segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Malês cria espaço de convivência e ajuda africanos refugiados que desembarcam em São Paulo

Adama Konate cria espaço de convivência e ajuda africanos refugiados que desembarcam em São Paulo. Conheça o espaço que funciona como restaurante/lavanderia/albergue/lanhouse 

Yanlafi, em Bambara, significa Saudade. Hoje o malês Adama Konate sente Yanlafi de sua terra natal, mas podemos dizer que o que o trouxe até o Brasil foi a saudade de um lugar que ele nem conhecia.
Formado em Contabilidade, Adama conta que, ao estudar a história dos países, notava que os autores falavam da escravidão no Brasil como se fosse algo parecido com a França, mas sabia que somente conhecendo de verdade um país poderia falar sobre ele. Estava com toda a documentação encaminhada para estudar nos Estados Unidos, mas havia um desejo de conhecer o Brasil. Desembarcou como turista e o encanto com o país não o deixou retornar.
Há três anos no país, Adama se tornou um porto seguro para os “irmãos” africanos, como ele diz. Além do restaurante/lavanderia/albergue/lanhouse que comanda no bairro do Brás, Adama também ajuda como pode os refugiados que chegam e precisam regulamentar a documentação. “Perguntam: Quanto Adama cobra? [E respondem] Não, ele está nos ajudando. É proibido ajudar? Só ajudo quando posso ajudar. Para mim, eu não faço para falar bem de mim, a minha preocupação é só Deus”.
Nas quatro horas que passamos ali, durante um sábado frio em São Paulo, ficamos absorvidas pelo falatório em francês de pessoas chegando do Mali, de Burkina-Faso, do Togo e outros países do oeste africano. Dúvidas sobre consulta médica, carteira de trabalho e moradia, entre outras. As portas pintadas de verde, amarelo e vermelho na Rua Visconde de Parnaíba, 1188 abrigam hoje o restaurante de Adama, que cobra R$ 8 pelo prato de refeição tradicional africana. Aos domingos, o famoso Fufu é servido.
Mas tudo começou com alguns computadores para contato com a família distante em um quartinho a poucos passos dali. O serviço foi criado pensando nas pessoas que moravam no Arsenal da Esperança, entidade que atende imigrantes em parte do terreno do Museu da Imigração, antigamente conhecido como Casa do Migrante. Para quem vem com o intuito de ajudar a família no país de origem, é mais difícil ainda pagar aluguel, comer e usar transporte público, tudo isso com um salário mínimo. “Ganha pouco no Brasil. A guerra lá não vai acabar, mas aqui está difícil também”, conta Alpha Sidibe, malês e um dos quatro funcionários de Adama.
Alpha é responsável pelo quartinho em que antes funcionava a lanhouse e hoje serve como uma espécie de casa de passagem para ajudar os “irmãos” que chegam ao Brasil e não têm onde dormir e deixar as malas. “É difícil ficar indo para ver documento, mas com mala é mais [difícil], então eles deixam aqui”, conta Adama. Nos fundos do restaurante, no outro salão, há também duas máquinas de lavar. O preço da ligação para o Mali e de uma lavagem: R$ 1 cada.
Com vistas para o Museu da Imigração, o espaço de convivência africana criado por Adama reflete a luta de um povo por melhores condições de vida. “Não é o Brasil que vai nos dar tudo, somos nós mesmos que precisamos nos organizar. Eu não tenho forças para todos, mas, se eu consigo passar que temos que fazer alguma coisa por nós, está bom”.

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