segunda-feira, 16 de março de 2015

"Desespero" e "Mulher" - Duas cronicas de Antonio Matabele direto de Moçambique


Desespero
      SOCORRO! A nível planetário vivemos, perigosamente, em clima de falta de esperança global. Porque não vislumbra o futuro, o Homem deixou de acreditar em si próprio! É mau! É perigoso! É destrutivo!

Ante problemas materiais ontem fúteis, mas hoje emancipados ao escalão de hecatombes sociais, o Homem dito civilizado, na maioria das vezes urbanizado, vive em crescente e permanente estado de desespero e angústia doentia.

Com, talvez, algum sentido de oportunismo, explorando este estado de sem esperança dominante no seio de algum extracto populacional, deserdado de património e sem rendimento regular suficiente, os credos religiosos proliferam em vã tentativa de trazer a tranquilidade material e espiritual, momentaneamente, perdida pelas pessoas.

Digo “momentaneamente” porque tenho fé em Deus, que insuflará mais ânimo neste Povo lutador, no Estado, que terá que ser mais interventor na definição de políticas para a economia andar mais depressa e segura e nas palavras, penso que do experiente, Louis Larose, Representante do Banco Mundial, para África recentemente proferidas em Maputo, segundo o qual esta “crise é passageira e dias melhores virão” e que adicionalmente temos que “investir no capital humano, porque sem ele não importa a perfeição dos planos estratégicos” (in, O PAÍS ECONÓMICO, dia 06/03/15, páginas 4 e 5)

O desemprego, fonte provedora, por excelência, de algum conforto moral ao Homem que se esvai em desespero, grassa, de modo galopante, em vários cantos do mundo, incluindo, também, na economia de Moçambique. Os moçambicanos continuam sendo oprimidos pelo desemprego!

O pai não sabe se chegando ao seu precário local de trabalho não será tristemente “agraciado” com uma carta anunciado a cessação do seu vinculo laboral ao abrigo de uma determinada alínea da Lei do Trabalho em vigor.

E como já lá vão os belos tempos em que ainda havia legislação laboral protegendo proporcionalmente empregados e patrões, o coitadinho do Homem, situado do lado mais fraco da balança, vive em eterno desespero e incertezas sobre o devir.

Por este estado permanente de desespero paga toda a sociedade, com especial ênfase os filhos, a esposa, os colegas, os amigos, os transeuntes na via pública, etc. Enfim, pagam todos menos o, talvez, verdadeiro culpado: o sistema dito civilizado que mal distribui pela maioria das pessoas as riquezas disponíveis no Planeta Terra. O tal sistema do livre curso da mão invisível apenas vista pelo selvático capitalismo em avançado estado de morte dialéctica.

Não sei qual dos lados em desespero é o mais perigoso? Se o dos trabalhadores? Se o dos donos do grande capital? E porque é difícil estarmos equidistantes do fenómeno, não há quem esteja isento desta verdadeira praga social.

Acreditemos, como sempre o fizemos, que o remédio para este desespero está, mais uma vez, na mesma vontade popular que libertou Moçambique das garras do colonialismo, porque “não basta muita oração e pouca acção”, tal como nos ensina Gabriel o Pensador, cantor do Brasil. 

Maputo, da margem do Rio Pitamacanha, 11 de Março de 2015.
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Mulher

A Mulher é o ser mais completo e complexo que habita a Terra. Nesta sua inescrutável complexidade se esconde a sua inesgotável riqueza. Mulher, esta “coisa” meiga, boa e bela que Deus nos deu! Se mais génio tivesse, outra actividade não teria senão cantar, eternamente, as suas inúmeras qualidades...

Falar da evidente importância da Mulher é tão delicado porque arriscamo-nos a não enfatizar o seu verdadeiro valor. Quanto mais cantamos as qualidades deste tronco da nossa sociedade chamado Mulher, constatamos que deixamos, sempre, o principal de fora.

A Mulher, berço da humanidade, é a guardiã que garante a continuidade da espécie humana na Terra.

