terça-feira, 14 de abril de 2015

Riqueza - crônica de António Matabele, direta de Maputo, Mozambique


por António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele). Maputo, 15 de Abril de 2015, da margem do Rio Pitamacanha.

        Joaquim Alberto Chissano, um dos nossos ícones políticos continentais, daqueles que se não fosse africano (e por este motivo é discriminado) o seu pensamento político seria estudado em universidades ou mesmo citado em areópagos internacionais como sendo uma referência ou especialista em política, afirmou, num passado recente, que o domínio da ciência e da técnica pelos povos “é petróleo moderno das nações”, aludindo que um povo educado é rico, porque riqueza não é uma conta bancária com um saldo elevado, nem tão pouco é somente a posse de património avultado.

        Riqueza verdadeira é a nossa capacidade e possibilidade potenciais de podermos ter num amanhã mais ou menos pouco longínquo aquilo que ainda não temos hoje. E o inverso deste raciocínio é também verdadeiro. Com efeito, pobreza, é termos hoje dinheiro e património tangíveis, mas não termos capacidade potencial de os mantermos, porque não somos instruídos naquele sentido que os pedagogos modernos apelidam de educados. Isto é, quem não domina a ciência nem a tecnologia está no corredor conducente à pobreza, que poderá sufocá-lo a qualquer momento imprevisível.

        Um homem pobre bem apetrechado de ciência e técnica tem potenciais possibilidades de se tornar rico. Um rico desprovido de ciência e técnica é um sério candidato a resvalar do cume da falsa colina aonde se encontra para se esborrachar no sopé da montanha da pobreza.

        Moçambique, que é potencialmente rico em termos de posses reais e hipotéticas de bens patrimoniais físicos ainda é pobre no que se refere à maioria do seu povo porque este ainda não domina o bastante nem a ciência nem a técnica chamadas modernas. O nosso País tem muita riqueza material ainda mal ou não explorada na sua totalidade. Em contrapartida tem a maioria do seu povo ainda lutando contra as trevas da ignorância em termos do conhecimento moderno convencional não tradicional. Em África há muitos doutores com conhecimentos tradicionais empíricos acumulados por sucessivas gerações de pessoas através dos séculos. Mas com este conhecimento ainda não conseguem melhorar a quantidade e a qualidade de comida; domar os rios que secam e inundam, respectivamente, na época da estiagem e das chuvas; extrair as riquezas existentes no subsolo, no fundo dos oceanos; nem tão pouco colocar engenhos artificiais no espaço estudando o universo. Em suma, com a sua prática empírica ainda não estão capazes de serem dinamizadores do almejado desenvolvimento e, consequentemente, que o povo seja detentor de riqueza.

        E é esta ausência de domínio da ciência e da técnica que contribui para o agravamento da pobreza reinante no continente africano, como é o caso da matança ilegal de algumas espécies animais, muitos deles raros no mundo e únicos em Moçambique. O povo ignora qual a utilidade e importância económica dos bichos que são mortos de modo anárquico à margem da Lei Civil e Ambiental.

        Isto vale dizer que a caça furtiva é agravada pelo desconhecimento que ainda temos – porque não dominamos a ciência e a técnica – que esta prática criminosa impede as populações de aumentarem os seus rendimentos com os dinheiros que os turistas pagam ao País para verem e fotografarem os nossos animais, ora dizimados de forma descontrolada e irresponsável.

        A República Popular da China, cujo povo é detentor de razoável educação, tem ganho somas substanciais de dinheiro com turistas que a visitam pelo facto de ser repositória mundial das poucas pandas ainda existentes no nosso planeta.

        Moçambique deve esforçar-se ainda mais para educar, desde a escola primária, o seu povo no sentido deste saber que poupando a vida dos seus rinocerontes, elefantes e outras espécies raras no mundo e em vias de extinção, diminuirá a sua pobreza, consolidando-se assim aquela visão profética segundo a qual o domínio da ciência e da técnica constitui o petróleo da era moderna. 



