quarta-feira, 3 de junho de 2015

Cineclube Afro Sembene presta homenagem à memória, vida e obra do seu patrono dia 27/6 na PUC Consolação



Assim falou Guimarães Rosa: As pessoas não morrem. Ficam encantadas. O dia 9 de junho de 2015, marca desde 2007 para leitores, cinéfilos, pesquisadores, produtores, lideranças e admiradores, o oitavo ano da saída de cena de Ousmane Sembene, que nasceu em 01 de janeiro de 1923, no vilarejo de Ziguinchor, Casamance, no Senegal. Foi escritor, produtor, roteirista, ator e diretor de cinema. Considerado O Pai do Cinema Africano, ao longo da sua vida ele escreveu 10 romances e realizou 12 filmes. 

Seus pais são Lébous que deixaram a península de Cabo Verde para Casamance. Aos sete anos, ele freqüentou a escola corânica e a escola francesa, onde aprendeu francês e árabe, enquanto que sua língua materna é o Wolof . De família humilde e trabalhadora, o pai era pescador, Ousmane Sembene freqüentou a escola até os catorze anos, passando depois por varias profissões: pescador (como o pai), mecânico, pedreiro e militar, tendo participado nas campanhas de Itália e Franca, contra o fascismo e nazismo. No fim da guerra trabalhou em Marselha como estivador, passando a ativista sindical. Esta experiência proporcionou-lhe a temática de seu primeiro livro, Le Docker Noir (1956), e de algumas historias de Voltaique (1962). Autodidata persistente, em todas as atividades que exerceu enriqueceu o seu conhecimento da vida e dos homens. Sembene foi criado pela sua avó materna que o influenciou muito. As mulheres desempenham papeis importantes e relevantes não somente em sua vida como também em todas as suas obras. Bem como as impressões da sua trajetória de vida e os reflexos das ocupações que exerceu estão presentes nelas. 

Para o diretor mais proeminente da África, o filme pode tornar visíveis os abusos do poder e manifestar aquilo que os governos gostariam de manter escondido. O filme pode falar ao mundo Ocidental sobre seu poder opressivo e a Senegal, seu país, e a outros países do Terceiro Mundo sobre sua opressão. O filme, acredita Ousmane, supera o problema apresentado pelo analfabetismo do Terceiro Mundo, uma vez que é acessível da mesma forma para letrados e iletrados. Isso explica porque Sembene se voltou para o wolof ao invés do francês em seus filmes recentes. Usando o filme para chamar a atenção para a dicotomia Terceiro Mundo/Ocidente, Sembene contribui consideravelmente para o desenvolvimento do filme político.

Como um autor preocupado com a mudança social, a exemplo de Lima Barreto, Solano Trindade, Zózimo Bulbul, Spike Lee, apenas para citar referencias semelhantes, Ousmane Sembene desejava tocar um público amplo com questões agudas propensas a debates e reflexões, mas percebeu que suas obras escritas chegariam apenas a poucos letrados e quando muito a pequenas elites culturais, enquanto que os filmes poderiam chegar a um público mais amplo em terras africanas. E talvez fora delas. Tanto que baniu o francês e adotou o Wolof como língua oficial em seus últimos filmes. Entre 1962-1963, ele estudou cinema por um ano em Moscou, na Gorky Film Studio (nome do escritor Maxim Gorky, um dos fundadores do realismo socialista soviético), sob orientação do diretor soviético Mark Donskoy. A Gorky Film Studio produziu mais de 1000 filmes durante a era soviética, muitos dos quais se tornaram clássicos do cinema e outros deles foram premiados em vários festivais internacionais. De volta à África, Sembene entregou-se entusiasticamente a uma dupla atividade criativa: a de escritor e cineasta. 

Ousmane Sembene faleceu em 9 de Junho de 2007, com a idade de 84 anos. Ele estava doente desde dezembro de 2006, e morreu em sua casa em Dakar, Senegal, onde ele foi enterrado em uma mortalha adornada com versos do Alcorão. Sembene foi socorrido por três filhos, de dois casamentos. 

Em Paris, o secretário-geral de francofonia e o ex-presidente senegalês Abdu Diuf afirmou que "a África perdeu um de seus maiores cineastas e um fervoroso defensor da liberdade e da justiça social". O ministro francês da Imigração, Brice Hortefeux, manifestou sua "emoção" ao declarar que, "com a morte de grande cineasta senegalês, a francofonia perde um artista talentoso, que tinha olhar caloroso sobre o mundo".

Atentos ao cenário internacional e nacional, nestes tempos de recessão econômica mundial, apelos de acolhimento, fugas e conflitos imigratórios (quem assistiu Homem Caído (Man on ground), de Akin Omotoso, sabe o significado desta vigília) o Fórum África e Cineclube Afro Sembene prestarão homenagem à memória, vida e obra de Ousmane Sembene, patrono deste cineclube, excepcionalmente dia 27 de junho de 2015, no campus da PUC Consolação, Rua Marques de Paranaguá nº111, sala 20, com a exibição de dois dos seus primeiros filmes: o média “A Negra De (La Noire De)”, 1966 e o curta “O Carroceiro (Borom Sarret)”, 1963. 

O objetivo deste evento é traçar distinções e semelhanças reflexivas sobre a produção cinematográfica da África e Diáspora, suas influências e referências, em especial, no Brasil, seguidos de roda de conversa com o público presente, em torno de apontamentos e comentários a serem apresentados pelo Prof.Mestre Victor Martins, estudioso de Ousmane Sembene, Doutorando em História pela PUC-SP; Pesquisador do Cecafro-PUC-SP e Casa das Áfricas; Coordenador do curso de Pós-Graduação em História da África da Unifai - Centro Universitário Assunção; Membro da Secretária de Relações Internacionais da ACAT (Associação Cristã de Combate à Tortura); e autor do livro "Olhares sobre o contemporâneo", ensaios, 2014. 

