Apenas um relato. 1º de maio de
2014 - Dia do Trabalhador. Planejara ir a 24ª Caminhada Ecológica da Cidade
Tiradentes, com saída marcada para as 7, se não tivesse acordado quase às 9
horas. Coisas daquele famoso “mais 5 minutos” quando acordamos 5:50 com o
despertador berrando. Pretendia conhecer, fotografar a tal caminhada (a qual
nunca fui), rever possíveis amigos, semear novas amizades e de lá ir para a
cidade. Estréias, festivais, mostras de cinema não chegam nas Cohab’s. Apenas
politicagens, oportunismos, paternalismos assistencialistas. Por essas e outras
o centro atrai muitos. Mas, aqui na base, onde a pirâmide é inversa e o
desenvolvimento é lento, ainda há muito por fazer e devemos marcar presença
nessas raras iniciativas culturais. No Brasil não temos furacões, maremotos, nevascas, terremotos; temos os políticos, as elites maquiavélicas, os donos de tudo às custas dos mais fracos e divididos.
Um encontro casual às vésperas do
preparatório 25 de maio, Dia da África, no sugestivo Centro Cultural Banco do
Brasil, após a sessão de Njinga - A Rainha de Angola, com alguns integrantes do
Coletivo Negro USP e coletivos de outras regiões, formados em sua maioria por estudantes. Troca de impressões sobre o
filme e coincidente informação de que o grupo iria depois de um rápido almoço
no Biyou'Z Restaurante Afro se encontrar com outros membros dos coletivos na
Praça da Sé para visitar a Missão Paz, da Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Rua
do Glicério, afins de conhecer de perto e de ambas as partes, a situação dos
refugiados haitianos em São Paulo. E assim levantar informações e oferecer
ajuda humanitária dentro das nossas possibilidades e alcances, tanto coletivo
quanto individual. Afinal, os noticiários da mídia oficial não são plenamente
confiáveis. Ainda mais quando o assunto tem recorte racial em ano político, os haitianos são apaixonados pela seleção brasileira e a
xenofobia está mostrando os seus tentáculos.
Há momentos e situações em que é
melhor ir em grupo do que sozinho. Parece que nossos pensamentos solidários
foram captados por parabólicas ancestrais. Nos auto-convidamos, caso não
houvesse impedimentos institucionais e lá fomos. Devido ao avançado das horas,
pois já passavam das 18 (o atendimento no restaurante, por estar lotado,
demorou mais do que previsto), e a falta de equipamento apropriado não foi
possível filmar. A alternativa foi fotografar e captar em áudio direto e de
forma amadora, com o que tinha em mãos, as conversas com padre Paulo e
representantes haitianos que fala português. O idioma oficial do Haiti é o
Francês e falam também Crioulo e Espanhol. As questões e necessidades
principais dos refugiados que estão na Missão Paz giram em torno de: leis
migratórias; legislação; trabalho; documentação; alimentação; moradia; locação
de imóvel; transporte; higiene pessoal; saúde; voluntários para ensino básico
de português e passeios em grupos para eles saberem onde e como e qual forma
confiável para se locomover em São Paulo de uma região a outra; noções e
recursos auto-sustentáveis para limitar e até coibir vícios assistencialistas;
supervisão e acompanhamento das ações e atividades; cadastramento de dados,
etc. A presença e ajuda por parte de igrejas evangélicas, núcleos espíritas
(kardecistas), ong’s e associações que atendem, sobretudo, moradores em
situação de rua, como os Anjos da Noite, têm sido exemplar. Questionamentos
sobre a ausência e manifestação de apoio por parte dos representantes e membros
das religiões de matriz africana, mais especificamente Umbanda e Candomblé, e
de entidades negras tem circulado nas redes sociais. O padre Paulo não soube
informar. Se presenças e colaborações têm ocorrido não se identificam ou vem
passando desapercebidas devido ao montante. O êxodo e a demora em conseguir
visto é um dos fatores que tem alimentado a especulação e riscos de vida.
Supõe-se que para os haitianos terem despendido cerca de 4.000U$ devem estar
endividados até o pescoço e deixaram suas famílias sabe-se lá em quais
condições?! Fato que aumenta o desespero e necessidade deles em encontrar
trabalho remunerado, independente da função a ser exercida. Ou seja: desde que
renda algum dinheiro qualquer coisa serve. Fator que serve de bandeja a
interesses meramente exploratórios.
Errata: no áudio estimamos 6
horas de caminhada entre Tucuruvi ao Glicério. O padre Paulo nos informou que
um grupo de haitianos, por ter errado o local, fez este percurso. Chegou a
paróquia por volta do meio dia, extremamente cansados. Segundo pesquisa virtual
posterior, o tempo estimado é de 2h16m, via Corredor Norte-Sul, tendo o Metrô
Tucuruvi como ponto de referência. Para quem desconhece o trajeto calcula-se
que eles andaram cerca de 2:30 a 3:30 horas. Por falha nossa não entrevistamos
ninguém do grupo para checar esta informação.
Uma parte da gravação foi feita
com Sony Icd-px312 e a outra com Nokia X2. Num total de 1h22m23s. Os arquivos
estão disponíveis a quem possa interessar em fortalecer a divulgação, com os
devidos créditos.
Arrisco-me afirmar que a mensagem do filme
"Njinga - A rainha de Angola", centra-se no provérbio: "Quem
ficar, luta até vencer". Coletivo Negro USP visita haitianos em São Paulo. Poderiam estar ali também irmanados e devidamente identificados diversas entidades e associações negras e afrodescendentes. A lista social, política, educativa, religiosa, cultural é extensa. Os
haitianos estão distantes da terra deles, bem se dizer sem lenço e sem
documento, e precisando de quem lute junto com eles, por eles. Se assim for a
convocação está feita. Afinal, "L'union fait la force" ("A união
faz a força").
Texto e imagens: Oubí Inaê Kibuko.
Texto e imagens: Oubí Inaê Kibuko.
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