quinta-feira, 4 de junho de 2015

Escola é o espaço onde crianças de religiões afro mais se sentem discriminadas, afirma pesquisadora

A escola não é um dado. Ela nem sempre existiu, e tampouco sempre foi do jeito que conhecemos hoje. Em sua construção e consolidação como instituição social, ela passou por diversas transformações e foi moldada por determinados setores. É o que o professor Jurjo Torres, em entrevista ao Portal Aprendiz, chama de currículo oculto da educação.

Lembrando da imagem do Cavalo de Troia, Torres afirma que existem muitas aprendizagens não intencionais, ou seja, que não estão no programa do professor de maneira expressa. “São as consequências das cosmovisões e ideologias nas quais fomos educados e assumimos como ‘naturais’, ‘óbvias’ e ‘lógicas’.
Uma ideologia, quando se torna hegemônica, se plasma em determinadas práticas, rotinas, tradições, motivações e interesses que, de uma maneira consciente e reflexiva, nós não tratamos de trazer à luz, investigar, analisar e questionar. Esses tipos de tarefas que programamos e que cremos que são educativas pois são parte do ‘senso comum’, ‘sempre foram assim’, ‘aprendi assim’”.

E como isso se dá numa sociedade com passado escravocrata e um presente que ainda padece de diversas formas de racismo?
Essas e outras perguntas estão presentes na pesquisa de Stela Guedes, doutora em educação e professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UERJ (PROPED-UERJ) e autora do livro  “Educação nos terreiros – e como a escola se relaciona com crianças de candomblé”, lançado em 2012.
Ao longo de 20 anos de pesquisa, a professora buscou analisar o preconceito contra religiões de matriz africana no ambiente escolar e as dificuldades da implementação da lei 10.639, de 2003, que prevê o ensino de cultura e história afro-brasileira e africana nas escolas e descobriu que, para os estudantes de religiões afro que frequentam as instituições de ensino brasileiras, esse é o espaço onde mais se sentem discriminados.
: Primeiro, temos de reconhecer que o Brasil é um país racista. Esse é o primeiro passo para olharmos para os espaços sociais
“Primeiro, temos de reconhecer que o Brasil é um país racista. Esse é o primeiro passo para olharmos para os espaços sociais.” Arquivo Pessoal

“Uma vez entrevistei uma professora de Ensino Religioso que afirmava que a disciplina não era proselitista e não discriminava e que, na mesma resposta, comemorava o fato de ter tido no ano anterior 8 alunos ogans que se converteram ao cristianismo (ogan é um cargo masculino cuja responsabilidade são muitas, entre elas, tocar os atabaques nos rituais). A escola, que é o lugar dos diferentes entre si por natureza, deveria ser o lugar mais preparado para não só lidar, mas também para aprender profundamente com essas diferenças. Infelizmente não é”, afirma Stela.

Para ela, a “escolarização pública em nosso país foi e continua sendo marcada pelo espírito de catequese” e precisa ser transformada. A pesquisadora, que ministrará neste mês o curso “A escola e o terreiro: diversidade e educação antirracista em pauta”, em São Paulo, conversou por e-mail com o Portal Aprendiz, sobre os resultados de sua pesquisa, o caráter racista da educação brasileira e os possíveis caminhos para uma educação antirracista e transformadora. Confira:
Portal Aprendiz: Bom, começaria com o título de seu livro: como a escola se relaciona com as crianças do Candomblé? Quais foram as principais descobertas dos seus mais de 20 anos de pesquisa?

Stela Guedes: A escolarização pública em nosso país foi e continua sendo marcada pelo espírito de catequese. Não é difícil entender o porquê. Em 1549, trazidos pelo governador geral Tomé de Souza, três jesuítas chegam ao país e, em Salvador, fundaram o colégio da Companhia de Jesus. Duzentos e dez anos depois, quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, o ensino público passou para as mãos de outros setores da igreja católica. Quase 500 anos depois e, apesar de, em 1891, a primeira Constituição republicana ter separado Estado de Igreja e afirmar que “será leigo o ensino ministrado nos estabelecimentos públicos”, o papel da escola pública ainda é catequisar e converter. A conversão é um conceito amplo e não se refere apenas a conversão religiosa. A conversão é uma submissão à lógica dominante que aí sim diz respeito a uma padronização em função da religião dominante, aos valores dominantes conservadores sobre família, sexualidade, aparência, raça, ou seja, aos modos de ser, estar, crer, não crer e agir no mundo. Dentro dessa lógica a escola não acolhe as diferenças entre elas, as diferenças religiosas. Em mais de 20 anos de pesquisa todas as crianças e jovens de candomblé são unânimes quando afirmam que todos os espaços da sociedade são cruéis, mas nenhum lugar é tão cruel quanto a escola quando se trata de humilhar e excluir alunos e alunas de candomblé ou umbanda.

Aprendiz: Que tipos de impactos sociais uma educação intolerante e racista pode trazer?
Stela: Primeiro, temos de reconhecer que o Brasil é um país racista. Esse é o primeiro passo para olharmos para os espaços sociais e entendermos que todos eles são espaços racistas. Isso porque o racismo é um sistema em que um grupo se considera superior e submete de diversas formas um outro grupo considerado inferior. O mais fundamental é, ainda, entender que fomos educados em uma escola branca, cristã e racista. Então a pergunta deve ser “Que tipo de impactos e consequências a nossa sociedade e, portanto, a nossa educação racista nos trouxe? Que tipo de relações criamos?” A dominação colonial na África, como bem se refere o pesquisador Kabengele Munanga, com sua missão “civilizadora”, teve como objetivo reduzir negros e negras ontológica, epistemológica e teologicamente. Isso fez com que os países colonizadores se servissem de seus saques econômicos e históricos. Roubaram por séculos a riqueza material e a história dos povos de África. No nosso caso, negros e negras escravizados não “contribuíram” com a formação do que se chama “povo brasileiro”. Foram os negros e negras roubados, aprisionados, desterrados e escravizados que ergueram esse país.  Uma das consequências quando um grupo de seres humanos passa a se achar superior a outro grupo de seres humanos é a total subtração da história do grupo considerado inferior. Essa foi uma consequência drástica na educação brasileira. A história de um continente inteiro foi subtraída de nossas escolas. Não se trata de ser tolerante. Nenhum indivíduo ou grupo quer ser tolerado. A tolerância, apesar de ser um conceito aparentemente interessante, é sempre uma ação que prevê alguma benevolência ou aceitação daquele ou do grupo considerado como referência nas tensas e complexas relações de poder.  Ou seja, não podendo te eliminar eu te tolero. Não podendo eliminar este ou aquele grupo eu os tolero e aceito. A tolerância sempre exige algum grau de assimilação e estabelece limites. Uma vez ultrapassados os limites do jogo da assimilação, o tolerante deixa de tolerar.
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“A escola é o lugar dos diferentes e, por ser esse lugar, a escola é um lugar tenso.”
Stela Guedes