Publicada originalmente no Wamphula Fax.

Ilustração livre (Estudos Geométricos.2015) de Oubí Inaê Kibuko (Brasil) para esta postagem.

sábado, 11 de abril de 2015

Sessão de cinema africano dia 18 de abril na PUC Consolação

18/abril/2015, sábado, 19 horas, o FÓRUM ÁFRICA e o CINECLUBE AFRO SEMBENE  convidam Você, Familiares, Amigos e Simpatizantes.

Neste mês de abril o Togo se tornou independente em 27.04.1960 e Serra Leoa (Freetown) em 27.04.1961. O Cineclube Afro Sembene e o Fórum África, prestam homenagem aos dois países com uma sessão especial dose dupla.

"Hoje" - Alain Gomis (Senegal) e "O Samba do Cururuquara" - Renato Cândido (Brasil)
Local: PUC CONSOLAÇÃO - Rua Marquês de Paranaguá, 111 - sala 20
Travessa Rua da Consolação - próximo ao Mackenzie – entre metrô República e Paulista
Informações: www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br - cineafrosembene@gmail.com

ENTRADA FRANCA. Porém pede-se a voluntária colaboração de 2 kilos de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que acolhe diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos. 


Sobre os filmes
Título: Hoje (Aujourd'hui) - fiçção experimental
Sinopse: A morte avisa, na véspera, quem será levado no dia seguinte, dando à pessoa tempo de fazer intensa releitura de sua vida.
O personagem Satché é interpretado pelo ator, poeta e músico nova-iorquino Saul Williams.
 
Elenco: Saul Williams/Satché. Djolof Mbengue/Sélé. Anisia Uzeyman/Rama. Aïssa Maïga/Nella. Mariko Arame/Mãe de Satché.
Gênero: Drama/Experimental. Diretor: Alain Gomis. Duração: 1h25m. Ano de Lançamento: 2012. País de Origem: Senegal. Idioma do Áudio: Francês/Wolof. Legendas: Português.


Título: O Samba do Cururuquara - documentário
Sinopse: O documentário aborda uma das manifestações culturais da cidade de Santana de Parnaíba, o samba de bumbo. Por ocasião da libertação dos escravos, em 13 de maio de 1888, os recém-libertos juntaram a alegria festeira à religiosidade para resolver o que fazer da vida e festejar o futuro. Surgiu assim, o Samba do Cururuquara. 

Gênero: Documentário. Diretor: Renato Cândido. Duração: 40m. Ano de Lançamento: 2012. País de Origem: Brasil.  Áudio: Português. Sem legendas.


Sobre os diretores 
ALAIN GOMIS nasceu na França, em 1972, filho de pai senegalês e mãe francesa. Realizou estudos de história da arte e se formou mais tarde em cinema. Começou seu aprendizado fazendo uma série de reportagens sobre a vida dos jovens imigrantes na França; sua estréia na direção com alguns curtas-metragens, incluindo Tourbillons, que lhe rendeu importantes indicações no Festival de Clermont-Ferrand e Nova Iorque. Em 2002 ele fez seu primeiro longa-metragem, The Afrance, premiado em Locarno com o Leopardo de Melhor Primeiro Filme e Prêmio do Público no Festival de Africano, Asiático e Cinema Latino-Americano, em Milão. Hoje (Aujourd'hui) foi exibido na competição oficial do Festival de Berlim em 2012. "Para mim, o filme é uma maneira de celebrar a vida, é um filme contra o medo, uma maneira de reafirmar que o presente é a porta da eternidade. É um filme sobre o presente, sobre o valor de cada instante, a única coisa que possuímos", declarou Alain Gomis, nascido em Paris, de mãe francesa e pai senegalês.

