sexta-feira, 2 de maio de 2014

Coletivo Negro USP visita haitianos em São Paulo

Apenas um relato. 1º de maio de 2014 - Dia do Trabalhador. Planejara ir a 24ª Caminhada Ecológica da Cidade Tiradentes, com saída marcada para as 7, se não tivesse acordado quase às 9 horas. Coisas daquele famoso “mais 5 minutos” quando acordamos 5:50 com o despertador berrando. Pretendia conhecer, fotografar a tal caminhada (a qual nunca fui), rever possíveis amigos, semear novas amizades e de lá ir para a cidade. Estréias, festivais, mostras de cinema não chegam nas Cohab’s. Apenas politicagens, oportunismos, paternalismos assistencialistas. Por essas e outras o centro atrai muitos. Mas, aqui na base, onde a pirâmide é inversa e o desenvolvimento é lento, ainda há muito por fazer e devemos marcar presença nessas raras iniciativas culturais. No Brasil não temos furacões, maremotos, nevascas, terremotos; temos os políticos, as elites maquiavélicas, os donos de tudo às custas dos mais fracos e divididos.

Um encontro casual às vésperas do preparatório 25 de maio, Dia da África, no sugestivo Centro Cultural Banco do Brasil, após a sessão de Njinga - A Rainha de Angola, com alguns integrantes do Coletivo Negro USP e coletivos de outras regiões, formados em sua maioria por estudantes. Troca de impressões sobre o filme e coincidente informação de que o grupo iria depois de um rápido almoço no Biyou'Z Restaurante Afro se encontrar com outros membros dos coletivos na Praça da Sé para visitar a Missão Paz, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Rua do Glicério, afins de conhecer de perto e de ambas as partes, a situação dos refugiados haitianos em São Paulo. E assim levantar informações e oferecer ajuda humanitária dentro das nossas possibilidades e alcances, tanto coletivo quanto individual. Afinal, os noticiários da mídia oficial não são plenamente confiáveis. Ainda mais quando o assunto tem recorte racial em ano político, os haitianos são apaixonados pela seleção brasileira e a xenofobia está mostrando os seus tentáculos.

Há momentos e situações em que é melhor ir em grupo do que sozinho. Parece que nossos pensamentos solidários foram captados por parabólicas ancestrais. Nos auto-convidamos, caso não houvesse impedimentos institucionais e lá fomos. Devido ao avançado das horas, pois já passavam das 18 (o atendimento no restaurante, por estar lotado, demorou mais do que previsto), e a falta de equipamento apropriado não foi possível filmar. A alternativa foi fotografar e captar em áudio direto e de forma amadora, com o que tinha em mãos, as conversas com padre Paulo e representantes haitianos que fala português. O idioma oficial do Haiti é o Francês e falam também Crioulo e Espanhol. As questões e necessidades principais dos refugiados que estão na Missão Paz giram em torno de: leis migratórias; legislação; trabalho; documentação; alimentação; moradia; locação de imóvel; transporte; higiene pessoal; saúde; voluntários para ensino básico de português e passeios em grupos para eles saberem onde e como e qual forma confiável para se locomover em São Paulo de uma região a outra; noções e recursos auto-sustentáveis para limitar e até coibir vícios assistencialistas; supervisão e acompanhamento das ações e atividades; cadastramento de dados, etc. A presença e ajuda por parte de igrejas evangélicas, núcleos espíritas (kardecistas), ong’s e associações que atendem, sobretudo, moradores em situação de rua, como os Anjos da Noite, têm sido exemplar. Questionamentos sobre a ausência e manifestação de apoio por parte dos representantes e membros das religiões de matriz africana, mais especificamente Umbanda e Candomblé, e de entidades negras tem circulado nas redes sociais. O padre Paulo não soube informar. Se presenças e colaborações têm ocorrido não se identificam ou vem passando desapercebidas devido ao montante. O êxodo e a demora em conseguir visto é um dos fatores que tem alimentado a especulação e riscos de vida. Supõe-se que para os haitianos terem despendido cerca de 4.000U$ devem estar endividados até o pescoço e deixaram suas famílias sabe-se lá em quais condições?! Fato que aumenta o desespero e necessidade deles em encontrar trabalho remunerado, independente da função a ser exercida. Ou seja: desde que renda algum dinheiro qualquer coisa serve. Fator que serve de bandeja a interesses meramente exploratórios.

Errata: no áudio estimamos 6 horas de caminhada entre Tucuruvi ao Glicério. O padre Paulo nos informou que um grupo de haitianos, por ter errado o local, fez este percurso. Chegou a paróquia por volta do meio dia, extremamente cansados. Segundo pesquisa virtual posterior, o tempo estimado é de 2h16m, via Corredor Norte-Sul, tendo o Metrô Tucuruvi como ponto de referência. Para quem desconhece o trajeto calcula-se que eles andaram cerca de 2:30 a 3:30 horas. Por falha nossa não entrevistamos ninguém do grupo para checar esta informação.

Uma parte da gravação foi feita com Sony Icd-px312 e a outra com Nokia X2. Num total de 1h22m23s. Os arquivos estão disponíveis a quem possa interessar em fortalecer a divulgação, com os devidos créditos.

Arrisco-me afirmar que a mensagem do filme "Njinga - A rainha de Angola", centra-se no provérbio: "Quem ficar, luta até vencer".  Coletivo Negro USP visita haitianos em São Paulo. Poderiam estar ali também irmanados e devidamente identificados diversas entidades e associações negras e afrodescendentes. A lista social, política, educativa, religiosa, cultural é extensa. Os haitianos estão distantes da terra deles, bem se dizer sem lenço e sem documento, e precisando de quem lute junto com eles, por eles. Se assim for a convocação está feita. Afinal, "L'union fait la force" ("A união faz a força").


Texto e imagens: Oubí Inaê Kibuko.

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