A NEGRA DE... (La noire de...). Sinopse: Baseado em um conto homônimo de Sembene publicado em 1961, "La noire de..." conta a história de uma jovem senegalesa que vai trabalhar na França com o casal de franceses que a empregava em Dakar. Inicialmente animada com a perspectiva de conhecer a França, ela logo se vê desiludida, notando diferenças no tratamento que os patrões lhe dão. O filme trata de modo único os efeitos do colonialismo, do racismo e dos conflitos trazidos pelas identidades pós-coloniais na África e na Europa. Baseado em um caso real.
Diretor: Ousmane Sembene. Gênero: Drama. Elenco: Mbissine Thérèse Diop/Diouana. Anne-Marie Jelinek/Senhora. Robert Fontaine/Senhor. Momar Nar Sene/Namorado de Diouana. Ibrahima Boy/Garoto com a máscara. Toto Bissainthe/Diouana (voz). Robert Marcy/Senhor (voz). Sophie Leclerc/Senhora (voz). Bernard Delbard/Jovem convidado. Nicole Donati/Jovem convidada. Raymond Lemeri/Convidado. Suzanne Lemeri/Convidada. Duração: 55 minutos. Ano de Lançamento: 1966. País de Origem: Senegal/França. Idioma do Áudio: Francês. Legendas: Português.

O CARROCEIRO (Borom Sarret). Sinopse: Um dia na vida de um carroceiro que, com seu cavalo Albourah, sai de casa cedo para conseguir trabalho, transportando pessoas entre diferentes partes da cidade de Dakar. A pobreza, a fome, as relações entre formas de tradição e modernidade que atravessam a África, a desigualdade social são alguns dos temas que a narrativa põe em cena, tanto no conteúdo quanto na forma: o filme foi feito sob condições técnicas limitadas, fazendo com que Sembene optasse por uma trilha de som adicionada posteriormente às filmagens em preto e branco com alto contraste. A narrativa do filme se abre para inúmeras leituras, incluindo uma alegoria de suas próprias condições de produção.
Diretor: Ousmane Sembene. Elenco: Ly Abdoulaye/O Carroceiro; Albourah/O Cavalo. Gênero: Curta. Duração: 18 minutos. Ano de Lançamento: 1963. País de Origem: Senegal. Idioma do Áudio: Francês. Legendas: Português.

A entrada é franca. Porém, pede-se a colaboração voluntária de 1 kilo de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, localizadas no bairro do Glicério, que atende diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.

O Cineclube Afro Sembene é uma iniciativa do Fórum África, associação cultural sem fins lucrativos criada por brasileiros e africanos, em atendimento a Carta de Tabor e a Lei 10.639/3, acontece todo 3º sábado mensal, seguido de debate com um comentarista convidado, um chá de confraternização e outros costumes da cultura africana. Coordenação: Saddo Ag Almouloud, Vanderli Salatiel e Oubí Inaê Kibuko.

O Fórum África é uma entidade de caráter social, cultural e recreativa, com personalidade jurídica, visando a congregação de todos os africanos, brasileiros, e pessoas interessadas em promover: encontros, movimentos de solidariedade, bem como a difusão das informações e melhores conhecimentos da África no Brasil. Um grupo de profissionais e estudantes (africanos e brasileiros) pertencentes a instituições como a Universidade de São Paulo, Pontifícia Universidade Católica, Centro de Estudos Africanos e Associações de Países Africanos estabelecidas em São Paulo, que decidiram congregar forças e criar uma associação sem fins lucrativos, denominada Fórum África.


SERVIÇO
Excepcionalmente dia 27/junho/15 - sábado - 19 horas. Fórum África e Cineclube Afro Sembene convidam: SEMBENE VIVE – Homenagem à memória, vida e obra do escritor, produtor e cineasta Ousmane Sembene (1923+2007).

A NEGRA DE (La Noire De), 1966/O CARROCEIRO (Borom Sarret), Senegal, 1963, ambos de Ousmane Sembene.
Seguidos de roda de conversa com o Prof.Mestre Victor Martins (Unifai), estudioso de Ousmane Sembene; Doutorando em História PUC-SP; Pesquisador do Cecafro/Casa das Áfricas; autor do livro Olhares sobre o contemporâneo. 

Local: PUC CONSOLAÇÃO. Rua Marquês de Paranaguá, 111 - sala 20. Referência: Travessa Rua da Consolação, próximo ao Mackenzie, entre metrô República e Paulista. 

ENTRADA FRANCA. Porém, pede-se a colaboração voluntária de 1 kilo de alimento não perecível. Ou roupas, calçados, cadernos, livros, revistas, material de higiene e limpeza. Serão doados ao Arsenal Esperança/Missão Paz, que atende diariamente centenas de estrangeiros, inclusive africanos.

Informações: 
www.cineclubeafrosembene.blogspot.com.br 
www.forumafricabrasil.ning.com/www.tamboresfalantes.blogspot.com.br 
Email: cineafrosembene@gmail.com - tamboresfalantes@yahoo.com.br
(055+11)9.9750-1542

Realização: Fórum África
Apoio: Cabeças Falantes

Cineclube Afro Sembene: Nosso encontro mensal com o cinema africano.
 
 
Pesquisa, texto, montagem e postagem por Oubí Inaê Kibuko para Fórum África, Cineclube Afro Sembene e Cabeças Falantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário