segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Três Crônicas de Antonio Matabele diretas de Mozambique

Mens sana in corpore sano
António Matabele - Maputo, 19 de Agosto de 2015

Kwame e Kauã, seus netos ainda unigénitos e por isso predilectos, orgulharam-se de mais esta proeza do avô. Ele, no dia 08 de Agosto de 2015, Sábado, correu numa competição de dez quilómetros de distância.

Então os 45 anos de presença física do avô nesta cidade foram celebrados correndo, competindo primeiro consigo próprio e só depois com os restantes 499 atletas inscritos no certame pedestre com o qual as CDM – Cervejas de Moçambique – quiseram celebrar os 20 anos da sua existência.

Por timidez de feitio, o seu avô, às suas raras e pequenas grandes proezas, não costuma dar-lhes publicidade, por isso eles, os netos, prometeram sempre referir-se a esta última em todos os elogios que lhe fizerem, incluído, também, o fúnebre.

O livro é excelente para exercitar o nosso intelecto! Os alimentos fazem muito bem ao corpo! O exercício físico é o cimento que faz a junção de ambos os benefícios, dando origem à máxima da “mens sana in corpore sano” (mente sã em corpo são).

A competição começou, pontualmente, na hora prevista, às 07,30 horas, no Parque dos Continuadores, na Avenida Mao-Tsé-Tung. O trajecto progrediu pela Avenida Julius Nyerere até à Embaixada da China. Virou à esquerda e percorreu parte da Avenida do Zimbábwé. Na Avenida Kim Il Sung, alcançou a Kenneth Kaunda e desta foi só descer a Avenida Joaquim Chissano até à meta final, na fábrica das Cervejas de Moçambique (CDM), no Bairro do Jardim.

Duas imperdoáveis asneiras foram cometidas pelo avô. A primeira, quis competir com os jovens. Estes, de imediato, cansaram-no precocemente. A segunda, esqueceu-se do seu rival permanente interno, a auto-comiseração.

Se não tivesse feito aquelas duas asneiras teria feito todo o percurso a correr, pois tem feito distâncias bem maiores correndo, quando o seu adversário é o próprio.

Mas mesmo assim não ficou de todo mal classificado. Fez a prova, 10 quilómetros, em 65 minutos (6,5 minutos por cada quilómetro). Não fez vergonha. Na lista dos veteranos ficou em 29º lugar. Depois dele, cortaram a meta cerca de 30 atletas de todos os escalões. Havia no global 500 atletas, divididos em Federados, Populares, Veteranos e Trabalhadores das CDM. Dos atletas 55% eram Homens e 45% mulheres. Fez uma corridinha mista. Caminhou 30% e correu 70% do percurso. A organização da prova felicitou-o pelo facto de ter sido o atleta mais velho da prova, 63 anos. O vencedor fez o percurso em 29 minutos (2,9 minutos por cada quilómetro). Foi um “puto” de 18 anos que correu “à pata desarmada de sapato”, completamente descalço e o último fez em 97 minutos (9,7 minutos por cada quilómetro). Uns desistiram pelo caminho e outros apanharam boleia de carro e desceram perto da meta. Foi uma manhã muito divertida.

“A prova foi motivo para competição, porque ganhar é importante, mas constituiu pretexto para um são convívio entre pessoas” (João de Sousa, in “Banha de Cobra”, 12/08/15). Exorta-se a todos que lerem esta prosa para se preparem para outras provas similares que acontecerão brevemente na nossa cidade e País.

Exercitar o corpo é muito bom! Os músculos agradecem! Os pulmões pulam de alegria! O coração, esse, fica forte que nem o da tartaruga, cuja longevidade ultrapassa os 200 anos.
Afinal correr é saúde!

45 anos
António Matabele - Maputo, 12 de Agosto de 2015

De mala às costas, contendo apenas 3 mudas de cada peça da minha modesta indumentária de estudante, a esta capital cheguei, num Sábado às 16,04 horas, do dia 08 de Agosto de 1970.

Viajei num dos Boeing da DETA (Direcção de Exploração dos Transportes Aéreos) dos Caminhos de Ferro de Moçambique. DETA génese da LAM, nossa actual companhia aérea de bandeira.

Passam-se 45 anos, feitos no dia 08/08/2015 que cheguei a Lourenço Marques, cidade fervilhante, mas não híper-povoada nem com tanto dinamismo como a nossa actual Maputo.
À casa de amigos no então Bairro das Lagoas fui morar, ao lado da 4ª. Esquadra da PSP (Polícia de Segurança Pública), actualmente Sexta Esquadra da PRM (Polícia da República de Moçambique), localizada na Avenida Acordos de Lusaka, bem defronte da histórica e lendária Mafalala, multicultural, multiétnica, multitribal, enfim, multitudo até de coisas inconfessáveis.

