No entanto, vários achados arqueológicos permitem caracterizar a "pré-história" de Moçambique (antes da escrita) por muitos séculos antes. Provavelmente o evento mais importante dessa pré-história terá sido a fixação nesta região dos povos bantu que, não só eram agricultores, mas introduziram aqui a metalurgia do ferro, entre os séculos I a IV. A penetração portuguesa em Moçambique, iniciada no início do século XVI, só em 1885 - com a partilha de África pelas potências europeias durante a Conferência de Berlim - se transformou numa ocupação militar, ou seja, na submissão total dos estados ali existentes, que levou, nos inícios do século XX a uma verdadeira administração colonial.
Depois de uma guerra de libertação que durou cerca de 10 anos, Moçambique tornou-se independente em 25 de Junho de 1975."
Nosso correspondente, António Nametil Mogovolas de Muatua (António Matabele), que nos brinda com as suas cronicas, prestou homenagens à sua terra natal pela passagem de mais um ano de independência. Com prazer, publicamos na integra e esperamos que leitores brasileiros e os moçambicanos residentes no Brasil, apreciem. Oubí Inaê Kibuko, coordenador de programação do Cineclube Afro Sembene, editor de Cabeças Falantes.
Independência
António Mtabele
N’siripwiti
Maputo, 12 de Junho de 2015
Bem muito importante e sagrado
para um povo que quer ser Nação.
Os moçambicanos sempre quiseram
secularmente ter País e transformá-lo em Nação.
No calendário gregoriano decorria
o mês de Junho, dia 25, do ano de 1975.
No calendário de Moçambique está
escrito mês da Liberdade!
Naquela noite até a chuva nos
cumprimentou, ela que sempre testemunhou a nossa secular vontade, expressa em
lágrimas, de sermos livres.
Começava uma nova luta para este nosso heróico povo,
porque unido do Rovuma ao Maputo, tinha acabado de conquistar um dos bens mais
preciosos do Homem, a sua liberdade.
Este nosso Povo é gigante porque
sua vontade não tem fronteiras, mas porque estava dividido, pensando que macua
por não ser nhungwé, nem nyanja não era tão moçambicano como o lomwé, o chope e
o changana o eram, facilitou a sua dominação pelos colonos.
Interessava ao nosso colonizador
secular que continuássemos a laborar nesta confusão divisionista da qual ela
recolhia vantagem reinando sob a nossa teimosa divisão.
E um homem com a dimensão de
Moçambique nasceu, há 95 anos, nas matas mandlakhazianas!
Um nacionalista visionário
emergiu daquele camponês, oportunamente, nascido.
Cedo experimentou a orfandade
paterna.
Pela mão de sua mãe, humilde
camponesa, que antevendo o futuro longínquo que por seu filho seria
protagonizado, aquele Eduardo Chivambo Mondlane, conheceu as virtudes que o
alfabeto escondia dentro de si.
Mondlane, bem colocado na
profissão internacional que abraçara lá para as terras do tio Sam, em Nova
Iorque, vivia triste.
Se Mondlane não tivesse a
dimensão do sofrimento do seu povo teria, comodamente, continuado a progredir
na sua brilhante e promissora carreira de alto funcionário das Nações Unidas.
Aprendeu que enquanto os
moçambicanos estivessem aprisionados ele jamais seria livre. As iguarias
alimentares e espirituais a que tinha acesso por força do trabalho que
realizava tinham sabor a fel porque os seus compatriotas sofriam.
Era seu fado libertar os moçambicanos
das grilhetas do colonialismo. Trocou o conforto das sumptuosas salas
alcatifadas, dotadas de excelente arejamento condicionado para se embrenhar na
mata arriscando a sua própria vida para o bem-estar do seu Povo.
E assim Mondlane tudo deixou!
Mondlane, feito Moisés,
libertador do Povo Hebreu do cativeiro do Egipto, veio aos seus irmãos
juntar-se e com eles – sempre com o timão na mão – fez a longa caminhada rumo à
independência nacional.
Até à exaustão ensinou-nos o
significado de “Povo Moçambicano”.
Mondlane nos ensinou-nos Povo
Moçambicano era apenas Homem. Homem sem evidenciar a cor, credo, tribo, etnia,
região, sexo, preconceitos, títulos nobiliárquicos e académicos, brasões, etc.
Quarenta anos já passados, nós
moçambicanos, juramos continuar a valorizar o sangue derramado por Mondlane e
outros heróis para que esta Pátria continue lutando para ser País desenvolvido
em que todo o Povo seja feliz.
Parabéns Moçambique, Pátria de
Heróis!
Casmurrice
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 12 de Junho de 2015
Eu sou do Clube Ferroviário de
Nampula. Treinei para este clube, sob os ensinamentos de Joaquim Bento
Chaveiro, nas classes iniciais, quando, em 1961, por razões escolares me mudei
de Muatua para esta cidade.