RENATO  CANDIDO DE LIMA,  é cineasta, Bacharel em Audiovisual  e Mestre em Ciências da Comunicação pela ECA/USP. Nos  projetos acadêmicos trabalhou interlocuções entre dramaturgia e identidades negra e popular. Sob orientação da  Livre  Docente Esther Império Hamburger, Renato Candido  de- senvolveu em seu mestrado o  projeto e roteiro de  longa metragem  “Menina Mulher da  Pele  Preta”. Suas produções mais recentes são o Episódio “Jennifer “(ficção), do  longa Menina  Mulher da  Pele Preta e o  documentário média metragem  Samba do Cururuquara. Estas duas produções e outras de  sua autoria estão disponíveis na  sessão Vídeos. Além  das realizações audiovisuais, Renato leciona fotografia, direção de  arte e roteiro nos cursos de  Rádio /TV,  Tec. Audiovisual  e Tec. Fotográfica na FMU – Faculdades Metropolitanas Unidas.  É professor convidado de  História do Cinema Brasileiro na Escola Livre  de  Cinema e Vídeo  de  Santo André/SP e leciona Audiovisual no  projeto Fábricas de  Cultura do Governo do Estado de  São  Paulo. Para a TV  Cultura, através  de   sua  Empresa Produtora “Dandara Produções Culturais e Audiovisuais  - LTDA”,  Renato Candido roteirizou episódios da  série televisiva “Pedro e Bianca”, ganhadora  do  Prix  Jeunesse e finalista no  Emmy Awards Kids. A série está disponível através do link  Pedro e Bianca. Em 2012, Renato Candido foi contemplado pelo Edital  de  Roteiristas Estreantes do  Ministério da Cultura onde desenvolveu o roteiro de  longa metragem/série televisiva “Cartas Expedicionárias”; história de  época que retrata a vida  de  pracinhas da  FEB do  11ºRI de  São  João Del Rey/MG. 


Breve histórico de Serra Leoa e Togo

Serra Leoa. Independência da Inglaterra:  27 de abril de 1961.

Achados arqueológicos mostram que Serra Leoa foi habitada continuamente por pelo menos 2.500 anos, habitado por sucessivos movimentos vindos de outras partes da África. O uso do ferro foi introduzido na atual região do país por volta do século IX, e a agricultura passou a ser praticada por tribos que habitavam a costa do país por volta do ano 1000. A densa floresta tropical presente na localidade praticamente serviu de refúgio para os nativos da região, que não receberam muita influência dos impérios pré-coloniais africanos16 e da influência islâmica encontrada no Império do Mali. A fé islâmica, no entanto, só tornou-se abrangente no século XVIII.

A Serra Leoa foi uma das primeiras nações do oeste africano a ter contato com os europeus. Em 1462, o explorador português Pedro de Sintra mapeou as colinas onde agora situa-se o Porto Freetown, cuja formação na época eem ra forma da Montanha de Leão (também chamada de Serra do Leão), que originou o nome do país. Comerciantes portugueses chegaram ao porto por volta de 1495, quando um forte que agiu como um posto de comércio foi construído.18 Os portugueses juntaram-se aos holandeses e franceses e todos estes passaram a usar o território da Serra Leoa como um ponto estratégico do comércio de escravos. Em 1562, a Inglaterra juntou-se aos três países no tráfico de seres humanos, quando Sir John Hawkins enviou 300 pessoas escravizadas para as novas colônias na América.

Educação em Serra Leoa
A Educação em Serra Leoa, um país da África Ocidental, é legalmente exigida para todas as crianças a partir dos seis anos no ensino primário, e três anos de ensino secundário geral.1 Entretanto, a falta de escolas e professores tem feito a execução impossível. A Guerra Civil de Serra Leoa resultou na destruição de 1.270 escolas primárias e, em 2001, 67% de todas as crianças em idade escolar estavam fora da escola. A situação melhorou consideravelmente desde então, com a duplicação de matrículas em escolas primárias entre 2001 e 2005 e a reconstrução de muitas escolas desde o fim da guerra. As escolas foram fechadas no início de junho de 2014, por causa do vírus Ebola.