Uma vez acomodado três coisas procurei: uma Igreja, para a Deus agradecer por aquela graça que me estava concedendo; o Instituto Comercial de Lourenço Marques, para me inscrever aos exames de admissão naquele estabelecimento de ensino; um recinto desportivo, aonde pudesse praticar ginástica e outras actividades desportivas.  
Eu tinha os meus imberbes, acanhados, virginais e imaculados 18 anos de idade. Se a mala vinha semi-vazia de roupas, ela trazia o essencial dos livros das disciplinas nucleares que eu precisava para os exames de acesso ao ex-Instituto Comercial de Lourenço Marques.
Sem ser crendice infundada, corria a fama de os exames em Lourenço Marques serem mais rigorosos que os da sua congénere na Beira. Por isso, naquele ano eu tenha sido quase o único de Nampula a vir enfrentá-los em Lourenço Marques. A hipótese de ir fazer o meu exame à Beira fora descartada porque não tinha aonde me hospedar de graça ou a preço módico. Com efeito, para além de mim para esta cidade vieram apenas o Fernando Souto, o Augusto Vilela e a sua namorada, hoje ainda sua esposa, a Augusta. Este casal tinha dispensado às provas de admissão porque tinha tido boas notas na Escola Secundária em Nampula.

Mas eu vinha pesado de uma intangível carga que era a fé, a esperança, a vontade de vencer misturada com o medo de falhar logo no começo da corrida, ou a meio dela.

Tudo corre bem até hoje, graças a Deus, aos sempre oportunos conselhos dos meus pais e à mulher que Ele me escolheu, que me retrouxe para a verdade, livrando-me do abismo da quase perdição certa que estava em vias de nela resvalar.

Ingressei para o Instituto Comercial por dispensa, às provas orais, com boas notas.

Durante os dois anos de Instituto, que me davam acesso ao Curso de Economia na Universidade, também, graças ao esforço titânico que eu fizera, tive tão boas notas que dispensei ao assim chamado exame de aptidão à Universidade com 18 valores, quando a nota exigida para o efeito era somente de 14 valores. Durante o dia tinha as minhas aulas normais no meu estabelecimento de ensino e à noite ia assistir às aulas das duas disciplinas nucleares de acesso à Universidade, como aluno externo, no ex-Liceu Salazar, cujas instalações faziam meias paredes com as do Instituto Comercial.

Eu estudava com muita garra, quase a raiar à “raiva”, porque tinha medo de não beneficiar de adiamento ao alistamento à tropa, facto que aconteceria se até aos 21 anos de idade eu não fosse já estudante universitário. E ingressei para o ensino superior aos vinte anos de idade, já atrasado porque para além de ter seguido a via do ensino técnico profissional, que tinha mais um ano que o liceal, somava no meu palmarés o atraso de dois anos de reprovação no ensino secundário. Averbei, aos 10 anos de idade, um “chumbo” no primeiro ano do Ciclo Preparatório. Perdi o ano por faltas porque no lugar de assistir às aulas ficava no átrio da escola a jogar a bola. E o outro foi no segundo ano do Curso Geral do Comércio, quando vivi a crise da entrada para a idade dos “teenager”, ou seja, da puberdade aos 13 anos.

Escuso-me a detalhar a tamanha sova que levei da minha mãe em ambas as vezes, dada a sua dupla função de progenitora e de encarregada de educação.

Em Lourenço Marques – no Instituto Comercial e na Faculdade de Economia – fui aluno acima da média. Com o advento da Independência Nacional larguei, temporariamente, os estudos. Nesta etapa da minha vida foram-me extremamente úteis os conselhos da minha mulher e da sua sogra.

Nos primeiros anos em Lourenço Marques vivi a expensas dos meus pais, quando ingressei para a Universidade, em 1972, beneficiei de uma gorda bolsa de estudos e em 1973, ainda estudante, comecei a trabalhar como bancário no ex-Instituto de Crédito de Moçambique, que, após várias metamorfoses, deu origem ao Banco Popular de Desenvolvimento, hoje Barclays Bank de Moçambique.

Perdoem-me por falar de mim mesmo. Mas este passeio nostálgico de revisitação ao meu passado tem um óptimo efeito terapêutico.  

Praia da Costa do Sol
António Matabele - Maputo, 14 de Agosto de 2015

Esta reflexão é dedicada à minha companheira de luta pela vida. Avó dos meus netos. Mãe dos meus filhos. Minha mulher de tantas boas cumplicidades vividas juntos durante estes 41 anos de vida conjugal participativamente intensa. Pelo seu notável desempenho como nora, foi pelos meus tios eleita “Rainha dos Matabele” e que hoje tem a graça de somar pouquinhos 63 anos de idade. Parabéns! Longa Vida com Saúde, Paz e Dinheiro, minha querida amiga Gila, minha família, de facto. Ela já é tão minha família que, por vezes, temo estar a viver com ela em permanente pecado e crime de incesto. 

Quando eu for mais crescido e dotado de sabedoria quase bastante que, algumas vezes, só a idade muito adulta nos confere, gostaria de me dedicar à discussão da educação com os meus netos, filhos e pessoas da minha faixa etária também.

