segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Abacaxi - crônica


Por António Nametil Mogovolas de Muatua
Esta reflexão sairá na Quarta-Feira de Cinzas. Começo da Quaresma. Não sei se é o Advento do Natal ou se é este, o antecedente à Páscoa, o momento mais importante para os Cristãos. Perguntarei ao meu Pároco para não ter que – assim velhinho e já sem muita paciência -voltar aos bancos da Catequese.

       O Betinho, mocubense de gema, grande cozinheiro, inveterado fiel consumidor de cachaça feita de tudo, meu, hoje, compadre, ontem, “macaiaia” (na língua emakwa designa o empregado/a pequenino/a que toma conta de bebés) da minha mulher e do meu filho que já soma a idade da nossa independência nacional, perguntou-me “mas o que é isso de abacaxi que o patrão quer comer ao matabicho? Eu não sei cozinhar isso!” Ficou tranquilo e feliz quando o elucidei que o abacaxi e o ananás são primos. Só que um é maior que o outro. Ele come-o todos os dias e gosta de beber o seu sumo fermentado.

       As tangerinas – não só as de Inhambane belamente imortalizadas em seu poema pelo nosso sempre maior José Craveirinha – as mangas, as bananas, as papaias, os melões, as laranjas, as toranjas, os cajus, os tamarinos, as atas, as pêras abacates e as goiabas, os litches, os ananases, e as quejandas frutas indígenas, nativas e estrangeiras naturalizadas que Moçambique produz, são, em sua grande maioria, votadas ao apodrecimento porque a capacidade de o Povo consumi-las é inferior à sua oferta.

       Na época de cada uma daquelas nossas frutas há uma abundante oferta das mesmas, enquanto que a nossa capacidade de as comermos ou de as conservarmos a frio ou em forma de sumos, essências, concentrados, cristalizados, compotas ou marmeladas é pequena, para não exagerar dizendo que é inexistente.

       Com o seu apodrecimento aumentam os ratos, as moscas, os mosquitos, as baratas, e outros insectos inimigos da saúde dos homens e da dos animais domésticos e do meio ambiente em geral.

       Em nossa qualidade de Presidente da AMECON – Associação Moçambicana de Economistas – participámos, em 1998, em Maputo, numa conferência da FAO (Fundo das Nações Unidas para a Agricultura) e nela apresentámos a tese, bem acolhida, de, na impossibilidade de a consumirmos ou a industrializarmos, porque é que em relação à fruta excedentária não a transformávamos em ração ou forragem para alimentação dos nossos animais e aves domésticos?

       A fruta, assim transformada em comida para os nossos bichos domésticos comestíveis chegaria até nosso consumo em forma de proteínas animais. Os outros animais domésticos como os de tiro e carga (burros e mulas), estimação (gatos, cachorros e aves) e de diversão (cavalos) também beneficiariam desta nova qualidade de forragem. E, como sempre deve ser feito, havendo excedentes, seriam consagrados à exportação. Outro destino industrial a ser dado a esta fruta excedentária, seria a produção de fertilizantes orgânicos e naturais para uso directo na agricultura. E segundo investigadores, o esterco dos animais alimentados com forragem feita de frutas, dão excelente estrume. Outrossim, deste mesmo esterco poderemos obter combustível de queima directa ou em forma de biogás para uso, respectivamente, em fornos industriais cerâmicos e fins domésticos. Há, em Maputo, uma experiência bem sucedida de produção e de uso de biogás proveniente do esterco de animais e que é produzido pela União Geral da Cooperativas, do saudoso Padre Prosperino Galipoli. Potenciemos, para bem do nosso Povo, esta excelente iniciativa.

       Se esta ideia vingasse, no âmbito do casamento constitucionalmente consagrado, em Moçambique, entre “a agricultura, que é a base do nosso desenvolvimento e a indústria o seu factor dinamizador”, estaríamos a valorizar o esforço dos nossos machambeiros dos sectores familiar e empresarial, que, deste modo, teriam os seus produtos primários enriquecidos de valor acrescentado graças a este processamento industrial.

       Através deste processamento industrial colocaríamos, como é apanágio do nosso Governo, a economia ao serviço do Povo podendo, deste modo, dizermos que o nosso PIB – Produto Interno Bruto – aumenta, beneficiando, de forma directa, a pessoa moçambicana, dado que ela vê a sua esfera patrimonial acrescida de mais cifrões porque o seu esforço de trabalho quotidiano estaria sendo devidamente aproveitado na cadeia de valores que enformam o nosso crescimento macroeconómico.

       Por este aproveitamento da nossa fruta, sentir-nos-íamos encorajados em acrescentar valor através da industrialização de outros produtos primários da nossa agricultura e, assim, estaríamos a fazer crescer de forma humanizada este agregado macroeconómico chamado PIB, mediante o qual o desempenho da nossa economia é, estatisticamente, mensurado.

       Moçambicanos, o País é dos nossos netos, por isso continuemos a pensar, colectivamente, como legar-lhes uma Nação próspera em que todos sintam que vale a pena nela viver porque tudo está ao serviço do Homem na sua mais elevada perspectiva antropológica – um Moçambique humanizado para a felicidade do Homem!

       O meu umbigo, por mais bonito que seja, não é o do Povo!

       A minha felicidade só será plena se todo o Povo for, de facto, feliz!

       Obrigado!

Maputo, 18 de Janeiro de 2015

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