Cultura
Os Mendes, Temnes e outros grupos têm um sistema de sociedades secretas que encarregou-se através dos séculos de transmitir a cultura das diferentes tribos. Estas são inculcadas aos membros de cada grupo desde a infância. Por este secretismo a maioria das atividades culturais estão vedadas ao estranho. A língua oficial da Serra Leoa é o inglês, mas a lingua franca de facto é a língua krio, materna para os Crioulos da Serra Leoa mas falada por 98% da população.
 

Togo. Independência da França: 27 de abril de 1960.

O Togo, oficialmente República Togolesa, é um país africano, limitado a norte por Burkina Faso, a leste por Benim, a sul pelo Golfo da Guiné e a oeste por Gana. Capital: Lomé. Localizado no oeste da África, Togo é constituído por um estreito território que reúne povos de diferentes origens. O grupo étnico euê, o mais numeroso (45,4% da população), concentra-se no sul, perto do litoral, a região mais desenvolvida. A maioria dos habitantes vive da agricultura, cujos principais produtos são o algodão e a cana-de-açúcar. O país é importante centro de comércio regional graças ao porto de sua capital, Lomé.

Do século XIV ao XVI, povos de língua ewe, provenientes da Nigéria, colonizaram o atual território do Togo. Outras tribos de língua ane (ou mina) emigraram de regiões hoje ocupadas por Gana e Costa do Marfim, depois do século XVII. Durante o século XVIII, os dinamarqueses praticaram na costa de Togo um bem-sucedido comércio de escravos. Até o século XIX, o país constituiu uma linha divisória entre os estados indígenas de Ashanti e Daomé.

Em 1847 chegaram alguns missionários alemães e, em 1884, vários chefes da região costeira aceitaram a proteção da Alemanha. A administração alemã, ainda que eficiente, impôs trabalhos forçados aos nativos.

Os alemães foram desalojados durante a Primeira Guerra Mundial e, em 1922, a Liga das Nações dividiu o Togo entre o Reino Unido e a França. Em 1946, esses dois países colocaram seus territórios sob a custódia das Nações Unidas. Em 1960 a porção britânica foi incorporada ao território da Costa do Ouro (atual Gana), enquanto os territórios franceses se transformaram na República Autônoma de Togo em 1956. O país conquistou a independência completa em 1960, embora tenha continuado a manter estreitas relações econômicas com a França.
As relações do Togo com Gana foram difíceis enquanto Kwame Nkrumah presidiu o país vizinho, mas melhoraram após sua deposição. Durante a década de 1960, assassínios políticos e golpes de estado culminaram em 1967 com a ascensão do general Étienne Gnassingbe Eyadema ao poder. Uma nova constituição foi adotada em 1979 e Eyadema proclamou a terceira república togolesa. Em 1982, o fechamento de fronteiras decretado por Gana para conter o contrabando resultou em conflitos entre os dois países. Em 1985, o regime de Eyadema começou a se liberalizar. O general convocou em 1991 uma Conferência Nacional que suspendeu a constituição e elegeu Joseph Koffigoh, um civil, para o cargo de primeiro-ministro. Em 2006 concordam em formar um governo de transição o governo e a oposição.