Discussão de aspectos práticos inerentes à educação como conjunto de códigos que permitem a pessoa a melhor coabitar neste vale de prazeres convencionado chamar-se-lhe planeta terra.

Uns, normalmente, pessimistas dizem que a terra é o espaço onde a pessoa sofre e por isso a apelidam de “vale de lágrimas”. Não concordo com esta acepção, porque de alegria o Homem também costuma verter lágrimas. E a nossa passagem por esta terra é tão boa que Deus e a mãe natureza não a eternizaram. Afinal o que é bom acaba depressa.  

Fascinam-me sobremaneira a História, o Meio Ambiente e a Economia. Esta última como machamba na qual encontro parte dos rendimentos para garantir a minha sobrevivência. Por isso, seria sobre estas áreas que gostaria de discutir quando estivesse a experimentar o gozo da terceira idade.
Sem querer, falei de sobrevivência. Esta está cada vez mais difícil à medida que o tempo da pessoa idosa corre para o ocaso. Difícil, por exemplo, porque a dieta da pessoa da terceira idade começa a exigir frugalidade quantitativa e qualitativa e é cara. O assim dito velhote, já não pode comer tudo. E mesmo apesar de muitos cuidados também na esfera alimentar começa a constatar que as doenças iniciam o seu irreversível assédio à sua saúde. A pessoa idosa começa a virar pastagem aonde as doenças vêm, gulosamente, saciar-se!
  Mas voltando ao propósito desta reflexão, que é falar da nossa, novamente, embelezada porque reabilitada, Praia da Costa do Sol, eu gostaria de dizer que as minhas discussões em capítulo de Meio Ambiente teriam como pano de fundo aquele espaço de veraneio da nossa cidade.

Para concretizar este objectivo, desenvolveria, com a ajuda dos “mídia”, uma série de textos e ideias visando a conservação daquela nossa praia em estado de permanente beleza e asseio.

Exortaria, por exemplo, a, uma vez por semana, irmos caminhar na sua areia para enrijecimento muscular, pulmonar e cardiovascular e nas suas águas, agora límpidas, mandar um mergulho.

Lembraria, à laia de propaganda, que a septuagenária Tina Turner, cançonetista afro-norte-americana, por alguns de nós, muito admirada, vivendo na Suíça por se ter casado com um nativo daquele País helvético, mantém aquela esplêndida forma física porque faz caminhadas diárias de duas horas nas areias, imaculadamente límpidas, do Lago Léman. Se mantivermos a nossa Praia limpa e atractiva poderemos tentar idêntica proeza. 
Insistiria que, sem asseio, aquela praia virará a local de contracção de feias e perigosas doenças físicas e até psicológicas e morais.

Pediria que, a todo o custo, fossem travadas as incursões e investidas dos frequentadores do popularmente chamado “calçadão”, que para ali convergem, à alta velocidade, para exibir os seus carros topo de gama, as mega aparelhagens instaladas nas suas viaturas e outras coisas afins e que por ali deambulam mostrando ostentação, a nova namorada, a marca da cerveja ou do “whisky” que sorvem, em espectáculo repugnante que constitui um atentado à moral e aos bons costumes.

Pediria às autoridades municipais para – nem que fosse em regime de PPP (Parceria Pública Privada) – criar condições de nesta nossa praia termos um sistema de segurança eficiente contra os desastres humanos no mar; os amigos do alheio; os que atentassem contra o pudor público. Tivéssemos balneários e casas de banho sempre limpos; quiosques e barracas com limpeza, ordem e higiene; equipamentos para ginástica localizada (barra fixa); mini-campos para a prática de desportos; recipientes profusamente distribuídos para recolha de lixos biodegradáveis e sólidos como garrafas, caixas e plásticos. Enfim, tudo para fazer da nossa Praia uma réplica das melhores praias do mundo e um lugar que levará as pessoas a procurarem-no como sendo de visita obrigatória para entretenimento e cura preventiva ao “stress” e outras doenças de índole psicossomática.

Lembraria que outro aspecto que as autoridades não poderiam nem deveriam deixar progredir é a tendência, crescente, de algumas confissões religiosas transformarem a nossa praia num imenso local de culto: cânticos, danças, gritarias, rituais esquisitos e orações religiosos. Algumas vezes é incluída a prática do sacrifício de aves (galinhas brancas e patos) e animais quadrúpedes de pequeno porte: cabritos, coelhos, porcos e até cães.

Se esta situação continuar a desenvolver-se no caminho que parece estar a tomar, a praia virará a lugar de culto não ecuménico e a sua função de espaço de recreação e lazer ficará apenas uma miragem. 

Minhas respeitáveis e meus simpáticos co-munícipes, esforcemo-nos individual e colectivamente para que a nossa Praia da Costa do Sol seja uma agradável sala de lazer e de prazeres lúdicos da nossa linda cidade de Maputo.

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