Aprendiz: Como a educação poderia se relacionar com os diferentes tipos de saberes? Você saberia mencionar alguma experiência em que um terreiro e uma escola se articularam para discutir história e cultura-afro?
Stela: A escola não tem de tolerar pessoas as quais considera diferente de sua lógica hegemônica. A escola precisa reconhecer que a vida no planeta é constituída por seres humanos diferentes. A escola é o lugar dos diferentes e, por ser esse lugar, a escola é um lugar tenso, porque não há harmonia na diferença e nem pode haver. O ideal é que busquemos a convivência respeitosa entre pessoas e grupos. E essa convivência respeitosa, essa experiência intercultural pautada nos direitos humanos não acontece se um dado conhecimento for erguido ao reino da importância e, portanto, legitimado, enquanto outros tantos conhecimentos são submetidos ao reino da desimportância e, portanto, deslegitimados e excluídos das escolas. A escola deve reconhecer o conflito e apostar nele, para que, a partir das diferenças, todos e todas possam ser vistos e compreendidos uns pelos outros. Não conheço experiências como as que você menciona, conheço projetos individuais de alguns professores e professoras que tentam fazer com que alunos e alunas conheçam terreiros e falem na escola a partir dessa experiência.

Aprendiz: O que mudou desde a aprovação da lei Lei 10.639?
Stela: A Lei 10.639 foi sancionada em 2003 e diz que nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Todos os pesquisadores e pesquisadoras que estudam a aplicação da lei descrevem inúmeras dificuldades. Falta formação para professores e professoras e o obscurantismo crescente na educação também é um dado que dificulta. Professores, professoras, pais, alunos e alunas, funcionários obscurantistas acreditam que qualquer referência à África é um passaporte para o inferno, pois associam África ao Diabo. Como isso aconteceu? Com a mesma inferiorização dos povos africanos sobre a qual falávamos há pouco. A lei foi uma conquista importante, mas temos muito a caminhar e é preciso uma luta cotidiana contra o racismo, incluindo as faculdades de formação de professores e professoras.
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“Os terreiros de candomblé são espaços de circulação de imensos conhecimentos.”
Stela Guedes

Aprendiz: Porque as crianças afirmam que a escola é o lugar que mais discrimina? Como se dá essa discriminação? Como isso afeta a auto-percepção dessas crianças?
Stela: Por toda essa realidade racista e obscurantista que estamos tratando aqui em todas as perguntas. Uma vez entrevistei uma professora de Ensino Religioso que afirmava que a disciplina não era proselitista e não discriminava e que, na mesma resposta, comemorava o fato de ter tido no ano anterior 8 alunos ogans que se converteram ao cristianismo (ogan é um cargo masculino cuja responsabilidade são muitas, entre elas, tocar os atabaques nos rituais). A escola, que é o lugar dos diferentes entre si por natureza, deveria ser o lugar mais preparado para não só lidar, mas também para aprender profundamente com essas diferenças. Infelizmente não é. Por isso, muitas crianças e jovens sofrem porque são inferiorizados e inferiorizadas.

Aprendiz:  Que tipo de aprendizados podem sair dos terreiros? Como eles podem contribuir para uma educação antirracista e focada nos direitos humanos?
Stela: Os terreiros de candomblé são espaços de circulação de imensos conhecimentos. Crianças, jovens e adultos cultuam seus ancestrais e, se não podemos dizer que o Candomblé é uma religião africana porque é brasileira, podemos dizer que o culto aos ancestrais é comum em toda África. Os negros e negras escravizados para o Brasil chegaram aqui com seus ancestrais e nos ensinaram a amá-los a cultuá-los. Para poder fazer isso, criamos o candomblé que, nos terreiros, foi mantido e ressignificado. As línguas dos povos africanos que aqui chegaram é mantida nos terreiros pela oralidade, e isso se aprende todos os dias, há séculos, em cada casa de axé. História, geografia, biologia, ecologia, filosofia, literatura. Um conjunto de conhecimentos poderosos passados de geração em geração e do qual crianças e jovens se orgulham, mas que, nas escolas, são obrigados a sentirem vergonha daquilo que os anima e os faz viver. A educação nos terreiros não é racista, não discrimina as diversas orientações sexuais, as famílias que se organizam e se formam a partir dessas diferentes orientações sexuais. O candomblecista não discrimina qualquer outra religião. Acredito que, por ser assim, a educação nos terreiros pode ensinar o antirracismo e o humanismo do qual precisamos todos os dias.

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Cineclube Afro Sembene presta homenagem à memória, vida e obra do seu patrono dia 27/6 na PUC Consolação



Assim falou Guimarães Rosa: As pessoas não morrem. Ficam encantadas. O dia 9 de junho de 2015, marca desde 2007 para leitores, cinéfilos, pesquisadores, produtores, lideranças e admiradores, o oitavo ano da saída de cena de Ousmane Sembene, que nasceu em 01 de janeiro de 1923, no vilarejo de Ziguinchor, Casamance, no Senegal. Foi escritor, produtor, roteirista, ator e diretor de cinema. Considerado O Pai do Cinema Africano, ao longo da sua vida ele escreveu 10 romances e realizou 12 filmes. 

Seus pais são Lébous que deixaram a península de Cabo Verde para Casamance. Aos sete anos, ele freqüentou a escola corânica e a escola francesa, onde aprendeu francês e árabe, enquanto que sua língua materna é o Wolof . De família humilde e trabalhadora, o pai era pescador, Ousmane Sembene freqüentou a escola até os catorze anos, passando depois por varias profissões: pescador (como o pai), mecânico, pedreiro e militar, tendo participado nas campanhas de Itália e Franca, contra o fascismo e nazismo. No fim da guerra trabalhou em Marselha como estivador, passando a ativista sindical. Esta experiência proporcionou-lhe a temática de seu primeiro livro, Le Docker Noir (1956), e de algumas historias de Voltaique (1962). Autodidata persistente, em todas as atividades que exerceu enriqueceu o seu conhecimento da vida e dos homens. Sembene foi criado pela sua avó materna que o influenciou muito. As mulheres desempenham papeis importantes e relevantes não somente em sua vida como também em todas as suas obras. Bem como as impressões da sua trajetória de vida e os reflexos das ocupações que exerceu estão presentes nelas. 