A cultura do Togo reflete as influências dos seus trinta e sete grupos étnicos, a maior e são mais influentes do que as Ewe, Mina, e Kabye. O francês é o idioma oficial da República do Togo. As muitas línguas africanas indígenas faladas pelos togoleses incluem: línguas Gbe como a Ewe, Mina, e Aja, Kabye, e outras. Website governamental: http://www.republicoftogo.com/

Fonte: Wikipédia
 


Serviço
Quem: "Hoje", ficção. Direção de Alain Gomis (Senegal) e "O Samba do Cururuquara", documentário. Direção de Renato Cândido (Brasil).
Quando: 18/abril/2015, sábado, 19 horas.
Porque: Neste mês de abril o Togo se tornou independente em 27.04.1960 e Serra Leoa (Freetown) em 27.04.1961. O Cineclube Afro Sembene e o Fórum África, prestam homenagem aos dois países com uma sessão especial dose dupla. Seguido de roda de conversa.
Tipo: Atividade cineclubista e ação social, pedagógica, cultural e solidária, sem fins lucrativos.
Onde: PUC CONSOLAÇÃO.
Endereço: Rua Marquês de Paranaguá, 111 - sala 20.
Referência: Travessa Rua da Consolação - próximo ao Mackenzie – entre metrô República e Paulista
Informações: www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br - cineafrosembene@gmail.com - (11)99750-1542
Ingresso: Entrada franca. Porém pede-se a voluntária colaboração de 2 kilos de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que acolhe diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.
Realização: Fórum África.
Apoio: Cabeças Falantes.


Pesquisa e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Fórum África e Cineclube Afro Sembene.

quarta-feira, 25 de março de 2015

Angelique Kidjo faz duas apresentações no SESC Vila Mariana

A cantora beninense é radicada em Paris e atualmente vive em Nova York. Em 2008, ganhou o Grammy Awards de "Melhor Álbum de World Music", com o disco Djin Djin e este ano também levou o mesmo prêmio com seu último álbum, Eve.

É mundialmente conhecida por sua diversidade musical, interpretando canções em fon (língua falada no Benim e em outras regiões da África Ocidental), yorubá, francês e inglês. Seu álbum Eve, apresenta uma imersão musical em sua África natal, cujo título remete não só à Eva bíblica como ao nome do meio de sua mãe, que participa de uma das faixas do disco.

Angelique também é Embaixadora da Boa Vontade pela UNICEF, atuando especialmente no combate à epidemia da Aids, pobreza, fome e conflitos de guerra, além de ter criado a Fundação Batonga, que angaria fundos para a educação de meninas na África.

Serviço
Angelique Kidjo 12
SESC Vila Mariana
Quarta e quinta-feira, 24 e 25/03/15 - 21 horas
Rua Pelotas, 141 - Vila Mariana, melhor acesso pelo metrô Ana Rosa.
Ingressos:  R$ 15,00 - R$ 25,00 - R$ 50,00

segunda-feira, 16 de março de 2015

Basta e Vidas de Carolina abrem nosso encontro mensal com o cinema africano 2015



CONVITE
Venha ao nosso encontro mensal com o cinema africano.
21/03/2015 - sábado - 19 horas - Cineclube Afro Sembene, Fórum África e Cojira convidam

Sessão Especial
Dia Internacional da Mulher/Dia Internacional Pela Eliminação da Discriminação Racial
Basta (Barakat), Djamila Sahraoui, Argélia e Vidas de Carolina, Jéssica Queiroz, Brasil.
Roda de conversa após exibição. Tema: Violências, Resistências, Superações.


PUC CAMPUS CONSOLAÇÃO
Rua Marquês de Paranaguá, 111, sala 20
Travessa Rua da Consolação, próximo ao Mackenzie, entre metrô República e Paulista
Informações: www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br - cineafrosembene@gmail.com

ENTRADA FRANCA. Porém pede-se a voluntária colaboração de 2 kilos de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que acolhe diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.

Realização: Fórum África
Parceria: Sindicato dos Jornalistas de São Paulo/Cojira
Apoio: Cabeças Falantes.

"Desespero" e "Mulher" - Duas cronicas de Antonio Matabele direto de Moçambique


Desespero
      SOCORRO! A nível planetário vivemos, perigosamente, em clima de falta de esperança global. Porque não vislumbra o futuro, o Homem deixou de acreditar em si próprio! É mau! É perigoso! É destrutivo!

