terça-feira, 19 de agosto de 2014

Adbullah Ibrahim: A força da música forjada no apartheid da África do Sul



                                                         O músico Abdullah Ibrahim (Foto: Manfred Rinderspacher / Reprodução)

Quando nasceu, em 9 de outubro de 1934 na Cidade do Cabo, África do Sul, deram-lhe nome e sobrenome anglófonos – Dollar Brand. Na idade da razão, aos 34 anos, convertido à religião islâmica em 1968, passou a se chamar Adbullah Ibrahim. Estudou piano desde os 7 anos; aos 15 tocava nos Tuxedo Sclicker e Willie Max Big Band; aos 25 integrou o grupo The Jazz Epistles, com o qual gravou o primeiro disco de jazz por músicos sul-africanos.

Sua música emerge da vontade de lutar contra a discriminação racial em seu país e do cruzamento das canções tradicionais e folclóricas sul-africanas, música religiosa e o jazz. Tudo regado a uma sólida formação musical clássica. Um de seus discos, Mannenberg, gravado 40 anos atrás, transformou-se em símbolo da luta contra o Apartheid na África do Sul. Hoje, é um dos mais amados hinos de esperança, resistência e celebração da dignidade humana face à brutalidade daquele regime.

Além e acima de todos estes ingredientes ideológico-religiosos, Ibrahim é um músico notável pelo que produz artisticamente. Possui uma sonoridade própria, algo imprescindível no mundo do jazz.

Mukashi, o CD desta semana, recém-lançado por Ibrahim, é um exemplo de seu universo muito particular. Ele convoca um saxofonista e dois violoncelistas para esta "viagem" por seus temas originais. "Mukashi", em japonês, quer dizer ”era uma vez”. Apaixonado pela cultura japonesa, o pianista aprendeu artes marciais, que ainda hoje pratica, aos 79 anos. Cada uma de suas criações é uma história que conta para nossos ouvidos. Daí o título Mukashi. A escolha dos instrumentos que formam este quarteto instaura uma atmosfera de música de câmara. Como em "Serenity" e "Peace", por exemplo. Seu piano solo brilha, econômico, majestoso, calmo, porém sempre intenso, em "The stars will remember", "Cara Mia", "Root" e "Essence".  A maior influência jazzística sobre Ibrahim comparece nos angulares intervalos de "Trace Elements for Monk", um duo com a flauta de Cleave Guyton.

Um dos destaques de Mukashi é a suíte "Krotoa", retratando o encontro, no século 17, da nativa sul-africana Khoi com os primeiros colonos brancos europeus. Suas três partes intitulam-se "Crystal Clear", "Devotion" e "Endurance".

Faixas:

1. Mukashi
2. Dream Time
3. The stars will remember
4. Serenity
5. Mississippi
6. Peace (the ebb and flow of nature)
7. Matzikama (the place that gives water)
8. Cara Mia
9. Root
10. Trace Elements For Monk
11. Krotoa - Crystal Clear
12. Krotoa - Devotion
13. Krotoa - Endurance
14. In The Evening
15. Essence
16. The balance


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