Importa aqui informar aos mais
novos e aos mais antigos como eu, que pelas mãos do Chaveiro, passaram ou devem
ter passado directa e indirectamente alguns dos grandes nomes do futebol
nampulenses e nacional, como são os casos do Moreira, Amarchande, Absalão,
Magaia, Cabral, Rui Évora e muitos outros cujos nomes não me ocorrem de memória
e, infelizmente, não figuram na fonte que ora consulto.
Face a este défice de informação
sobre a História do Futebol em Moçambique, soa oportuno perguntar quando a
Federação Moçambicana de Futebol contratará os serviços de um jovem historiador
e de um jornalista desportivo reformado para montar o banco de dados sobre
jogadores e o Futebol em geral em Moçambique?
Eu amo, consequentemente, aquele
clube da minha segunda terra pelo facto de ter acreditado em mim, ter-me
proporcionado a oportunidade de aprender algumas técnicas de bem pontapear a
bola, mas, fundamentalmente, porque foi naquela colectividade onde fiz muito
boas e grandes amizades.
Uma vez em Lourenço Marques, em
razão de prossecução da minha formação académica, duas casas procurei para me
complementar física, psicologicamente e na minha fé. Fui ao Clube Ferroviário
de Maputo, apresentei-me para jogar futebol nos juniores, dado que já tinha 18
anos. Porque povoado de craques, não consegui titularidade neste clube. Então
inscrevi-me nos departamentos de atletismo e ginástica. Sob a “batuta” dos
saudosos Daniel Firmino pratiquei atletismo e do Nuno Abranches fiz ginástica
aplicada neste clube. Na Igreja Católica Apostólica da Munhuana, encontrei o
lugar de recolhimento para com Deus ter a minha conversa dominical e quando
podia, durante a semana, ia a Santa Missa vespertina.
Portanto, os meus considerandos
subsequentes não se prendem com pruridos clubistas. A questão é que nas minhas
veias corre também sangue desportista. O meu clube, já o disse, é o Ferroviário
de Nampula e amo todos os seus irmãos congéneres de outras províncias. E sou,
visceralmente, tão ferroviário, que quis o destino que eu me casasse com uma
das filhas – a mais linda - de um funcionário dos Caminhos de Ferro de Mocuba e
ex-jogador do Clube Ferroviário daquela Cidade Zambeziana.
… E o meu Barcelona do Lionel
Messi conquistou o seu Quinto Título da Liga dos Campeões Europeus em Futebol.
Parabéns para este Clube que, este ano, guardou nas suas vitrinas a Taça da
Liga Espanhola de Futebol, a Taça do Rei em Futebol. Os sucessos do Barcelona,
por isso gosto dele, são fruto da boa gestão vivida e implementada por todos e
em todos os capítulos da vida daquela colectividade clubista.
Mas parece que o mesmo já não
sucede com o Sport Lisboa e Benfica, clube com o qual simpatizo por nele
Eusébio e Coluna terem brilhado. Com efeito, numa atitude difícil de ser
entendida esta colectividade desportiva não conseguiu manter o seu bem-sucedido
treinador Jorge Jesus. Entretanto, preferiu pagar pesada indeminização pela
rescisão do contrato do seu novo timoneiro ao clube ao qual este estava
vinculado. Casmurrice dos gestores do clube lisboeta? Sim! Não! Talvez!
Enfim, são absurdos da próspera
indústria do futebol, que é a única actividade que, aparentemente, ainda não se
ressentiu da crise económica e financeira que sacode o Mundo desde 2008. E
acredito que esse escândalo que ora abala a FIFA – Fédération Internationale de
Football Association – não provocará feridas no futebol como indústria de
entretenimento de massas, envolvendo vultuosas massas financeiras.
E entre muros nacionais parece
que, por falta de uma clara e pouco confusa política de gestão do nosso futebol
se pretende linchar publicamente a carreira profissional de João Chissano como
seleccionador nacional dos Mambas. Ele, para quem tenta entender de gestão de
futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e
longo prazos. Enquanto ele continuar a apostar nas camadas mais jovens e esta
sua atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, Moçambique voltará a
fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado na arena
internacional.
Paliativo
… da margem do Rio Pitamacanha
António Matabele
Maputo, 17 de Junho de 2015
Aparece-me um furúnculo purulento
numa região do corpo. O médico, sem me submeter a análises clínicas para
conhecer a origem do mal, receita-me uma pomada de uso tópico. O meu
padecimento, obviamente, não passa.
As análises clínicas comprovam
que as minhas dores de cabeça são devidas a um ataque de malária. O responsável
da unidade hospitalar à qual fui pedir socorro receita-me somente aspirina. O
resultado esperado, seguramente, não surge. A doença continua e evolui para
níveis de grande perigosidade.
Os exemplos seriam infinitos. Não
é objectivo desta reflexão exauri-los. Os resultados perspectivados não
acontecem quando as medidas curativas não são as recomendadas no figurino.
A uma ferida em gangrena aplica-se-lhe
o cauterizante na sua causa e nunca no seu efeito.
Graves problemas devem ser
resolvidos com soluções eficazes, definitivas, num horizonte temporal a tender
para o longo prazo.
Se não temos capacidade de
diagnosticar, em ciência, a causa de um grave problema a atitude mais prudente
é não inventar soluções empíricas. Algumas vezes é pior a emenda que o soneto.
A minha vetusta idade já não me
autoriza ir à ribalta pública e esgrimir polémicas sobre assuntos alheios.
Mas o nosso desporto, o futebol,
os MAMBAS, não são problemas alheios. São problemas nacionais. São problemas de
todo o Povo moçambicano. De todo o Povo moçambicano porque engloba aqueles que
gostam do futebol e que mesmo não sendo adeptos deste desporto, uma parte dos
seus impostos é consagrada ao financiamento desta modalidade desportiva.
Portanto, sinto-me com, pelo
menos, direito moral para emitir a minha opinião sobre a recente demissão de
João Chissano do ingrato cargo de Seleccionador Nacional de Futebol os MAMBAS.
Mas vou desde já adiantando que foi asneira grossa interromper-se, prematura ou
precocemente, a carreira profissional de tão jovem e promissor Seleccionador
Nacional.
Para o Povo Unido,
independentemente, da sua cor político-partidária, do seu credo religioso, da sua
tribo, da aldeia de onde é proveniente, do seu sexo e de outras características
próprias de cada concidadão, o seleccionador nacional dos MAMBAS é algo que
muito lhe pertence.
Ressalvados os exageros da
comparação, o Seleccionador Nacional do MAMBAS é uma personalidade que, em
termos de poder aglutinador do Povo, tem tanto ou mesmo que o Presidente da
República. Este último é eleito por uma maioria qualificada. O Seleccionador
Nacional dos MAMBAS é indicado pela Federação Moçambicana de Futebol, para, em
nome de todo o Povo Unido do Rovuma ao Maputo, desempenhar aquele nobre cargo.
Dirigir a equipa de futebol de todos os moçambicanos.
A camisete dos MAMBAS é única que
qualquer moçambicano, independentemente de ter ou não Partido Político,
religião ou outra característica que o torna “sui generis”, a usa sem quaisquer
pruridos ou preconceitos.
Num passado recente, por causa do
bom trabalho dos MAMBAS, que resultou num golo favorável a Moçambique, já vimos
Presidentes de partidos políticos arqui-adversários abraçarem-se efusiva e
despreconceituosamente em pleno Estádio da Machava.
Vale isto dizer que não é sem
juros elevados pagos por todo o País despedir-se, em pleno campo de jogos, um
Seleccionador Nacional do Gabarito de João Chissano, que tantas glórias e
alegrias já trouxe ao nosso Povo durante o seu consulado.
Com grande efeito de placebo
(medicamento que intruja psicologicamente o doente e este sente-se
temporariamente curado da doença) a medida tomada de se correr com João
Chissano é meramente paliativa. Não é com medidas de jaez paliativo como esta
ora adoptada de se expulsar o nosso Seleccionador Nacional dos MAMBAS que a
grave doença que mata, paulatinamente, o nosso futebol vai ficar curada a médio
e longo prazos e de modo irreversível.
Os nossos dirigentes
governamentais e das federações de todas as modalidades desportivas – com os
pais e os encarregados de educação inclusos – deverão ter a coragem de parar de
concretizar estas nossas habituais tendências de pretendermos fazer tudo por
campanha, incluindo a gestão do desporto em geral e do futebol em particular.
O jogador que fará dos MAMBAS uma
equipa de referência em Moçambique ainda é, neste momento, criança da
pré-escola. Esta criança tem que aprender a correr em casa, depois na escolinha
e escola primária, secundária, média e superior e só depois nos diferentes
escalões etários dos clubes para mais tarde brilhar na selecção nacional.
Por falta de uma clara e
delineada política de gestão do nosso futebol, “linchou-se” injusta e
publicamente o seleccionador nacional dos Mambas, João Chissano. Este técnico
de grande gabarito nacional e internacional, para além de entender de gestão de
futebol, até está a fazer trabalho titânico cujos resultados advirão a médio e
longo prazos, pois enquanto continuar a apostar nas camadas mais jovens e se
esta atitude for seguida pelos seus homólogos nos clubes, creio que Moçambique
voltará a fazer explodir o seu futebol, ocupando o lugar que lhe está reservado
e merece na arena internacional.