Para o diretor mais proeminente da África, o filme pode tornar visíveis os abusos do poder e manifestar aquilo que os governos gostariam de manter escondido. O filme pode falar ao mundo Ocidental sobre seu poder opressivo e a Senegal, seu país, e a outros países do Terceiro Mundo sobre sua opressão. O filme, acredita Ousmane, supera o problema apresentado pelo analfabetismo do Terceiro Mundo, uma vez que é acessível da mesma forma para letrados e iletrados. Isso explica porque Sembene se voltou para o wolof ao invés do francês em seus filmes recentes. Usando o filme para chamar a atenção para a dicotomia Terceiro Mundo/Ocidente, Sembene contribui consideravelmente para o desenvolvimento do filme político.

Como um autor preocupado com a mudança social, a exemplo de Lima Barreto, Solano Trindade, Zózimo Bulbul, Spike Lee, apenas para citar referencias semelhantes, Ousmane Sembene desejava tocar um público amplo com questões agudas propensas a debates e reflexões, mas percebeu que suas obras escritas chegariam apenas a poucos letrados e quando muito a pequenas elites culturais, enquanto que os filmes poderiam chegar a um público mais amplo em terras africanas. E talvez fora delas. Tanto que baniu o francês e adotou o Wolof como língua oficial em seus últimos filmes. Entre 1962-1963, ele estudou cinema por um ano em Moscou, na Gorky Film Studio (nome do escritor Maxim Gorky, um dos fundadores do realismo socialista soviético), sob orientação do diretor soviético Mark Donskoy. A Gorky Film Studio produziu mais de 1000 filmes durante a era soviética, muitos dos quais se tornaram clássicos do cinema e outros deles foram premiados em vários festivais internacionais. De volta à África, Sembene entregou-se entusiasticamente a uma dupla atividade criativa: a de escritor e cineasta. 

Ousmane Sembene faleceu em 9 de Junho de 2007, com a idade de 84 anos. Ele estava doente desde dezembro de 2006, e morreu em sua casa em Dakar, Senegal, onde ele foi enterrado em uma mortalha adornada com versos do Alcorão. Sembene foi socorrido por três filhos, de dois casamentos. 

Em Paris, o secretário-geral de francofonia e o ex-presidente senegalês Abdu Diuf afirmou que "a África perdeu um de seus maiores cineastas e um fervoroso defensor da liberdade e da justiça social". O ministro francês da Imigração, Brice Hortefeux, manifestou sua "emoção" ao declarar que, "com a morte de grande cineasta senegalês, a francofonia perde um artista talentoso, que tinha olhar caloroso sobre o mundo".

Atentos ao cenário internacional e nacional, nestes tempos de recessão econômica mundial, apelos de acolhimento, fugas e conflitos imigratórios (quem assistiu Homem Caído (Man on ground), de Akin Omotoso, sabe o significado desta vigília) o Fórum África e Cineclube Afro Sembene prestarão homenagem à memória, vida e obra de Ousmane Sembene, patrono deste cineclube, excepcionalmente dia 27 de junho de 2015, no campus da PUC Consolação, Rua Marques de Paranaguá nº111, sala 20, com a exibição de dois dos seus primeiros filmes: o média “A Negra De (La Noire De)”, 1966 e o curta “O Carroceiro (Borom Sarret)”, 1963. 

O objetivo deste evento é traçar distinções e semelhanças reflexivas sobre a produção cinematográfica da África e Diáspora, suas influências e referências, em especial, no Brasil, seguidos de roda de conversa com o público presente, em torno de apontamentos e comentários a serem apresentados pelo Prof.Mestre Victor Martins, estudioso de Ousmane Sembene, Doutorando em História pela PUC-SP; Pesquisador do Cecafro-PUC-SP e Casa das Áfricas; Coordenador do curso de Pós-Graduação em História da África da Unifai - Centro Universitário Assunção; Membro da Secretária de Relações Internacionais da ACAT (Associação Cristã de Combate à Tortura); e autor do livro "Olhares sobre o contemporâneo", ensaios, 2014. 

A NEGRA DE... (La noire de...). Sinopse: Baseado em um conto homônimo de Sembene publicado em 1961, "La noire de..." conta a história de uma jovem senegalesa que vai trabalhar na França com o casal de franceses que a empregava em Dakar. Inicialmente animada com a perspectiva de conhecer a França, ela logo se vê desiludida, notando diferenças no tratamento que os patrões lhe dão. O filme trata de modo único os efeitos do colonialismo, do racismo e dos conflitos trazidos pelas identidades pós-coloniais na África e na Europa. Baseado em um caso real.
Diretor: Ousmane Sembene. Gênero: Drama. Elenco: Mbissine Thérèse Diop/Diouana. Anne-Marie Jelinek/Senhora. Robert Fontaine/Senhor. Momar Nar Sene/Namorado de Diouana. Ibrahima Boy/Garoto com a máscara. Toto Bissainthe/Diouana (voz). Robert Marcy/Senhor (voz). Sophie Leclerc/Senhora (voz). Bernard Delbard/Jovem convidado. Nicole Donati/Jovem convidada. Raymond Lemeri/Convidado. Suzanne Lemeri/Convidada. Duração: 55 minutos. Ano de Lançamento: 1966. País de Origem: Senegal/França. Idioma do Áudio: Francês. Legendas: Português.

O CARROCEIRO (Borom Sarret). Sinopse: Um dia na vida de um carroceiro que, com seu cavalo Albourah, sai de casa cedo para conseguir trabalho, transportando pessoas entre diferentes partes da cidade de Dakar. A pobreza, a fome, as relações entre formas de tradição e modernidade que atravessam a África, a desigualdade social são alguns dos temas que a narrativa põe em cena, tanto no conteúdo quanto na forma: o filme foi feito sob condições técnicas limitadas, fazendo com que Sembene optasse por uma trilha de som adicionada posteriormente às filmagens em preto e branco com alto contraste. A narrativa do filme se abre para inúmeras leituras, incluindo uma alegoria de suas próprias condições de produção.
Diretor: Ousmane Sembene. Elenco: Ly Abdoulaye/O Carroceiro; Albourah/O Cavalo. Gênero: Curta. Duração: 18 minutos. Ano de Lançamento: 1963. País de Origem: Senegal. Idioma do Áudio: Francês. Legendas: Português.

A entrada é franca. Porém, pede-se a colaboração voluntária de 1 kilo de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, localizadas no bairro do Glicério, que atende diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.

O Cineclube Afro Sembene é uma iniciativa do Fórum África, associação cultural sem fins lucrativos criada por brasileiros e africanos, em atendimento a Carta de Tabor e a Lei 10.639/3, acontece todo 3º sábado mensal, seguido de debate com um comentarista convidado, um chá de confraternização e outros costumes da cultura africana. Coordenação: Saddo Ag Almouloud, Vanderli Salatiel e Oubí Inaê Kibuko.

O Fórum África é uma entidade de caráter social, cultural e recreativa, com personalidade jurídica, visando a congregação de todos os africanos, brasileiros, e pessoas interessadas em promover: encontros, movimentos de solidariedade, bem como a difusão das informações e melhores conhecimentos da África no Brasil. Um grupo de profissionais e estudantes (africanos e brasileiros) pertencentes a instituições como a Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, Centro de Estudos Africanos e Associações de Países Africanos estabelecidas em São Paulo, que decidiram congregar forças e criar uma associação sem fins lucrativos, denominada Fórum África.


SERVIÇO
Excepcionalmente dia 27/junho/15 - sábado - 19 horas. Fórum África e Cineclube Afro Sembene convidam: SEMBENE VIVE – Homenagem à memória, vida e obra do escritor, produtor e cineasta Ousmane Sembene (1923+2007).

A NEGRA DE (La Noire De), 1966/O CARROCEIRO (Borom Sarret), Senegal, 1963, ambos de Ousmane Sembene.
Seguidos de roda de conversa com o Prof.Mestre Victor Martins (Unifai), estudioso de Ousmane Sembene; Doutorando em História PUC-SP; Pesquisador do Cecafro/Casa das Áfricas; autor do livro Olhares sobre o contemporâneo. 

Local: PUC CONSOLAÇÃO. Rua Marquês de Paranaguá, 111 - sala 20. Referência: Travessa Rua da Consolação, próximo ao Mackenzie, entre metrô República e Paulista. 

ENTRADA FRANCA. Porém, pede-se a colaboração voluntária de 1 kilo de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que atende diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.

Informações: 
www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br 
www.forumafricabrasil.ning.com/www.tamboresfalantes.blogspot.com.br 
Email: cineafrosembene@gmail.com - tamboresfalantes@yahoo.com.br
(055+11)9.9750-1542

Realização: Fórum África
Apoio: Cabeças Falantes

Cineclube Afro Sembene: Nosso encontro mensal com o cinema africano.
 
 
Pesquisa, texto, montagem e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Fórum África, Cineclube Afro Sembene e Cabeças Falantes.

terça-feira, 2 de junho de 2015

Festival de Cinema Negro ocupa Cine Odeon, Bibliotecas Parque e MAR com filmes e debates

De 27 de maio a 3 de junho, os cariocas podem conferir a oitava edição do "Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul".  O evento ocupa o Cine Odeon, Bibliotecas Parque e o Museu de Arte do Rio. São 33 filmes oriundos de países como  Estados Unidos, Caribe, Europa e África. A programação tem atividades com entrada Catraca Livre e com ingressos custando R$ 4.
O encontro este ano tem como homenageado o cinema negro norte americano e o ator Grande Otelo que faria 100 anos em 2015. O festival conta com 13 cineastas convidados internacionais de diversas regiões da África como Mali, Senegal, Etiópia, Guiné Conakry e Nigéria, como dos Estados Unidos, Inglaterra e Cuba. Os mais notórios são, Cheik Fantamadi (Guiné Conakry), Cheick Omar Sissoko, ex-ministro da Cultura do Mali, Mamadou Sisse (Mali), Hernon Haile (Etiópia), Andrew Dosomuno (Nigéria), Yoruba Richen (EUA), Rachel Perkins (EUA) e Talibah Newman (EUA).
Os filmes exibidos no Odeon custam R$8 e os debates no MAR e nas Bibliotecas Parque têm entrada Catraca Livre. A programação completa encontra-se no Facebook do evento. Clique aqui e confira os filmes exibidos no Odeon.

Biblioteca Mário de Andrade recebe o Festival Afreaka

Evento gratuito reúne programação com instalações, cinema e mesas de debates sobre a África.

Com o objetivo de dar voz a uma África pouco conhecida, desconstruindo os estereótipos da miséria, a Biblioteca Mário de Andrade apresenta o Festival Afreaka: Encontros Entre Brasil e África Contemporânea, entre os dias 9 e 27 de junho. Através das mais variadas linguagens artísticas, como o cinema, a fotografia e a literatura, o evento apresenta aos visitantes a África moderna, tecnológica e produtora de uma moda invejável.

O festival parte de um conceito multidisciplinar e é idealizado pelo coletivo Afreaka, que desde 2013 procura mostrar um continente africano pouco explorado, extremamente rico em cultura, altamente tecnológico, e com uma cena artística que se destaca por sua riqueza de cores e detalhes. A jornalista Flora Pereira e o designer Natan Aquino estão a frente do projeto multimídia.

As intervenções artísticas de grafite são uma grande aposta do festival. Assinados por Alexandre Keto, Brasil, Docta e Senegal, os painéis deste gênero artístico serão expostos na área externa da Hemeroteca da Biblioteca Mário de Andrade.

Além disso estarão dispostas três exposições para os visitantes desfrutarem: a mostra Protagonistas Africanos, que se encarrega de revelar o africano em sua essência e a arte contemporânea que está escrevendo a história do continente; a exposição Olhares Afro Contemporâneos, realizada por doze fotógrafos, entre brasileiros e africanos, que apresenta ao público uma mistura entre cores e contrastes representando artisticamente a visão de quem conhece bem a África; e Mulheres Africanas, da artista brasileira Surama Caggiano, que retrata, através de mosaicos contemporâneos, o espírito guerreiro da mulher africana.

Serviço – Festival Afreaka
Biblioteca Mário de Andrade
R. da Consolação, 94 São Paulo – SP
(11) 3256.5270
Gratuito

Programação: 09/06
19h – Mesa de abertura: África tradicional e contemporânea – Raquel Trindade e Malama Katulwende

10/06 - 19h30 – Workshop: Laboratório criativo: inovação digital na Nigéria – Bosun Tijani

11/06 - 19h30 – Workshop: O avanço criativo da arte digital – Jepchumba

16/06 - 14h – Palestra: Identidade e deslocamentos- Alexandra Baldeh Loras

17/06 - 19h Workshop: Cabelos como arte política – Manifesto Crespo

18/06 - 14h – Mesa de debate: Empoderamento do Cinema Negro no Brasil – Jeferson De e Viviane Ferreira

19h30 – Workshop: Os cortes da estética afro futurista – Walé Oyejide

20/06 - 13h – Palestra: Protagonismo em movimento: África fora dos estereótipos – Flora Pereira e Natan Aquino

24/06 - 16h – Mesa de debate: Arte Afro-Brasileira contemporânea: ativismo como essência – Moisés Patrício e Surama Caggiano

25/06 - 19h30 – Workshop: Mídia alternativa: resistência, inovação e inventividade: Revista Chimurenga – Graeme Arendse

26/06 - 19h – Workshop: Artes Performáticas e experiências multimídia (+Performance) – Ishola Akpo

27/06 - 13h – Mesa de encerramento: Manifestações contemporâneas e ativismos literários – Paulina Chiziane e Ana Maria Gonçalves

