quinta-feira, 25 de junho de 2015

Cinco crônicas de António Nametil Mogovolas de Muatua, diretas de Mozambique, em homenagem à sua independência

Segundo a Wikipédia: "Moçambique é um país da África Austral, situado na costa do Oceano Índico, com cerca de 20 milhões de habitantes (2004). Foi uma colônia portuguesa, que se tornou independente em 25 de Junho de 1975. A história de Moçambique encontra-se documentada pelo menos a partir do século X, quando um estudioso viajante árabe, Al-Masudi descreveu uma importante atividade comercial entre as nações da região do Golfo Pérsico e os "Zanj" (os negros) da "Bilad as Sofala", que incluía grande parte da costa norte e centro do atual Moçambique.

No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV. A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.

Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975."

Nosso correspondente, António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele), que nos brinda com as suas cronicas, prestou homenagens à sua terra natal pela passagem de mais um ano de independência. Com prazer, publicamos na integra e esperamos que leitores brasileiros e os moçambicanos residentes no Brasil, apreciem. Oubí Inaê Kibuko, coordenador de programação do Cineclube Afro Sembene, editor de Cabeças Falantes.


Independência
António Mtabele
N’siripwiti
Maputo, 12 de Junho de 2015

Bem muito importante e sagrado para um povo que quer ser Nação.
Os moçambicanos sempre quiseram secularmente ter País e transformá-lo em Nação.
No calendário gregoriano decorria o mês de Junho, dia 25, do ano de 1975.
No calendário de Moçambique está escrito mês da Liberdade!
Naquela noite até a chuva nos cumprimentou, ela que sempre testemunhou a nossa secular vontade, expressa em lágrimas, de sermos livres.
Começava uma nova luta para este nosso heróico povo, porque unido do Rovuma ao Maputo, tinha acabado de conquistar um dos bens mais preciosos do Homem, a sua liberdade.
Este nosso Povo é gigante porque sua vontade não tem fronteiras, mas porque estava dividido, pensando que macua por não ser nhungwé, nem nyanja não era tão moçambicano como o lomwé, o chope e o changana o eram, facilitou a sua dominação pelos colonos.
Interessava ao nosso colonizador secular que continuássemos a laborar nesta confusão divisionista da qual ela recolhia vantagem reinando sob a nossa teimosa divisão.
E um homem com a dimensão de Moçambique nasceu, há 95 anos, nas matas mandlakhazianas!
Um nacionalista visionário emergiu daquele camponês, oportunamente, nascido.
Cedo experimentou a orfandade paterna.
Pela mão de sua mãe, humilde camponesa, que antevendo o futuro longínquo que por seu filho seria protagonizado, aquele Eduardo Chivambo Mondlane, conheceu as virtudes que o alfabeto escondia dentro de si.
Mondlane, bem colocado na profissão internacional que abraçara lá para as terras do tio Sam, em Nova Iorque, vivia triste.
Se Mondlane não tivesse a dimensão do sofrimento do seu povo teria, comodamente, continuado a progredir na sua brilhante e promissora carreira de alto funcionário das Nações Unidas.
Aprendeu que enquanto os moçambicanos estivessem aprisionados ele jamais seria livre. As iguarias alimentares e espirituais a que tinha acesso por força do trabalho que realizava tinham sabor a fel porque os seus compatriotas sofriam.
Era seu fado libertar os moçambicanos das grilhetas do colonialismo. Trocou o conforto das sumptuosas salas alcatifadas, dotadas de excelente arejamento condicionado para se embrenhar na mata arriscando a sua própria vida para o bem-estar do seu Povo.
E assim Mondlane tudo deixou!
Mondlane, feito Moisés, libertador do Povo Hebreu do cativeiro do Egipto, veio aos seus irmãos juntar-se e com eles – sempre com o timão na mão – fez a longa caminhada rumo à independência nacional.
Até à exaustão ensinou-nos o significado de “Povo Moçambicano”.
Mondlane nos ensinou-nos Povo Moçambicano era apenas Homem. Homem sem evidenciar a cor, credo, tribo, etnia, região, sexo, preconceitos, títulos nobiliárquicos e académicos, brasões, etc.
Quarenta anos já passados, nós moçambicanos, juramos continuar a valorizar o sangue derramado por Mondlane e outros heróis para que esta Pátria continue lutando para ser País desenvolvido em que todo o Povo seja feliz.
Parabéns Moçambique, Pátria de Heróis!