Ante problemas materiais ontem fúteis, mas hoje emancipados ao escalão de hecatombes sociais, o Homem dito civilizado, na maioria das vezes urbanizado, vive em crescente e permanente estado de desespero e angústia doentia.

Com, talvez, algum sentido de oportunismo, explorando este estado de sem esperança dominante no seio de algum extracto populacional, deserdado de património e sem rendimento regular suficiente, os credos religiosos proliferam em vã tentativa de trazer a tranquilidade material e espiritual, momentaneamente, perdida pelas pessoas.

Digo “momentaneamente” porque tenho fé em Deus, que insuflará mais ânimo neste Povo lutador, no Estado, que terá que ser mais interventor na definição de políticas para a economia andar mais depressa e segura e nas palavras, penso que do experiente, Louis Larose, Representante do Banco Mundial, para África recentemente proferidas em Maputo, segundo o qual esta “crise é passageira e dias melhores virão” e que adicionalmente temos que “investir no capital humano, porque sem ele não importa a perfeição dos planos estratégicos” (in, O PAÍS ECONÓMICO, dia 06/03/15, páginas 4 e 5)

O desemprego, fonte provedora, por excelência, de algum conforto moral ao Homem que se esvai em desespero, grassa, de modo galopante, em vários cantos do mundo, incluindo, também, na economia de Moçambique. Os moçambicanos continuam sendo oprimidos pelo desemprego!

O pai não sabe se chegando ao seu precário local de trabalho não será tristemente “agraciado” com uma carta anunciado a cessação do seu vinculo laboral ao abrigo de uma determinada alínea da Lei do Trabalho em vigor.

E como já lá vão os belos tempos em que ainda havia legislação laboral protegendo proporcionalmente empregados e patrões, o coitadinho do Homem, situado do lado mais fraco da balança, vive em eterno desespero e incertezas sobre o devir.

Por este estado permanente de desespero paga toda a sociedade, com especial ênfase os filhos, a esposa, os colegas, os amigos, os transeuntes na via pública, etc. Enfim, pagam todos menos o, talvez, verdadeiro culpado: o sistema dito civilizado que mal distribui pela maioria das pessoas as riquezas disponíveis no Planeta Terra. O tal sistema do livre curso da mão invisível apenas vista pelo selvático capitalismo em avançado estado de morte dialéctica.

Não sei qual dos lados em desespero é o mais perigoso? Se o dos trabalhadores? Se o dos donos do grande capital? E porque é difícil estarmos equidistantes do fenómeno, não há quem esteja isento desta verdadeira praga social.

Acreditemos, como sempre o fizemos, que o remédio para este desespero está, mais uma vez, na mesma vontade popular que libertou Moçambique das garras do colonialismo, porque “não basta muita oração e pouca acção”, tal como nos ensina Gabriel o Pensador, cantor do Brasil. 

Maputo, da margem do Rio Pitamacanha, 11 de Março de 2015.
        _______________________________________________

Mulher

A Mulher é o ser mais completo e complexo que habita a Terra. Nesta sua inescrutável complexidade se esconde a sua inesgotável riqueza. Mulher, esta “coisa” meiga, boa e bela que Deus nos deu! Se mais génio tivesse, outra actividade não teria senão cantar, eternamente, as suas inúmeras qualidades...

Falar da evidente importância da Mulher é tão delicado porque arriscamo-nos a não enfatizar o seu verdadeiro valor. Quanto mais cantamos as qualidades deste tronco da nossa sociedade chamado Mulher, constatamos que deixamos, sempre, o principal de fora.

A Mulher, berço da humanidade, é a guardiã que garante a continuidade da espécie humana na Terra.

Esta humanidade que, à medida que se vai socializando no meio deste cada vez mais incessante progresso tecnológico, precisa de ter melhor alimentação tangível e daquela outra não acessível ao nosso tacto, mas importante complemento espiritual à nossa condição de Homens.