Cinema

10/06 - 17h Jardim das folhas sagradas
Direção: Pola Ribeiro, Brasil

11/06 - 17h Dear Mandela
Direção: Dara Kell, África do Sul

12/06 - 19h Guimba
Direção: Cheick Oumar Sissoko, Mali

16/06 - 17h Otello Burning
Direção: Sara Blecher, África do Sul

19h30 - Menina Mulher da pele preta
Direção: Renato Cândido, Brasil

17/06 - 17h - Discriminação não é legal
Direção: Daniel Caetano, Brasil                                                                                              

Yellow Fever
Direção: Ng’endo Mukii, Quênia                                                                                            

Balé pé no chão
Direção: Lilian Santiago, Brasil

Graffiti
Direção: Lilian Santiago, Brasil

18/06 - 17h - Narciso Rap
Direção: Jeferson De, Brasil

Carolina
Direção: Jeferson De, Brasil

O dia de Jerusa
Direção: Viviane Ferreira, Brasil

25/06 - 17h - 100% Dakar- More than art
Direção: Sandra Krampelhuber, Senegal/ Áustia


Pesquisa e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Cineclube Afro Sembene, Fórum África e Cabeças Falantes.   

Quatro cronicas de António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele), diretas de Mozambique



Peregrinação
Maputo, 20 de Maio de 2015
Crentes e não crentes na Virgem Maria Santíssima, católicos, cristãos em geral, milhares de moçambicanos praticantes dos muitos credos existentes em Moçambique, Zona Libertada da Humanidade, porque não padece de preconceitos de qualquer ordem, em romaria interminável de fim-de-semana de 15 a 17 de Maio de 2015, participaram, ecumenicamente, no turismo religioso chamado “Peregrinação ao Santuário da Namaacha”, que todos os anos acontece naquela Vila autárquica localizada numa das partes mais austrais do nosso País, que, pela sua orografia e clima ameno, alguém alguma vez, com inigualável criatividade, a chamou de Suíça africana.
A já de si bela Namaacha fica sempre mais linda, como mulher discretamente maquilhada, ante o calor, a alegria e o fervor religioso trazido dentro dos corações de cada um dos milhares de peregrinos que a visitam.
A peregrinação ao Santuário da Namaacha é dos acontecimentos religiosos de maior impacto que, anualmente, Moçambique acolhe. É a grande festa da Fé. É o turismo da Maria Imaculada Santíssima. É o comício dos Católicos moçambicanos para ouvirem a mensagem de Deus. Os irmãos em Cristo e todos os moçambicanos pretextam aquela peregrinação para melhor se aproximarem do seu irmão, do seu amigo e até as “pazes” fazer com o seu inimigo.
Sem beatices desesperadas, nem cenas de extremismo religioso, cada um fica em permanente e íntima oração, juntando-se, depois à Santa Missa campal, tradicional e normalmente celebrada pelo Arcebispo da Diocese de Maputo, que é a supervisora eclesiástica daquela vila.
Porque se trata de uma peregrinação com propósitos importantes, não há excessos atentatórios à integridade física, moral e patrimonial dos seus participantes. Graças a Deus, durante a peregrinação, não se têm registado nenhum tipo de incidentes de consequências graves para os seus participantes e populações hospitaleiras. Felizmente nunca se registam, como moda, ferimentos graves nem mortes.
Alguns fazem o trajecto até a Namaacha, partindo de vários pontos da Província de Maputo, a pé. Durante a caminhada, uma boa parte da mesma feita à noite, até as serpentes e malfeitores se abstêm de fazer mal aos peregrinos desta festa da Maria Imaculada.
As provisões alimentares individuais que os peregrinos levam são de todos os caminhantes, partilham entre si, e por esta razão a mesma sacia de forma equitativa aos participantes.
Mas acima da oração, esta peregrinação tem uma outra grande intenção! Todos os moçambicanos rezarem para que Deus amoleça os corações dos moçambicanos, em geral, e os dos nossos políticos, em especial, para que façam tudo ao seu alcance para que tenhamos sempre PAZ.

António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele)

Alimentação
Mocuba, 27 de Maio de 2015
Sempre que viajo é meu costume entremear conversas que mantenho com os residentes, escutando as rádios locais e lendo os jornais da terra aonde me encontro.
A Rádio Comunitária da Cidade de Mocuba, dizia que, por já haver abundância de comida, as mandioqueiras permanecem intactas, transformando-se em árvores de porte quase médio.
Nos últimos tempos, pouca gente procura a mandioca para a comer como prato sem alternativa na sua dieta alimentar corrente.
Hoje, felizmente, a mesa do camponês da Cidade e do Distrito de Mocuba é farta e versátil.
Hossanas para o esforço dos machambeiros, que, sem nunca terem sido preguiçosos, organizaram-se em moldes mais modernos para produzirem para comer e vender.
Cantemos glórias, também, às autoridades do Governo, municipais e tradicionais, que, numa iniciativa coordenada, conseguiram melhorar a qualidade de integração das populações nesta ambiciosa e possível missão de produzir comida a preço acessível à maioria das pessoas.
Estamos satisfeitos porque uma parte do povo moçambicano de Mocuba e das suas cercanias já não padece de fome derivada à falta de comida em termos meramente quantitativos. Talvez ainda esteja a padecer da fome gerada pela qualidade de alimentos que normalmente usa na sua dieta quotidiana.
Muitos já têm algo que introduzir no estômago, pelo menos, uma vez por dia. Este indicador de qualidade de vida já é muito bom. Importa, entretanto, sabermos se este povo comendo assim mais quantidades de alimentos se já está sendo bem nutrido.
Comer é um acto cultural de cada povo. Por razões culturais povos há que tendo muita variedade de alimentos, é malnutrido porque ainda não detem informação científica bastante que o conduza a comer qualidade e não somente quantidade. Quando esta situação ocorre estamos perante pessoas bem comidas (sem escassez de alimentos no estômago), mas malnutridas porque os produtos consumidos não são, qualitativamente, os melhores no quadro das possíveis alternativas do seu cabaz de alimentos.
As estatísticas lidas numa única vertente vão disparar informações exactas, dizendo que o povo já está a comer mais. Mas numa tentativa de humanizar esta mesma informação estatística, seria interessante termos mais dados acerca do tipo e da qualidade de alimentos que o povo está a comer visando elevar os seus índices de nutrição.
Nesta fase do processo ocorre sugerir que o nutricionista deveria entrar em cena nacional para ensinar o nosso povo a bem comer os alimentos que ora possui em abundância.
O nutricionista deve, por exemplo, ensinar a comer a mandioca e outros produtos do nosso cabaz de alimentos: quando, como e em que quantidades.
Porque o organismo humano precisa, em quantidades cientificamente estudadas, também de mandioca, o nutricionista terá que nos ensinar como introduzir este tubérculo na dieta alimentar do povo e nunca eliminá-lo totalmente da mesma.
A par do esforço que o Governo tem feito para que o índice de produção de alimentos aumente, urge que trabalho paralelo de aumento da acção de nutricionistas também seja desencadeado à escala nacional.
Da mesma forma que há técnicos básicos e médios em outras especialidades, o Governo terá que equacionar a hipótese de formar nutricionistas rurais, seleccionando localmente para esta profissão jovens com a Décima Segunda Classe do Ensino Geral e que estejam, neste momento, desempregados.
O investimento inicial desta operação, que poderá parecer cara e quimérica, poupará o País de, ulteriormente, gastar muito mais pagando a factura da cura de doenças causadas pela malnutrição, problema este que se torna endémico e hereditário porque se transmite de ascendes para descendentes de forma irreversível.
António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele)