Esta humanidade que, à medida que se vai socializando no meio deste cada vez mais incessante progresso tecnológico, precisa de ter melhor alimentação tangível e daquela outra não acessível ao nosso tacto, mas importante complemento espiritual à nossa condição de Homens.

Desde a complicada fase da concepção, gestação, parto e aleitamento, o Homem está inelutavelmente dependente dos cuidados que só a Mulher pode, sabe e deve dar biológica, moral e socialmente.

A mulher cuida do Homem desde a fase embrionária da sua vida, em seu útero, garantindo a sua evolução e após o nascimento, a mãe redobra-se em atenções para que o seu filho se desenvolva.

Desde o período do aleitamento materno até que a criança comece a comer sózinha, esta Mulher mãe não sossega de controlar o que ela ingere. Os cuidados maternos ficam redobrados quando a nova criatura começa a gatinhar expondo-se a múltiplos perigos existente dentro e fora de casa.

Desde que não haja uma situação anormal de escassez de alimentos na sociedade, com seu conhecimento empírico e instintivo, a mulher sabe o que deve dar ao seu filho para que este cresça saudável.

A Mulher tem a ingrata, mas nobre, tarefa de zelar para que o seu filho, co-criado, com a participação do seu pai, se torne adulto dotado de excelentes qualidades morais e profissionais.

No dia Oito de Março, anualmente, o mundo celebra este ente inteligente, esperto, astuto, misterioso, sem igual, lindo que é a Mulher. A Mulher é exaltada neste seu dia internacional não somente porque ela, heroicamente, fez na data que é celebrada em todo o mundo, mas sim porque mesmo antes e depois daquele feito corajoso, ela é o elemento mais fundamental da nossa sociedade.

Assiste-se, infelizmente, ao nível planetário uma crescente degradação de valores entre os Homens, em que a fraternidade, a solidariedade, a honradez, o amor pelo próximo e o respeito entre pessoas vai, progressivamente, desaparecendo e em seu lugar surgem comportamentos indignos na família humana.

Jamais culparia à Mulher por este deserto de valores na nossa sociedade, mas por ela ser obrigada a deixar de cuidar da educação caseira da sua criança, esta cresce sem referências morais de excelência e então, sucedem-se os desastres comportamentais sociais no adulto que nos repugnam.

Em nome da bem-vinda emancipação da Mulher esta já trabalha, com muita competência, fora de casa, mas deixa nesta um vazio de consequências incomensuráveis em que o seu filho, o Homem de amanhã é educado apenas pela escola convencional e pela sociedade, faltando-lhe este sal que somente a mãe sabe dosear ao longo do seu processo de formação como Pessoa.

Sem prejudicar o necessário processo de emancipação da Mulher, estudemos, colectivamente, formas de a enriquecermos sem estragar o Homem de amanhã, escondido na criança de hoje, que já não é ensinada, principalmente, pela mãe, que tem que ir para o mercado também trabalhar. Com isto não se pretende afirmar que “a tarefa da educação caseira deve ficar apenas nas mãos da mulher. Tem que haver partilha e sintonia de responsabilidades de ambos os progenitores para que o processo de emancipação da mulher não seja ainda mais complexo e complicado na nossa realidade, onde impera e emperra muito o machismo. Há, com efeito, muita coisa que podemos e devemos fazer como pais (homens) na educação caseira dos nossos filhos que se ficar nos ombros da mulher sozinha, não teremos a educação que almejamos para os nossos filhos. Nós homens não podemos dar de mamar, mas tudo o resto que exige na criação de uma criança, podemos. Podemos dar biberon, maudar fraldas, dar banho, brincar com as crianças, levá-las à creche/escola, tomar conta delas quando não está com a saúde a 100%, etc” (in, JL, 09/03/15).
E bem haja a Mulher emancipada, que ajuda o Homem a perceber que a sociedade é feita por ambos igualmente importantes.  

Maputo, N’siripwiti, 13 de Março de 2015.

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