Desde a complicada fase da concepção, gestação, parto e aleitamento, o Homem está inelutavelmente dependente dos cuidados que só a Mulher pode, sabe e deve dar biológica, moral e socialmente.

A mulher cuida do Homem desde a fase embrionária da sua vida, em seu útero, garantindo a sua evolução e após o nascimento, a mãe redobra-se em atenções para que o seu filho se desenvolva.

Desde o período do aleitamento materno até que a criança comece a comer sózinha, esta Mulher mãe não sossega de controlar o que ela ingere. Os cuidados maternos ficam redobrados quando a nova criatura começa a gatinhar expondo-se a múltiplos perigos existente dentro e fora de casa.

Desde que não haja uma situação anormal de escassez de alimentos na sociedade, com seu conhecimento empírico e instintivo, a mulher sabe o que deve dar ao seu filho para que este cresça saudável.

A Mulher tem a ingrata, mas nobre, tarefa de zelar para que o seu filho, co-criado, com a participação do seu pai, se torne adulto dotado de excelentes qualidades morais e profissionais.

No dia Oito de Março, anualmente, o mundo celebra este ente inteligente, esperto, astuto, misterioso, sem igual, lindo que é a Mulher. A Mulher é exaltada neste seu dia internacional não somente porque ela, heroicamente, fez na data que é celebrada em todo o mundo, mas sim porque mesmo antes e depois daquele feito corajoso, ela é o elemento mais fundamental da nossa sociedade.

Assiste-se, infelizmente, ao nível planetário uma crescente degradação de valores entre os Homens, em que a fraternidade, a solidariedade, a honradez, o amor pelo próximo e o respeito entre pessoas vai, progressivamente, desaparecendo e em seu lugar surgem comportamentos indignos na família humana.

Jamais culparia à Mulher por este deserto de valores na nossa sociedade, mas por ela ser obrigada a deixar de cuidar da educação caseira da sua criança, esta cresce sem referências morais de excelência e então, sucedem-se os desastres comportamentais sociais no adulto que nos repugnam.

Em nome da bem-vinda emancipação da Mulher esta já trabalha, com muita competência, fora de casa, mas deixa nesta um vazio de consequências incomensuráveis em que o seu filho, o Homem de amanhã é educado apenas pela escola convencional e pela sociedade, faltando-lhe este sal que somente a mãe sabe dosear ao longo do seu processo de formação como Pessoa.

Sem prejudicar o necessário processo de emancipação da Mulher, estudemos, colectivamente, formas de a enriquecermos sem estragar o Homem de amanhã, escondido na criança de hoje, que já não é ensinada, principalmente, pela mãe, que tem que ir para o mercado também trabalhar. Com isto não se pretende afirmar que “a tarefa da educação caseira deve ficar apenas nas mãos da mulher. Tem que haver partilha e sintonia de responsabilidades de ambos os progenitores para que o processo de emancipação da mulher não seja ainda mais complexo e complicado na nossa realidade, onde impera e emperra muito o machismo. Há, com efeito, muita coisa que podemos e devemos fazer como pais (homens) na educação caseira dos nossos filhos que se ficar nos ombros da mulher sozinha, não teremos a educação que almejamos para os nossos filhos. Nós homens não podemos dar de mamar, mas tudo o resto que exige na criação de uma criança, podemos. Podemos dar biberon, maudar fraldas, dar banho, brincar com as crianças, levá-las à creche/escola, tomar conta delas quando não está com a saúde a 100%, etc” (in, JL, 09/03/15).
E bem haja a Mulher emancipada, que ajuda o Homem a perceber que a sociedade é feita por ambos igualmente importantes.  

Maputo, N’siripwiti, 13 de Março de 2015.

domingo, 8 de março de 2015

“Timbuktu”: um filme imperdível de uma das grandes vozes do cinema Africano

“Timbuktu” do realizador mauritano Abderrahmane Sissako. O filme baseia-se em acontecimentos reais e é uma história apaixonante e muito bem filmada. A longa-metragem nomeada para o Óscar de melhor filme estrangeiro retrata a invasão de Timbuktu pelos islamitas radicais que pretendem impor a xária.