Casmurrice
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 12 de Junho de 2015

Eu sou do Clube Ferroviário de Nampula. Treinei para este clube, sob os ensinamentos de Joaquim Bento Chaveiro, nas classes iniciais, quando, em 1961, por razões escolares me mudei de Muatua para esta cidade.

Importa aqui informar aos mais novos e aos mais antigos como eu, que pelas mãos do Chaveiro, passaram ou devem ter passado directa e indirectamente alguns dos grandes nomes do futebol nampulenses e nacional, como são os casos do Moreira, Amarchande, Absalão, Magaia, Cabral, Rui Évora e muitos outros cujos nomes não me ocorrem de memória e, infelizmente, não figuram na fonte que ora consulto.

Face a este défice de informação sobre a História do Futebol em Moçambique, soa oportuno perguntar quando a Federação Moçambicana de Futebol contratará os serviços de um jovem historiador e de um jornalista desportivo reformado para montar o banco de dados sobre jogadores e o Futebol em geral em Moçambique?

Eu amo, consequentemente, aquele clube da minha segunda terra pelo facto de ter acreditado em mim, ter-me proporcionado a oportunidade de aprender algumas técnicas de bem pontapear a bola, mas, fundamentalmente, porque foi naquela colectividade onde fiz muito boas e grandes amizades.

Uma vez em Lourenço Marques, em razão de prossecução da minha formação académica, duas casas procurei para me complementar física, psicologicamente e na minha fé. Fui ao Clube Ferroviário de Maputo, apresentei-me para jogar futebol nos juniores, dado que já tinha 18 anos. Porque povoado de craques, não consegui titularidade neste clube. Então inscrevi-me nos departamentos de atletismo e ginástica. Sob a “batuta” dos saudosos Daniel Firmino pratiquei atletismo e do Nuno Abranches fiz ginástica aplicada neste clube. Na Igreja Católica Apostólica da Munhuana, encontrei o lugar de recolhimento para com Deus ter a minha conversa dominical e quando podia, durante a semana, ia a Santa Missa vespertina.

Portanto, os meus considerandos subsequentes não se prendem com pruridos clubistas. A questão é que nas minhas veias corre também sangue desportista. O meu clube, já o disse, é o Ferroviário de Nampula e amo todos os seus irmãos congéneres de outras províncias. E sou, visceralmente, tão ferroviário, que quis o destino que eu me casasse com uma das filhas – a mais linda - de um funcionário dos Caminhos de Ferro de Mocuba e ex-jogador do Clube Ferroviário daquela Cidade Zambeziana.

… E o meu Barcelona do Lionel Messi conquistou o seu Quinto Título da Liga dos Campeões Europeus em Futebol. Parabéns para este Clube que, este ano, guardou nas suas vitrinas a Taça da Liga Espanhola de Futebol, a Taça do Rei em Futebol. Os sucessos do Barcelona, por isso gosto dele, são fruto da boa gestão vivida e implementada por todos e em todos os capítulos da vida daquela colectividade clubista.

Mas parece que o mesmo já não sucede com o Sport Lisboa e Benfica, clube com o qual simpatizo por nele Eusébio e Coluna terem brilhado. Com efeito, numa atitude difícil de ser entendida esta colectividade desportiva não conseguiu manter o seu bem-sucedido treinador Jorge Jesus. Entretanto, preferiu pagar pesada indeminização pela rescisão do contrato do seu novo timoneiro ao clube ao qual este estava vinculado. Casmurrice dos gestores do clube lisboeta? Sim! Não! Talvez!

Enfim, são absurdos da próspera indústria do futebol, que é a única actividade que, aparentemente, ainda não se ressentiu da crise económica e financeira que sacode o Mundo desde 2008. E acredito que esse escândalo que ora abala a FIFA – Fédération Internationale de Football Association – não provocará feridas no futebol como indústria de entretenimento de massas, envolvendo vultuosas massas financeiras.

E entre muros nacionais parece que, por falta de uma clara e pouco confusa política de gestão do nosso futebol se pretende linchar publicamente a carreira profissional de João Chissano como seleccionador nacional dos Mambas. Ele, para quem tenta entender de gestão de futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e longo prazos. Enquanto ele continuar a apostar nas camadas mais jovens e esta sua atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, Moçambique voltará a fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado na arena internacional.

Paliativo
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 17 de Junho de 2015

Aparece-me um furúnculo purulento numa região do corpo. O médico, sem me submeter a análises clínicas para conhecer a origem do mal, receita-me uma pomada de uso tópico. O meu padecimento, obviamente, não passa.

As análises clínicas comprovam que as minhas dores de cabeça são devidas a um ataque de malária. O responsável da unidade hospitalar à qual fui pedir socorro receita-me somente aspirina. O resultado esperado, seguramente, não surge. A doença continua e evolui para níveis de grande perigosidade.

Os exemplos seriam infinitos. Não é objectivo desta reflexão exauri-los. Os resultados perspectivados não acontecem quando as medidas curativas não são as recomendadas no figurino.

A uma ferida em gangrena aplica-se-lhe o cauterizante na sua causa e nunca no seu efeito.

Graves problemas devem ser resolvidos com soluções eficazes, definitivas, num horizonte temporal a tender para o longo prazo.

Se não temos capacidade de diagnosticar, em ciência, a causa de um grave problema a atitude mais prudente é não inventar soluções empíricas. Algumas vezes é pior a emenda que o soneto.

A minha vetusta idade já não me autoriza ir à ribalta pública e esgrimir polémicas sobre assuntos alheios.

Mas o nosso desporto, o futebol, os MAMBAS, não são problemas alheios. São problemas nacionais. São problemas de todo o Povo moçambicano. De todo o Povo moçambicano porque engloba aqueles que gostam do futebol e que mesmo não sendo adeptos deste desporto, uma parte dos seus impostos é consagrada ao financiamento desta modalidade desportiva.

Portanto, sinto-me com, pelo menos, direito moral para emitir a minha opinião sobre a recente demissão de João Chissano do ingrato cargo de Seleccionador Nacional de Futebol os MAMBAS. Mas vou desde já adiantando que foi asneira grossa interromper-se, prematura ou precocemente, a carreira profissional de tão jovem e promissor Seleccionador Nacional.

Para o Povo Unido, independentemente, da sua cor político-partidária, do seu credo religioso, da sua tribo, da aldeia de onde é proveniente, do seu sexo e de outras características próprias de cada concidadão, o seleccionador nacional dos MAMBAS é algo que muito lhe pertence.

Ressalvados os exageros da comparação, o Seleccionador Nacional do MAMBAS é uma personalidade que, em termos de poder aglutinador do Povo, tem tanto ou mesmo que o Presidente da República. Este último é eleito por uma maioria qualificada. O Seleccionador Nacional dos MAMBAS é indicado pela Federação Moçambicana de Futebol, para, em nome de todo o Povo Unido do Rovuma ao Maputo, desempenhar aquele nobre cargo. Dirigir a equipa de futebol de todos os moçambicanos.

A camisete dos MAMBAS é única que qualquer moçambicano, independentemente de ter ou não Partido Político, religião ou outra característica que o torna “sui generis”, a usa sem quaisquer pruridos ou preconceitos.

Num passado recente, por causa do bom trabalho dos MAMBAS, que resultou num golo favorável a Moçambique, já vimos Presidentes de partidos políticos arqui-adversários abraçarem-se efusiva e despreconceituosamente em pleno Estádio da Machava.

Vale isto dizer que não é sem juros elevados pagos por todo o País despedir-se, em pleno campo de jogos, um Seleccionador Nacional do Gabarito de João Chissano, que tantas glórias e alegrias já trouxe ao nosso Povo durante o seu consulado.

Com grande efeito de placebo (medicamento que intruja psicologicamente o doente e este sente-se temporariamente curado da doença) a medida tomada de se correr com João Chissano é meramente paliativa. Não é com medidas de jaez paliativo como esta ora adoptada de se expulsar o nosso Seleccionador Nacional dos MAMBAS que a grave doença que mata, paulatinamente, o nosso futebol vai ficar curada a médio e longo prazos e de modo irreversível.

Os nossos dirigentes governamentais e das federações de todas as modalidades desportivas – com os pais e os encarregados de educação inclusos – deverão ter a coragem de parar de concretizar estas nossas habituais tendências de pretendermos fazer tudo por campanha, incluindo a gestão do desporto em geral e do futebol em particular.

O jogador que fará dos MAMBAS uma equipa de referência em Moçambique ainda é, neste momento, criança da pré-escola. Esta criança tem que aprender a correr em casa, depois na escolinha e escola primária, secundária, média e superior e só depois nos diferentes escalões etários dos clubes para mais tarde brilhar na selecção nacional.

Por falta de uma clara e delineada política de gestão do nosso futebol, “linchou-se” injusta e publicamente o seleccionador nacional dos Mambas, João Chissano. Este técnico de grande gabarito nacional e internacional, para além de entender de gestão de futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e longo prazos, pois enquanto continuar a apostar nas camadas mais jovens e se esta atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, creio que Moçambique voltará a fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado e merece na arena internacional.

Não é, portanto, com medidas paliativas e para “inglês ver” como esta que foi adoptada pela Federação Moçambicana de Futebol que passaremos a ter bom futebol e melhor desporto em Moçambique.

Tenhamos paciência! Já basta de tentarmos fazer tudo por campanha. O camponês semeia e fica, pacientemente, a espera do milho.    

Função Pública
António Matabele  
...a margem do Rio Pitamacanha.
Moatize, 24 de Junho de 2015

O mundo celebrou ontem, 23 de Junho de 2015, o Dia Internacional da Função Pública.

A data foi deliberada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para se fazer a exaltação da abnegação, dos valores defendidos e dos esforços feitos pelos servidores dos Estados e Governos ao serviço dos Povos pelo Mundo.

Quis assim a ONU que aquele cidadão anónimo de todo o mundo, que sua vida sacrifica para que o Povo humilde receba com a qualidade e a tempestividade esperadas os serviços providenciados pelo Estado, se sentisse valorizado.

Sem pompa, mas com a circunstância merecida, em Moçambique, as cerimónias centrais desta efeméride internacional alusiva ao servidor público, tiveram o seu epicentro na Cidade de Inhambane, e foram presididas pela “servidora mor” do Ministério que também tutela a Função Pública, Sua Excelência a Drª. Carmelita Rita Namaschilua.

A tónica das celebrações em Moçambique, concentraram-se na valorização da Pessoa que serve e é servida. Para a materialização deste objectivo de importância capital foram realizadas acções de formação e informação do servidor e os seus clientes, que é o público em geral. Houve entrevistas, palestras, seminários, debates, actividades culturais, desportivas, culinárias e lúdicas de índole diversa nas quais os funcionários do Estado e as populações interagiram. Antigos ministros e actuais desta área foram convidados a apresentarem os seus pontos de vista sobre os desafios vividos pela Função Púbica. A juventude, a mulher, a universidade, o operário não foram, desta vez, infelizmente, convidados a dar o seu, talvez muito válido, contributo e a sua visão sobre esta problemática.

Esta muito saudada aproximação entre os funcionários públicos e as populações caracterizou-se pelo facto de os primeiros, num gesto de humilde grandeza e vontade de aprender, se terem exposto à mercê do crivo censor e didáctico do saber e experiência populares.

Moçambique, uma das Nações potencialmente mais ricas do mundo em termos de população maioritariamente jovem, terra arável abundante e bastante fértil e possuidora de recursos naturais variados de grande valor comercial e industrial, com 25 Milhões de Habitantes, possui apenas 296.856 Funcionários e Agentes do Estado, dos quais 184.891 são homens e 111.695 mulheres.

A gestão desta força de trabalho do aparelho do Estado é, em teoria, feita de forma dinâmica. Figura na Lei competente que ao servidor público é oferecida pelo Estado uma perspectiva de carreira técnico profissional e que esta é do seu prévio conhecimento. Para sua progressão objectiva, o servidor do Estado está contemplado por uma avaliação periódica, cujos parâmetros e critérios deveriam ser, também, do seu prévio conhecimento.

No período em análise, que preenche uma parte dos 40 anos da nossa independência nacional houve promoções, progressões e mudança de carreira beneficiando um universo de 45.000 servidores. Houve 13.076 promoções por bom desempenho, 3.700 promoções por concurso e 15.550 mudanças de carreira.

