domingo, 4 de dezembro de 2011

Maamy, um filme para ser visto 100 vezes antes de morrer

Meses passados, durante o trajeto de onibus Cidade Tiradentes - Vergueiro, sentido para o qual eu me dirigia para entregar livros na biblioteca do Centro Cultural São Paulo, uma garota que dividia comigo o assento foi repetindo a mesma música no celular ou smartphone como se diz atualmente. O percurso dura em média 2hs20min., ainda bem que ela estava com fone de ouvido. Se esta música tem videoclipe nas redes sociais, quantas vezes será que ela assiste quando está em casa? - indaguei aos meus botões.


Existem filmes, livros, peças, canções, dentre outros generos que se for possível visitá-los 100 vezes antes de morrer,  o fazemos sem pestanejar.  Atualmente estou com um caso de amor com o filme Maamy, do diretor nigeriano Tunde Kelani (foto), dentro da programação "Bem-vindo à Nollywood - Primeira mostra de cinema nigeriano no Brasil",  até dia 4/12. A mostra, que teve início dia 18/11 no Cine Olido, estende-se até o dia 4/12 na Cinemateca Brasileira (confira salas e horários). Maamy conta a história de Kashimawo, um jogador de futebol bem sucedido que, no período que antecede a Copa do Mundo de 2010, recorda sua infância difícil em Abeokuta, uma cidade no sul da Nigéria. O filme é uma adaptação do romance homônimo de Ferri Osofisan.



O cinema da Nigéria tem crescido nos últimos anos e, embora seja um mercado extremamente informal, teve uma grande explosão de produção nos últimos anos que tem chamado a atenção mundial por suas características únicas. Toda as produções são realizadas em vídeo. Sua produção é tamanha que já lhe rendeu o apelido de "Nollywood", pode ser considerada a terceira maior indústria de produção de cinema do mundo, atrás apenas de Hollywood e Bollywood. Em volume de produção, "Nollywood" talvez seja até a maior, já que desde o final da década de 1990 são feitos mais de mil filmes por ano, todos filmados e distribuídos em vídeo.

Minha família materna e paterna é de predominância feminina, de origem humilde, e  batalhadora - mesmo com formação limitada. São tantas as suas influências em mim presentes que não me envergonho em dizer ter recebido educação matriarcal. Neste contexto, a canção Maria, Maria - de Milton Nascimento está coincidentemente estampada em Maamy. 

                                                                                                                              
Quem assistir este filme, atente a dois diálogos entre mãe e filho: "A bondade é como uma corrida de revezamento, deve-se passar o bastão adiante assim que receber"; "Todos estamos atrás de comida. Muitos vão morrer, outros são meros expectadores."

Maamy é um filme imperdível e recomendável à mães, pais, filhos, amigos, vizinhos, simpatizantes,  cinéfilos, enamorados, correlatos. Sugiro aos responsáveis pela programação da TV Brasil, TV Cultura e mesmo das redes abertas sensíveis a produções que fogem aos engessantes padrões hollywoodianos, a assistir este filme com carinho.


Independente do expectador gostar ou não de futebol, Maamy expressa uma mensagem a ser refletida nos estádios cotidianos, pois mesmo sendo Kashi um jogador bem sucedido, ele não esquece as suas origens, e para enfrentarmos adversários maiores na Copa do Mundo, é preciso primeiro eliminar nossos fantasmas.

Nigéria só aprendeu a conquistar este espaço em 1992, quando o clássico Living in Bondage, do diretor Chris Obi Rapu, foi comercializado em camelôs e acabou vendendo mais de 750 mil cópias. A partir daí, usando o VHS, muitas produtoras resolveram fazer seus próprios filmes, que começaram tímidos e amadores, mas depois foram se mostrando verdadeiras receitas de sucesso.

Mensagem aos aspirantes
Para Jamie Meltzer, diretor do documentário Welcome to Nollywood: "Eu aprendi com os diretores de Nollywood que praticamente tudo é possível, desde que você tenha coragem de fazer acontecer com o que tem em mãos. É com essas circunstâncias que eles se encontram, não existe nenhuma desculpa para não se fazer filmes", explica. Ou seja: de celular a 35mm faça seu filme. Anos passados a assessoria do cineasta Spike Lee veículou nota de uma parceria dele com uma empresa de telefonia móvel para produção de filmes na telinha. Nada mais se comentou a respeito, mas alguns exemplos podem ser conferidos no Info Abril e Mobile Film Festival.  




De nossa parte, Maamy e toda filmografia de Tunde Kelani e demais cineastas de Nollywood é bem-vinda ao Brasil e torcemos para um dia termos a oportunidade de exíbi-los no Cineclube Afro Sembene., a exemplo de outras produções do continente africano, todo terceiro sabado mensal. Assista no link abaixo um trailer de Maamy.
                                                                     


Confira fotos da abertura de Bem vindo à Nollywood na página Cabeças Falantes do Facebook.


Serviço: 
Bem-vindo à Nollywood - Primeira mostra de cinema nigeriano no Brasil,Tunde Kelani, 18 de novembro a 4 de dezembro de 2011 - Cine Olido e Cinemateca Brasileira.

MAAMI -  (Nigéria, 2011, DVCAM, cor, 92’, legendas em português). Direção: Tunde Kelani. Elenco: Funke Akindele, Wole Ojo, Tamilore Kuboye, Ayomide Abatti. Produção: Jamiu Shoyode para Mainframe Productions 

Texto, fotos, pesquisa e postagem: Oubí Inaê Kibuko, Diretor de Comunicação e Marketing do Fórum África e Coordenador de Programação do Cineclube Afro Sembene.

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