O argumento gira em torno de um pastor tuaregue que vive tranquilamente com a família no deserto. No início, ele escapa aos islamitas, mas a situação muda após uma briga mortal com um pescador.
Grande contador de histórias, Sissako recusa o cliché do bem contra o mal. O realizador prefere centrar-se nas personagens e nas contradições próprias do ser humano. Uma forma de mostrar a hipocrisia daqueles que querem impor a xária.

Numa das cenas, um imã moderado pede de forma calma e firme a um grupo de homens armados para abandonarem a mesquita. Ao receber ordens para usar luvas em público, uma vendedora de peixe pede para lhe cortarem as mãos.

Apesar da tragédia que se desenrola na cidade, com pessoas a serem chicoteadas e apedrejadas, o filme também nos faz sorrir. O momento mais mágico é quando os rapazes jogam futebol com uma bola invisível mesmo apesar do jogo ter sido proibido.

“Timbuktu” é um filme imperdível realizado por uma das grandes vozes do cinema Africano.

Fonte:  Euronews

África do Sul e o fotoativismo gay de Zanele Muholi


Fotógrafos excelentes não faltam na África do Sul: David Goldblatt, Santu Mofokeng, ZwelethuMthetwa – todos renomados internacionalmente e com trabalhos que valem a pena uma ou várias espiadas. Mas entre todos, um nome se destaca. Zanele Muholi com sua obra ultrapassa as fronteiras da arte e abraça uma luta social: “Não sou fotógrafa, sou ativista visual”.

Ainda jovem começou a se dedicar a uma vida de proeminente ativismo no empoderamento de mulheres negras lésbicas no país, que apesar de conter uma das legislações mais gay-friendlys do mundo, tendo sido o quinto a legalizar o casamento homossexual, ainda está juntando esforços para levar as leis até a realidade da população, que reprime, sobre tudo, o lesbianismo entre as mulheres negras. Zanele está encabeçando o movimento.

Para ela, o ativismo visual é um lugar de resistência para as mulheres marginalizadas e pode ser utilizado socialmente, economicamente e culturalmente para a construção de um novo olhar, abrindo espaço para diálogos e desafiando o silencio da sociedade. “Eu trabalhei duro para criar imagens positivas e socialmente significativas de lésbicas negras. E assim temos feito um movimento significativo em direção à nossa visibilidade. Tem sido minha principal missão garantir que aqueles que vêm depois de nós terão outros olhos para enxergar”, explica Zanele.

Entre os seus trabalhos, Faces e Fases (fotos da ilustração) é um dos mais consagrados, são retratos de uma privilegiada e íntima perspectiva das lésbicas negras que a artista conheceu durante suas pesquisas enquanto ativista. Trata-se de um mapeamento que objetiva preservar uma comunidade ainda invisível para a posteridade. Nas palavras da premiada idealizadora: “Faces e Fases é sobre nossas histórias e as lutas que enfrentamos. Se Faces expressa a pessoa, Fases significa a transição de um estágio da sexualidade ou gênero de expressão e experiência para outro”. A artista, que já fotografou 250 retratos, pretende dar continuidade a série e alcançar o número 500 até 2013.

“Without a visual identity we have no community, no support network, no movement. Making ourselves visible is a continual process” (Sem uma identidade visual nós não temos nenhuma comunidade, nenhuma rede de apoio, nenhum movimento. Fazer-se visível é um processo contínuo). Joan E. Brien (1983) – Citação dos escritos de Zanele.

Conheça mais sobre o trabalho da artista:
Stevenson
Zanelemuholi

Blacklooks

Fonte: Afreaka
_________________________________
Pesquisa e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Fórum África e Cineclube Afro Sembene.