quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pátria - crônica

…da margem do Rio Pitamacanha  
Maputo, 22 de Outubro de 2014

…que os moçambicanos reforcem a sua motivação para continuarem a estudar o seu País  e parabéns ao Povo de Angola pelo 11 de Novembro de 2014.




        Lawene, meu saudoso irmão, cujo nome de registo em seu BI é Júlio Ernesto Matabele, sempre trapalhão no falar, ainda miúdo da escola primária, no lugar de dizer Pátria, pronunciava “pátala” quando quisesse entoar a primeira estrofe daquela canção épica que nos era ensinada no tempo colonial “viva a pátria, viva a pátria, Portugal, Portugal, a linda bandeira sem igual” e ele dizia “viva a pátala, viva a pátala, Putugal, Putugal, a linda bandela shem iguali”! Ele que era de choro fácil e muito sensível à crítica jocosa, ficava lavado em lágrimas quando zombávamos dele pela sua forma exageradamente infantil de pronunciar as palavras.

        Com canções como estas, textos, objectos, medalhinhas, ícones, bonés e bugigangas sem fim era-nos incutido, desde tenra idade, pelo regime colonial e fascista, que éramos, também, portugueses e que a nossa pátria era a lusitana e que Portugal era a nossa metrópole.

        Fazia parte desta doutrinação patriótica ensinarem-nos até cantarolarmos de memória o percurso dos rios Tejo, Douro e do Guadiana e afluentes, da linha férrea do norte até Lisboa sem nada nos ser ensinado acerca do rio Zambeze, Save, Limpopo e dos nossos comboios cuja grande importância para Moçambique e para a região só poderia ser mensurada pela quantidade de pessoas e mercadorias transportadas anualmente nos milhares de quilómetros feitos internamente e pelo interior dos países do chamado “interland” fronteiriços de Moçambique. 

        Era de vital importância para o regime colonial-facista inculcarem em nossas cabeças que éramos, também, portugueses, portanto, abrigados na mesma pátria.

        Mas o que é afinal isso de Pátria?

        O nosso Hino Nacional exalta este conceito supra-nacional cuja abrangência é de uma transversalidade sem paralelo, ao ponto de o mesmo ter sido, oficiosamente, baptizado de “Pátria Amada”.

        Raros são os países em cujos hinos nacionais a pátria não seja carinhosa e epicamente exaltada. Os nossos irmãos de Cabo Verde dizem que ela é “morabeza”, palavra de difícil tradução porquanto a mesma é para ser intensa e intimamente sentida e reflecte o que de mais intrínseco e profundo existe da mais original, indígena, natural, autêntica e “caboverdianissima” maneira de ser estar e sentir o seu País.

        Esta bonita coisa de Pátria se não nos controlarmos poderá levar-nos ao paroxismo (clímax) de, irracional e emocionalmente, cometermos excessos de chauvinismo nacionalista, algumas vezes de resultados práticos perniciosos para o País.       

        Pátria é algo que pertence a todos os cidadãos de um País, não sendo de alguém em particular.

        Pátria não tem um só dono, mas tem um dono colectivo e poderosíssimo, que é o povo.

        Pátria é, portanto, algo transcendente e sublime que se confunde com o território aonde pessoas com as mesmas características somáticas, ou étnicas, ou linguísticas ou de outra natureza ou categoria aglutinadora, nasceram ou decidiram viver confinadas no mesmo espaço territorial geográfico, constituindo-se em forma de País e este, por sua vez, com elevado sentido unificador de Nação.

        A Pátria é o cimento que faz a argamassa aglutinadora de muitas pessoas em forma de Nação e que, subsequentemente, se organizam em forma de País – República ou Monarquia.

        A Pátria não é algo que apenas possuímos, pois ela é muito mais do que isto.

        A Pátria é algo que sentimos, com profunda sinceridade, dentro de cada um de nós. É! A Pátria sente-se no íntimo de cada um de nós!

A Pátria é o espaço onde o Homem organizado em forma de sociedade alcança a plenitude da sua felicidade.

        Por sentirmos a Pátria dentro de nós, temos o dever de, sem nada exigirmos dela à laia de ressarcimento, darmos o melhor de nós mesmos para o seu engrandecimento. Por esta razão, nas mais variadas frentes em que nos encontremos a desenvolver uma actividade teremos que dar o melhor de nós mesmos para o desenvolvimento da nossa Pátria.

        Em nome da Pátria, e para seu bem, os seus cidadãos devem abster-se de consumar actos considerados criminosos, imorais e de conduta pouco recomendável seja qual for o cargo, função ou posição por eles desempenhada na sociedade.

        Actos lesivos ao património pátrio - estou a referir-me ao erário público, atentatórios à dignidade da Pessoa Humana, desabonatórios ao merecido bom nome do País no convívio internacional e mundial - devem ser energicamente combatidos por todos os cidadãos, e os seus protagonistas julgados segundo a Lei.

        Trabalhemos com dignidade e abnegação sem limites no duro combate sem tréguas, rumo ao desenvolvimento da nossa Pátria.

        A nossa Pátria, repito-o, não tem um só dono porque ela pertence, de modo incondicional, a todos os moçambicanos que aqui nasceram ou decidiram adquirir a nossa cidadania. E por esta razão, Moçambique, que já é forte, tem condições potenciais – humanas e naturais - para se tornar uma referência na arena internacional.

        E termino citando “ipsis verbis” ou “ipsis litteris” o meu amigo João de Sousa que lá das terras mwangolês do Presidente António Agostinho Neto me diz que:no momento em que nos preparamos para mais um ciclo governativo, nada melhor do que incutir em todos nós, como a crónica refere, o verdadeiro sentido de Pátria. Belo texto. JS

Texto: António Nametil Mogovolas de Muatua - Moçambique. Pesquisa e montagem de imagens: Oubí Inaê Kibuko - Brasil.




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