Com aquele número de Funcionários e Agentes do Estado (296.856) o "ratio" entre eles e os seus clientes, que é a população moçambicana, é desvantajoso em termos de cobertura "per capita" de servidores do Estado ao Povo. Há uma fracção enorme da Procura/Demanda (D) por serviços públicos que a Oferta/Supply (S) ainda não está capaz de satisfazer. Com efeito, somente 1,19% da nossa população trabalha como Funcionários e Agentes do Estado, significando, estatisticamente, que cada um tem que atender 85 Mil Pessoas.

Para a remuneração destes Funcionários e Agentes do Estado somas significativas do Orçamento Geral do Estado (OGE) são consagradas para a rubrica salários, perfazendo uma parte significativa do PIB (Produto Interno Bruto).

Investidor
António Matabele  
N’siripwiti
Moatize, 26 de Junho de 2015

Ontem, 25 de Junho de 2015, Moçambique, em Paz, cansado de guerra e só querendo desenvolvimento endógeno e irreversível, celebrou os 40 anos da sua Independência.

Foram anos de muita luta, coragem, esperança, lágrimas e alegrias. O Povo, buscando forças das profundezas do impossível, saiu ganhador. Com esta sua intrépida e estóica determinação levará Moçambique para os píncaros do progresso sonhado, em 1962, quando o movimento libertário da Pátria e dos Homens foi, com sucesso, iniciado.

A nossa Constituição determina que a Agricultura é a base do nosso desenvolvimento.

Oitenta por cento dos 25 Milhões de Habitantes da nossa população vive no meio rural fazendo agricultura de subsistência e outra para obtenção de rendimento.

Pela sua expressão numérica, o agricultor é o maior investidor em Moçambique. Todos os anos, nas campanhas agrícolas, o agricultor investe a quase totalidade dos seus recursos financeiros, económicos e patrimoniais, bem como o seu esforço físico e intelectual para fazer a sua machamba, que é o seu investimento sazonal por excelência. Nesta perspectiva, o agricultor rural indígena é o único investidor que consagra a totalidade do seu património no financiamento do seu empreendimento todos os anos. Sem paternalismos, urge que esta sua condição seja cuidadosamente estudada para evitarmos que o agricultor, durante todo o seu período de trabalho activo, trabalhe para o seu continuo, paulatino e irreversível empobrecimento. Com efeito, porque o agricultor todos os anos tudo investe na sua machamba, tudo perde nela quando no fim da campanha ou do ano agrícola vê o seu esforço perdido por uma miríade de razões a ele estranhas.

Face ao actual rosário de aparente descrença em relação ao papel desempenhado pelo agricultor, em sua qualidade de investidor integral (porque investe 100% dos seus recursos próprios todos os anos na sua machamba), quase que dá vontade de afirmar que o único agente económico que acredita que é possível desenvolver o País apostando forte na agricultura é o agricultor sozinho e mais ninguém.

Investidor, por definição muito simplificada, é aquela pessoa, singular ou colectiva, que usa as suas poupanças próprias e alheias, se necessário, para concretizar um empreendimento, normalmente, gerador de rendimento financeiro ou económico.

Para desenvolver o país, o Governo de Moçambique desenvolve políticas e iniciativas legais para incentivar a concretização de investimentos na economia.

As estatísticas oficiais comprovam que o investimento tem aumentado, graças aos incentivos atribuídos aos seus mentores e também porque o ambiente de paz que o País tem estado a viver tem propiciado esta apetência do investidor para com Moçambique.

Todavia, existe uma aparente contradição que reside no facto de o País – por força das suas condições naturais e por imperativo constitucional – ser agrícola por excelência, mas a nossa prática econômica não se traduzir na materialização deste comando da nossa Lei fundamental. E nesta sua condição de País vocacionado a ser naturalmente agrícola há um investidor individual ou familiar, nativo e indígena que é o agricultor rural ou camponês.

É um imperativo determinante do nosso desenvolvimento que o Estado e Governo de Moçambique reformulem o paradigma de apoio a este investidor nacional maioritário que é o camponês, ou agricultor rural.