Progresso
Mocuba, 29 de Maio de 2015
O Homem, por defesa instintiva, nutre medo em relação à inovação. Teve medo de deixar a carroça tirada a bois para o moderno automóvel de motor automático. Os nossos ancestrais levaram tempo a acreditar que o conforto da caverna seria superado pelo moderno apartamento plantado num 33º. andar de um prédio numa cidade.
Os nossos avôs nunca acreditaram que na cidade alguma vez fossem, potencialmente, encontrar melhor qualidade de vida que a do meio rural, que os seus avoengos morreram sem nunca o terem abandonado. E é verdade que, em sociedades funcionando sem cataclismos que mexam com o tecido social, o Homem rural é relutante em trocar este seu "habitat" pelo meio urbano.
Todavia, a mudança ocorreu, paulatina e irreversivelmente, de tal sorte que hoje apenas, por mera fruição dos prazeres do turismo ou por pruridos de investigação científica, é que o Homem, alguma vez, voltará às cavernas. Vale isto dizer que o modo de produção capitalista, por força da evolução dialéctica do mundo - sempre avançando de estádios inferiores para superiores - será substituído, gradualmente, por outro mais forte e moderno.
Pouco importa o nome deste novo modo de produção, mais moderno que o actual, porque o essencial da questão é que a sua prevalência é uma inevitabilidade do processo histórico e dialéctico. Não foi porque o Homem quis que o processo histórico do planeta atingiu o actual estágio, tendo ficado para o passado (a sequência pode não ter sido esta) o esclavagismo, o feudalismo, o absolutismo e estamos hoje a viver um capitalismo híbrido, mesclado de muito socialismo e comunismo, como modos de produção qualitativa e dialecticamente mais avançados.
Por instinto de autodefesa o ser humano é conservador por excelência e, por força desta sua qualidade congénita, ele reage muito mal às mudanças, chegando até ao extremo da violência.
Portanto, é legítimo que a maioria do comum do Homem capitalista jamais acredite na existência de um modo de produção mais avançado que o actual. Por défice de informação o Homem ignora que o próprio capitalismo está em permanente evolução e que ele mesmo, para sua sobrevivência, tal como os repteis para sobreviverem aos rigores invernais, mudará, após a sua hibernação, a sua imagem interior e exterior, assumindo nova pelagem ou penugem. Assim sendo, nesta fase do processo evolutivo, sem hiatos de transição, o capitalismo beneficiará de uma transmutação histórico-dialéctica para outro modo de produção qualitativamente mais avançado.
Foi por ignorância que a aldeia comunal, a cooperativa, a machamba estatal, a segurança social, o ensino e a saúde gratuitos, a vigilância popular, guia de marcha, o chefe do quarteirão foram e ainda hoje o são combatidos no nosso País. Países evoluídos como a Suíça, Israel, Japão, Canadá, Rússia, Dinamarca, Noruega, República Popular da China, Vietnam, Cuba (apesar do bloqueio americano de quase seis décadas, mas porque é socialista, jã não figura entre os países subdesenvolvidos), e muitos outros tenham amalgamadas dentro do seu sistema de funcionamento aquelas realidades de governação colectiva da sociedade.
Marx não foi o primeiro a pensar numa sociedade comunista. Filósofos e escritores seus predecessores, fazendo críticas à sociedade em que viviam, propuseram soluções do tipo socialista e também comunista. Todos desejavam uma sociedade em que não houvesse conflitos de classe, sem classes sociais que tivessem o monopólio de qualquer sector fundamental da actividade humana.
Anunciaram a “planificação centralizada" da produção, uma "sociedade mundial"em que o poder estivesse nas mãos dos homens de ciência e dos dirigentes da economia. Falaram da sociedade do futuro como uma “federação de comunidades comgoverno próprio". Advogaram a eliminação da separação entre trabalho intelectual e manual, entre o trabalho industrial e agrícola. Proclamaram que a libertação da mulher era essencial para a emancipação em geral. (in Google, 26/05/15).
Em conclusão, estudemos com mais atenção e melhor honestidade a História da humanidade para que possamos ensiná-la correctamente aos nossos netos, pois estes precisam de saber viver o presente, mas bem perspectivando o seu futuro.

António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele)


Quadros
Mocuba, 04 de Junho de 2015
África, em geral e Moçambique, também, em particular, se debate com a falta de quadros que dominem a ciência e a técnica para acelerarem o nosso desenvolvimento.
A propósito desta triste realidade, com a devida autorização do autor, citarei, "ipsis vrbis" uma passagem magistralmente bem escrita sobre este assunto por Tokwene no seu último romance "Mai-Mai, a Graça na Desgraça".
Eis o que Tokwene nos ensina cerca deste fenómeno:
"De Gorongosa para Caia, foi uma verdadeira viagem de descoberta. Numa extensão sem limites, eles podiam contemplar uma imensa mata grossa que se estendia desde a estrada até ao interior, em direcção à imensa, extensa, gigantesca e imponente serra que dava nome a toda a região.
Uma variedade infinita de plantas, árvores, arbustos e capim povoavam a floresta com o verde viçoso de folhas cheias de vida e esperança. Era uma floresta ainda virgem com terras ainda por desbravar, explorar e habitar.
Mais adiante, despontava uma imensa savana com terras também virgens e extensas. Surpreendida, Joalina questionou.
– Porque disputam os homens a terra, em Moçambique, se há tanta terra virgem por desbravar, explorar e habitar?
– Essa é a já velha contradição com que os países pobres do mundo vão ter que conviver, ainda por muito tempo. Em África, de modo particular. Ao mesmo tempo que os países, em África, dispõem de um manancial quase ilimitado de recursos naturais, eles confrontam-se com a falta de quadros e técnicos qualificados capazes de transformar esses recursos naturais em riqueza para o benefício dos seus cidadãos. Falta, aos países africanos, o primeiro e o mais importante de todos os recursos. O capital humano. Capital humano tecnicamente preparado. Qualificado. Competente. Capaz de explorar as recursos naturais do solo e do subsolo que os países possuem em abundância. Repara numa coisa, Jó. Onde é que as pessoas disputam terras e espaços em Moçambique? Não é no campo. É nas cidades. Nas vilas. Nos centros urbanos ou urbanizados. E, porquê? Porque é nas vilas e cidades que existem condições de vida já criadas. Serviços de saúde, educação, transportem, habitação, comércio, comunicações e outros. Foi para lá que os Moçambicanos foram viver, depois da independência, substituindo-se aos colonos. Saíram os colonos, entraram Moçambicanos. Mas, depois, que políticas foram desenhadas para o uso e aproveitamento sustentável de terras para além dos que já existiam no tempo colonial? Entretanto, as terras existem em abundância em Moçambique. Mas, faltam políticas claras, coerentes e exequíveis, no país. E o resultado é esta contradição gritante. Muita terra virgem, desocupada, sem ninguém. Ao mesmo tempo que há muita gente a disputar terras. Como surgiram as vilas e cidades que temos, hoje? Elas não existiram sempre. As vilas e cidades foram construídas por homens. Porque não fazem o mesmo os moçambicanos, hoje? Porque não constroem vilas e cidades novas em novos espaços que existem em abundância? Não existe, em Moçambique, uma única vila ou cidade construída depois da independência. Entretanto, a população cresce, a cada dia que passa e ao rítmo acelerado. Nas vilas e cidades, sobretudo. O resultado é o que está à vista. Vilas e cidades a rebentar pelas costuras. Não há infra-estrutura que resista à pressão que as vilas e cidades sofrem, hoje, em Moçambique. As cidades e vilas foram tomadas de assalto sem observância de princípios mínimos de urbanismo.
– Talvez porque a construção de novas vilas e cidades implica custos enormes. Desafios grandes. Se já é difícil manter o que existe, quanto mais construir vilas e cidades novas!...
– Pois, é. Mas, nós não podemos continuar a viver só do passado que nós não construímos. Temos que começar a pensar num futuro que que seja construído por nós. A partir da nossa imaginação, do nosso trabalho, da nossa iniciativa.
– Mas, realmente, isto aqui é mato demais!... Muito mato. – disse Joalina.
– É. É riqueza que muitos países do mundo não têm. Mas, nós temos. Precisamos apenas de aprender técnicas e conhecimentos científicos que nos permitam saber como tirar proveito desta riqueza natural. Não basta ter o diamante. É importante saber como lapidá-lo para termos a jóia nas mãos. – observou Mai-Mai."
Portanto, mudando o que houver a mudar, deveriamos retirar da passagem deste romance os ensinamentos que nos possibilitariam resolver a médio e longo prazo este défice de quadros no nosso País.

António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele)

Natureza
Mocuba, 05 de Junho de 2015
"Deus perdoa sempre; o Homem algumas vezes; a natureza nunca!", sábio ditado dos ambientalistas que tive a oportunidade de constatar em Mocuba, devastada pelas chuvas diluvianas de Fevereiro de 2015, cujos efeitos vieram agravar à já de si crónica erosão, há muito corroendo esta linda e promissora municipalidade de gente muito trabalhadora e honesta.
A chuva realmente caída sobre a cidade de Mocuba, dizem os seus moradores, até nem foi anormalmente intensa que justificasse os efeitos catastróficos causadas nos solos urbano e dos arredores, que ficaram sulcados com profundas crateras, cujo tapamento será de custo muito elevado, porque exigirá a utilização de trabalhos sofisticados de grande engenharia.
Sem perda de tempo, à falta de uma explicação científica para o fenómeno, a fértil crendice popular não perdeu tempo em encontrar explicações. Uns asseguram que foi castigo de Deus para punir os feiticeiros que abundam na cidade e cercanias. Outros afirmam que a ira Divina decidiu limpar este lugar das drogas que estavam escondidas a seu montante e foram levadas para o mar as destruir. Os de maior criatividade para a ficção obscurantista juram a pés juntos que o dragão ou serpente gigante existente na nascente do Rio Licungo, lá para as frescas montanhas do Gúrué, ficou zangado/a porque pessoas atrevidas foram provocá-lo/a mexendo as suas terras à procura de pedras, metais e outras riquezas no seu subsolo.
Estas explicações populares ganham maior aderência popular porque, o troço do Rio Licungo que passa por Mocuba, nos últimos anos tem sido de baixíssimo caudal, mesmo na época de maior pluviosidade, transbordou centenas de metros para fora de ambas as suas margens, sem que tivesse chovido bastante.
Soa importante referir que a erosão, antes de ser um problema físico do fórum da geotecnia, é uma questão económica e social com forte enraizamento político. Vale isto dizer que terá efeitos paliativos tentar-se atacar este fenómeno sem se tomar em linha de conta a esta trindade de pilares que estão na sua origem
A erosão é um problema económico e social porque o tecido social (social fabric) do País em geral e do meio rural, em particular, onde deveria viver e trabalhar, de modo sedentário, a maior parte da população moçambicana (80%) continua a não oferecer qualidade de vida atractiva aos camponeses, de modo a que estes não sintam necessidade de rumar para os lugares comparativamente mais urbanizados que o campo. Assim, o camponês muda-se para as cidades e vilas, mas como não é dotado de valências técnico profissionais para exercer uma actividade que garanta a sua sobrevivência naquelas, dedica-se a fazer machambinhas em espaços poucos aconselháveis para esta faina. A par desta carga sobre o solo para o exercício da actividade agrícola, o camponês ergue a sua cabana em qualquer sítio sem obedecer aos planos directores existentes nos centros urbanos. Machambas, casebres em lugares inapropriados, eliminação de árvores para obtenção de combustível lenhoso e movimentação incessante de pessoas no exercício do comércio informal propiciam um ambiente susceptível à vulnerabilidade do solo à erosão.
A origem económica da erosão é, também, agravada pelo abate descontrolado das florestas para exploração de madeira ou para aproveitamento agrícola, porque estas actividades deixam as terras sem capacidade de retenção das águas pluviais, que assim correm descontroladamente para o leito dos rios aumentando de forma anómala o seu caudal, deixando as matas sem o seu natural e saudável encobrimento verde. A questão é que parece que já nos esquecemos que a árvore é um presente que Deus nos deu para o legarmos aos nossos netos e que ela é a nossa irmã vegetal de extrema importância para o equilíbrio da mãe natureza na qual o homem está integrado.
A erosão é um problema de engenharia, cuja implementação, com eficácia, mexerá com a vida, património e crenças das pessoas porque poderá implicar reassentá-las noutros locais, distantes do seu trabalho, da escola dos filhos, dos seus amigos e até dos seus defuntos, dado que a velha tradição dos cemitérios familiares é, por vezes, trazida pelo camponês para as cidades.
A erosão é um delicado problema político que porá à prova a capacidade de as autoridades terem a coragem de, em tempo oportuno, solucioná-lo mediante a adopção de medidas apropriadas de efeito duradoiro e não por campanhas de resultado efémero.
Porque nem com os entendimentos obtidos na Cimeira da Terra na Cidade do Rio de Janeiro, Brasil, em 1992, consubstanciados pelo Acordo do Kyoto no Japão, anos mais tarde, o Homem ainda não se convenceu que ele é o principal predador da natureza, urge educá-lo desde a sua infância através da introdução de conteúdos didácticos mais assertivos nas disciplinas de Meio Ambiente, Ciências Naturais, Geografia, Português e outras Línguas para que no subconsciente das crianças fique inculcada a necessidade de amá-la e respeitá-la como elas o fazem em relação às suas mães uterinas porque sem ela equilibrada a nossa existência como entes povoadores do Planeta Terra estará irreversivelmente ameaçada.
Portanto, a erosão terá que ser resolvida através de medidas económicas que modifiquem o actual paradigma de gestão global do nosso País, de tal sorte que os factores, objectivamente, causadores daquele fenómeno físico contra o solo sejam erradicados.

António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele)


Montagem e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Cineclube Afro Sembene, Fórum África e Cabeças Falantes.






Festival Varilux de Cinema Francês 2015

A edição deste ano do evento, que acontece de 10 a 17 de junho, promete bater vários recordes; além do número de cidades aumentar para 50 (80 cinemas), o festival pretende chegar a todas as capitais brasileiras com grandes novidades do cinema francês. A meta de público também cresce: a expectativa é levar mais de 110 mil pessoas aos cinemas em uma semana para assistir aos 16 filmes em cartaz, um acréscimo de 10% em relação a 2014.

Como já é tradição do evento, o festival trará ao Brasil representantes de alguns dos filmes para apresentações e debates com o público.

Apenas um mês após o maior evento de cinema do mundo, o Varilux traz para o público brasileiro o filme de abertura do festival de Cannes: “De cabeça erguida”, com Catherine Deneuve e Benoît Magimel. A diretora Emmanuelle Bercot, segunda mulher a abrir o festival de Cannes, virá ao Brasil para apresentar o longa.

Com produção da Bonfilm, o evento conta também com as atividades paralelas, como Oficina Franco-Brasileira de Roteiros, que neste ano vai para sua quarta edição, com apoio direto da Riofilme e ABPITV, exibições ao ar livre e gratuitas na concha acústica da UERJ, sessões populares distribuídas por diferentes espaços alternativos do Rio de Janeiro, como a Arena Dicró, Masterclasses de direção com Anne Fontaine com entrada franca, e ação educativa que levará exibições gratuitas para escolas em mais de 15 cidades.

O Festival Varilux já se consolidou como o primeiro festival de cinema com abrangência nacional, fazendo parte do calendário cultural do Brasil. Para Arnaud Ribadeau Dumas, presidente no Brasil da Essilor/Varilux – multinacional francesa fabricante exclusivo das lentes multifocais Varilux® e do antirreflexo Crizal® -, empresa que patrocina o evento desde a primeira edição, o objetivo da companhia em incentivar e disseminar a cultura no Brasil está, a cada ano, sendo alcançado. “Há mais de uma década apostamos nessa iniciativa. Assistir o avanço e a ampliação de sua abrangência Brasil a fora, inclusive em cidades fora dos grandes centros, nos dá a certeza de que fizemos a coisa certa”, afirma o presidente.

Segundo o diretor da Bonfilm e do festival, Christian Boudier, o Varilux já se tornou um dos principais eventos de cinema do país. “O festival é um dos mais aguardados pelo público brasileiro, além de ser um dos mais eficientes para promover a cultura e a imagem da França no Brasil”.

“Vale lembrar que os ingressos para as sessões do evento seguem a política de preço de cada cinema”

O Festival Varilux de Cinema Francês é patrocinado pela multinacional francesa Essilor/Varilux, pela Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro, Ministério da Cultura através da Lei Federal de Incentivo à Cultura, e conta com o copatrocínio da Embaixada da França, Delegação Geral das Alianças Francesas do Brasil, Air France, Sofitel, Unifrance Films e RioFilme. Clique aqui e confira a programação completa por estado e região.


Pesquisa e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Cineclube Afro Sembene, Fórum África e Cabeças Falantes. 




terça-feira, 12 de maio de 2015

Dia das Mães e Dia da Africa na sessão especial do Cineclube Afro Sembene


Tema: Visões de África - Burkina Faso por Márcio Werneck e Viviane Ferreira


Sete Dias em Burkina Faso

Direção de: Márcio Werneck

Sinopse: Quem conhece as periferias, as aldeias e o sertão do Brasil vai se identificar e se encantar com Sete Dias em Burkina, onde as crianças, com seus olhos de jabuticaba e sorrisos impressionantes, expressam o verdadeiro significado do nome de sua nação: País de homens íntegros. Realizado pelos músicos e documentaristas, Carlinhos Antunes, Márcio Werneck e Patrick Lavaud. Sete dias em Burkina mostra o festival de música mais esperado do ano e um dos mais importantes da África, o NAK - Noites Atípicas de Koudougou. Por detrás do Festival, o documentário retrata a trajetória de duas pessoas que, unidas pelo mesmo ideal, fundaram instituições culturais e educativas para crianças e jovens, oferecendo estudos regulares, artísticos e profissionalizantes e uma visão plena de cidadania e humanismo.

Duração: 58 minutos



Mumbi Sete Cenas Pós Burkina

Direção de: Viviane Ferreira

Sinopse: Mumbi7Cenas Pós Burkina" mostra a angustia de Mumbi, uma jovem cineasta, que após participar de um dos maiores festivais de cinema do mundo, se vê enclausurada em seu interior sem saber qual será sua próxima obra. A partir do diálogo entre seu pensamento e suas lembranças de obras marcantes do cinema brasileiro, Mumbi se liberta.

Duração: 7 minutos


Dia 16/maio/2015 - sábado - 19 horasPUC CONSOLAÇÃORua Marquês de Paranaguá, 111 - sala 20
INFORMAÇÕES: www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br/ cineafrosembene@gmail.com

Entrada franca. Porém pede-se a voluntária colaboração de 1 kilo de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que acolhe diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.


Realização: Fórum África
Apoio: Cabeças Falantes

Cineclube Afro Sembene - Nosso encontro mensal com o cinema africano

Pesquisa e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Cineclube Afro Sembene, Fórum África e Cabeças Falantes.