Maputo, 22 de Outubro de 2014
…que os moçambicanos reforcem a sua motivação para continuarem a estudar o seu País e parabéns ao Povo de Angola pelo 11 de Novembro de 2014.
Lawene,
meu saudoso irmão, cujo nome de registo em seu BI é Júlio Ernesto Matabele,
sempre trapalhão no falar, ainda miúdo da escola primária, no lugar de dizer
Pátria, pronunciava “pátala” quando quisesse entoar a primeira estrofe daquela
canção épica que nos era ensinada no tempo colonial “viva a pátria, viva a pátria, Portugal, Portugal, a linda bandeira sem
igual” e ele dizia “viva a pátala, viva a pátala, Putugal,
Putugal, a linda bandela shem iguali”! Ele que era de choro fácil e
muito sensível à crítica jocosa, ficava lavado em lágrimas quando zombávamos
dele pela sua forma exageradamente infantil de pronunciar as palavras.
Com
canções como estas, textos, objectos, medalhinhas, ícones, bonés e bugigangas
sem fim era-nos incutido, desde tenra idade, pelo regime colonial e fascista,
que éramos, também, portugueses e que a nossa pátria era a lusitana e que
Portugal era a nossa metrópole.
Fazia
parte desta doutrinação patriótica ensinarem-nos até cantarolarmos de memória o
percurso dos rios Tejo, Douro e do Guadiana e afluentes, da linha férrea do
norte até Lisboa sem nada nos ser ensinado acerca do rio Zambeze, Save, Limpopo
e dos nossos comboios cuja grande importância para Moçambique e para a região
só poderia ser mensurada pela quantidade de pessoas e mercadorias transportadas
anualmente nos milhares de quilómetros feitos internamente e pelo interior dos
países do chamado “interland” fronteiriços de Moçambique.
Era
de vital importância para o regime colonial-facista inculcarem em nossas
cabeças que éramos, também, portugueses, portanto, abrigados na mesma pátria.
Mas
o que é afinal isso de Pátria?
O
nosso Hino Nacional exalta este conceito supra-nacional cuja abrangência é de
uma transversalidade sem paralelo, ao ponto de o mesmo ter sido, oficiosamente,
baptizado de “Pátria Amada”.
Raros
são os países em cujos hinos nacionais a pátria não seja carinhosa e epicamente
exaltada. Os nossos irmãos de Cabo Verde dizem que ela é “morabeza”, palavra de difícil tradução porquanto a mesma é para ser
intensa e intimamente sentida e reflecte o que de mais intrínseco e profundo
existe da mais original, indígena, natural, autêntica e “caboverdianissima” maneira de ser estar e sentir o seu País.
Esta
bonita coisa de Pátria se não nos controlarmos poderá levar-nos ao paroxismo
(clímax) de, irracional e emocionalmente, cometermos excessos de chauvinismo
nacionalista, algumas vezes de resultados práticos perniciosos para o
País.
Pátria
é algo que pertence a todos os cidadãos de um País, não sendo de alguém em
particular.
Pátria
não tem um só dono, mas tem um dono colectivo e poderosíssimo, que é o povo.
Pátria
é, portanto, algo transcendente e sublime que se confunde com o território
aonde pessoas com as mesmas características somáticas, ou étnicas, ou
linguísticas ou de outra natureza ou categoria aglutinadora, nasceram ou
decidiram viver confinadas no mesmo espaço territorial geográfico, constituindo-se
em forma de País e este, por sua vez, com elevado sentido unificador de Nação.
A
Pátria é o cimento que faz a argamassa aglutinadora de muitas pessoas em forma
de Nação e que, subsequentemente, se organizam em forma de País – República ou
Monarquia.
A
Pátria não é algo que apenas possuímos, pois ela é muito mais do que isto.
A
Pátria é algo que sentimos, com profunda sinceridade, dentro de cada um de nós.
É! A Pátria sente-se no íntimo de cada um de nós!
A Pátria é o espaço
onde o Homem organizado em forma de sociedade alcança a plenitude da sua
felicidade.
Por
sentirmos a Pátria dentro de nós, temos o dever de, sem nada exigirmos dela à
laia de ressarcimento, darmos o melhor de nós mesmos para o seu
engrandecimento. Por esta razão, nas mais variadas frentes em que nos
encontremos a desenvolver uma actividade teremos que dar o melhor de nós mesmos
para o desenvolvimento da nossa Pátria.
Em
nome da Pátria, e para seu bem, os seus cidadãos devem abster-se de consumar
actos considerados criminosos, imorais e de conduta pouco recomendável seja
qual for o cargo, função ou posição por eles desempenhada na sociedade.
Actos
lesivos ao património pátrio - estou a referir-me ao erário público,
atentatórios à dignidade da Pessoa Humana, desabonatórios ao merecido bom nome
do País no convívio internacional e mundial - devem ser energicamente
combatidos por todos os cidadãos, e os seus protagonistas julgados segundo a
Lei.
Trabalhemos
com dignidade e abnegação sem limites no duro combate sem tréguas, rumo ao
desenvolvimento da nossa Pátria.
A
nossa Pátria, repito-o, não tem um só dono porque ela pertence, de modo
incondicional, a todos os moçambicanos que aqui nasceram ou decidiram adquirir
a nossa cidadania. E por esta razão, Moçambique, que já é forte, tem condições
potenciais – humanas e naturais - para se tornar uma referência na arena
internacional.
E
termino citando “ipsis verbis” ou “ipsis litteris” o meu amigo João de
Sousa que lá das terras mwangolês do Presidente António Agostinho Neto me diz
que: “no momento em que nos
preparamos para mais um ciclo governativo, nada melhor do que incutir em todos
nós, como a crónica refere, o verdadeiro sentido de Pátria. Belo texto. JS”
Texto: António Nametil Mogovolas de Muatua - Moçambique. Pesquisa e montagem de imagens: Oubí Inaê Kibuko - Brasil.
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