O novo paradigma de apoio ao investidor agricultor rural passa pela realização de investimentos na área da sua capacitação técnico profissional e até educação convencional para adultos. Mas isto pressupõe paciência, planificação num horizonte de médio e longo prazos e nunca por campanhas de efémeros resultados.

Investir a montante e a jusante do investidor camponês poderá significar capacitá-lo técnica e profissionalmente, municiá-los de conhecimentos fundamentais de pedologia, do uso do sistema de rega, ensiná-lo a usar insumos agrícolas, adestrá-los em matéria de recurso ao crédito, revolucionar as garantias que lhe são exigidas pelos bancos, ensinar-lhe a desenhar os rudimentos de um projecto bancável, fazer o acompanhamento do processo de implementação do empreendimento do camponês (a sua campanha agrícola anual), melhorar as condições de transitabilidade das picadas dirigidas à sua machamba, melhorar os silos e os armazéns de produtos da sua colheita, organizar mercados nos quais a comercialização flua sem constrangimentos, conceder, quando necessário e devidamente estudados, incentivos de subvenção para que a venda dos seus produtos cubram a maior percentagem possível dos custos da sua produção e ele tenha, anualmente, por via deste artificio “paternalista” do Estado, “cash flow” não negativos, etc.

Assim agindo, o Estado de Moçambique, fazendo uso do seu “poder de império”, evitará que 80% da sua população empobreça todos os anos na medida em que enterra, sem vantagens, as suas parcas poupanças em machambas mal sucedidas.

Estudemos, “mudando o que houver a mudar”, as nossas boas experiências de um passado recente da nossa história, em que, por exemplo, no ex-BPD (Banco Popular de Desenvolvimento), mediante a utilização do trabalho de para-técnicos rurais, aquela instituição bancária, vocacionada a promover o desenvolvimento nacional e o rural em particular, ensinava o agricultor a ser um pequeno, mas bem-sucedido investidor. O retorno do crédito concedido naquelas condições seguras ao agricultor pelo ex-BPD rondava a casa dos 90%. E era visivel a sua lenta mas paulatina evolução, todos os anos, de tal maneira que 1981, ficou registado como o melhor ano agrícola de Moçambique no pós-independência, graças também ao ambiente de investimento favorável criado a favor do agricultor rural pelo Governo e seu braço financiador do investidor rural (o camponês), que era o ex-BPD.

Em resumo, temos que, a nível nacional, nos capacitarmos política e psicologicamente para vermos no agricultor o primeiro e o principal investidor do nosso País, quer pela sua expressão numérica, quer pelo que a sua produção representa para a formação do PIB – Produto Interno Bruto. E se assim procedermos, não estaremos inventando nada, nem tão pouco cometendo alguma heresia político-económica fora dos cânones estabelecidos, porque apenas estaremos agindo como determina a nossa Constituição: “a agricultura é a base do nosso desenvolvimento”.

Outra fatia substancial do OGE é consagrada ao desenvolvimento da Pessoa do Funcionário e Agente do Estado, através da sua inscrição em acções de formação no local e trabalho e fora dele, no País e no exterior. 

Para terminar esta reflexão, que fica prejudicada pelo espartilho limitativo de uma coluna de jornal, seria tamanha injustiça se, humildemente, não me curvasse para saudar o esforço militante, abnegado de verdadeiro e sério sacerdócio concretizado pela maioria dos Funcionários e Agentes do Estado para entregarem ao Povo um serviço de grande qualidade em tempo recorde.

Porém, seria cinismo imperdoável da minha parte se, acobardado no pretexto da limitação de espaço, deste humilde areópago da minha coluna, não lançasse a minha crítica àqueles, felizmente poucos Funcionários e Agentes do Estado, que padecem de sede crónica e passam a vida a molestar e a extorquir os parcos recursos do Povo pedindo-lhes refresco para dessedentarem as suas insaciáveis e eternamente ressequidas gargantas.

Urge que todo o povo "terça suas armas" e combata, sem tréguas, a esta minoria que, infelizmente, tem representantes desde o escalão de funcionários seniores aos mais juniores e cuja acção perniciosa, qual cancro em metástase acelerada, matará a Nação Moçambicana no limiar da sua juventude de 40 anos amanhã, 25 de Junho de 2015, condignamente celebrados.



  

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