos a partir de 2010) e compartilham a utilização das plataformas digitais para sua realização e difusão. Com a crescente acessibilidade aos meios de produção (câmeras e outros equipamentos de baixo custo), a experiência audiovisual está cada vez menos restrita ao uso profissional. Não só a produção, mas também a distribuição, tem se beneficiado desse fenômeno: a internet é ferramenta fundamental para o compartilhamento dos vídeos e foi responsável pela intensa circulação de alguns deles pelo Brasil, como é o caso do longa-metragem Ai Que Vida, de Cícero Filho.

Para fazer a curadoria desta mostra, o CINUSP convidou Thais Scabio, cineasta, educadora e cineclubista, coordenadora do projeto “Cinema Digital” do JAMAC – Jardim Miriam Arte Clube. O que fica evidente em sua seleção de títulos é a heterogeneidade. Não é nada simples pensar uma curadoria que dê conta do termo “da quebrada”. Alguns dos filmes têm patrocínio, outros são totalmente independentes. A rigor, não se trata de uma seleção de filmes feitos na periferia, pois eles refletem realidades materiais diversas. Mas, em boa parte dos casos, sabe-se que o custeio da produção acaba sendo em grande parte feito pela doação do trabalho dos envolvidos: colaboradores não profissionais, gente que não tira seu sustento do cinema. Alguns dos filmes selecionados receberam prêmios em festivais, mas ainda pertencem a um circuito distinto, preservam uma relação íntima com a sua comunidade de origem. Integram a mostra filmes dos mais variados gêneros. As ficções vão do horror psicológico à comédia de tipos sociais. É notável também a grande ocorrência de documentários, sejam eles longas-metragens, como O Mestre e o Divino, realizado por indígenas do projeto Vídeo nas Aldeias e premiado como melhor filme documentário no 46º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, sejam pequenos vídeos de registro ou protesto, como 3 Marias, Cordel de Lá pra Cá, Loas aos Reis do Congo, Quilombo de Queimadas. Muitos deles buscam a experimentação das linguagens da música e da poesia, como Quero Ser Beyoncé, Rumpi Mondé, Da Paz e Manual de Literatura(En)Cantada, entre outros.

A II MOSTRA DE CINEMA DA QUEBRADA NO CINUSP convida à reflexão. Qual é a pertinência de se falar em “cinema da quebrada”? Existe uma estética resultante desse conjunto? É possível transportar para a tela do CINUSP um material cuja exibição talvez seja parte intrínseca da vivência comunitária, da relação entre realizadores e o seu meio? É possível até mesmo que essa discussão já esteja um tanto ultrapassada, que as linhas do tempo presente sejam mais difusas e que esta mostra seja um exemplo da intersecção dos dois, ou mais, universos. Seja como for, esta é uma chance de vislumbrar a intimidade de quem faz filmes sem pretensão de se expor ao olhar oficial do “estrangeiro”. Quase como encontrar uma caixa de películas de família, feitas por indivíduos que nutrem laços anteriores aos que surgem no fazer fílmico, e que sujeitam essas relações ao sabor dos efeitos da luz projetada em uma tela. 


Confira no link abaixo a programação completa, os horários e locais de exibição no Cinusp Paulo Emílio e no Cinusp Maria Antonia.

Sobre o CINUSP

O CINUSP Paulo Emílio é uma sala de cinema gratuita e aberta ao público em geral, localizada no campus da capital, na Cidade Universitária. A programação é variada, contando com mostras temáticas produzidas por professores e alunos da universidade, seminários, debates, cursos, pré-estréias e parcerias com festivais de cinema.

Criado em 1993 pela Pró-Reitoria de Cultura e Extensão da universidade, a sala leva o nome do professor, critico e escritor Paulo Emílio Salles Gomes que, além de ser um dos maiores pensadores do cinema brasileiro, implantou um dos primeiros cursos de Cinema do Brasil: o da Universidade de Brasília e, após seu fechamento, em 1967, ajudou a implantar o curso na USP.

O CINUSP tem como objetivo principal disseminar a cultura cinematográfica, estimular a pesquisa e o conhecimento, contribuindo assim para o adensamento permanente do ambiente universitário.

As sessões acontecem de segunda a sexta-feira, exceto feriados, sempre às 16h e às 19h, de acordo com a programação, que varia com as temporadas de mostras. Além das sessões, cursos e debates, o CINUSP produz publicações que expressam a pesquisa e a reflexão sobre temas relacionados a suas atividades, com textos inéditos e de referência.

O CINUSP recebe convidados do Brasil e do mundo, entre artistas, especialistas, diretores e acadêmicos, geralmente após as sessões, como mais um diferencial de um cinema universitário.

Cinusp Paulo Emílio
Rua do Anfiteatro 181
Colméia - Favo 04 - Cidade Universitária - São Paulo, SP

Cinusp Maria Antonia 

Rua Maria Antonia 258 e 294 · Vila Buarque
São Paulo · SP · (11) 3123-5200


Postado por Oubí Inaê Kibuko para Fórum África e Cineclube Afro Sembene.

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