Não é, portanto, com medidas
paliativas e para “inglês ver” como esta que foi adoptada pela Federação
Moçambicana de Futebol que passaremos a ter bom futebol e melhor desporto em
Moçambique.
Tenhamos paciência! Já basta de
tentarmos fazer tudo por campanha. O camponês semeia e fica, pacientemente, a
espera do milho.
Função
Pública
António Matabele
...a margem do Rio Pitamacanha.
Moatize, 24 de Junho de 2015
O mundo celebrou ontem, 23 de
Junho de 2015, o Dia Internacional da Função Pública.
A data foi deliberada pela
Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) para se fazer a
exaltação da abnegação, dos valores defendidos e dos esforços feitos pelos
servidores dos Estados e Governos ao serviço dos Povos pelo Mundo.
Quis assim a ONU que aquele
cidadão anónimo de todo o mundo, que sua vida sacrifica para que o Povo humilde
receba com a qualidade e a tempestividade esperadas os serviços providenciados
pelo Estado, se sentisse valorizado.
Sem pompa, mas com a
circunstância merecida, em Moçambique, as cerimónias centrais desta efeméride
internacional alusiva ao servidor público, tiveram o seu epicentro na Cidade de
Inhambane, e foram presididas pela “servidora mor” do Ministério que também
tutela a Função Pública, Sua Excelência a Drª. Carmelita Rita Namaschilua.
A tónica das celebrações em
Moçambique, concentraram-se na valorização da Pessoa que serve e é servida.
Para a materialização deste objectivo de importância capital foram realizadas
acções de formação e informação do servidor e os seus clientes, que é o público
em geral. Houve entrevistas, palestras, seminários, debates, actividades
culturais, desportivas, culinárias e lúdicas de índole diversa nas quais os
funcionários do Estado e as populações interagiram. Antigos ministros e actuais
desta área foram convidados a apresentarem os seus pontos de vista sobre os
desafios vividos pela Função Púbica. A juventude, a mulher, a universidade, o
operário não foram, desta vez, infelizmente, convidados a dar o seu, talvez
muito válido, contributo e a sua visão sobre esta problemática.
Esta muito saudada aproximação
entre os funcionários públicos e as populações caracterizou-se pelo facto de os
primeiros, num gesto de humilde grandeza e vontade de aprender, se terem
exposto à mercê do crivo censor e didáctico do saber e experiência populares.
Moçambique, uma das Nações
potencialmente mais ricas do mundo em termos de população maioritariamente
jovem, terra arável abundante e bastante fértil e possuidora de recursos
naturais variados de grande valor comercial e industrial, com 25 Milhões de
Habitantes, possui apenas 296.856 Funcionários e Agentes do Estado, dos quais
184.891 são homens e 111.695 mulheres.
A gestão desta força de trabalho
do aparelho do Estado é, em teoria, feita de forma dinâmica. Figura na Lei competente
que ao servidor público é oferecida pelo Estado uma perspectiva de carreira
técnico profissional e que esta é do seu prévio conhecimento. Para sua
progressão objectiva, o servidor do Estado está contemplado por uma avaliação
periódica, cujos parâmetros e critérios deveriam ser, também, do seu prévio
conhecimento.
No período em análise, que
preenche uma parte dos 40 anos da nossa independência nacional houve promoções,
progressões e mudança de carreira beneficiando um universo de 45.000 servidores.
Houve 13.076 promoções por bom desempenho, 3.700 promoções por concurso e
15.550 mudanças de carreira.
Com aquele número de Funcionários
e Agentes do Estado (296.856) o "ratio" entre eles e os seus
clientes, que é a população moçambicana, é desvantajoso em termos de cobertura
"per capita" de servidores do Estado ao Povo. Há uma fracção enorme
da Procura/Demanda (D) por serviços públicos que a Oferta/Supply (S) ainda não
está capaz de satisfazer. Com efeito, somente 1,19% da nossa população trabalha
como Funcionários e Agentes do Estado, significando, estatisticamente, que cada
um tem que atender 85 Mil Pessoas.
Para a remuneração destes
Funcionários e Agentes do Estado somas significativas do Orçamento Geral do
Estado (OGE) são consagradas para a rubrica salários, perfazendo uma parte
significativa do PIB (Produto Interno Bruto).
Investidor
António Matabele
N’siripwiti
Moatize, 26 de Junho de 2015
Ontem, 25 de Junho de 2015,
Moçambique, em Paz, cansado de guerra e só querendo desenvolvimento endógeno e
irreversível, celebrou os 40 anos da sua Independência.
Foram anos de muita luta,
coragem, esperança, lágrimas e alegrias. O Povo, buscando forças das
profundezas do impossível, saiu ganhador. Com esta sua intrépida e estóica
determinação levará Moçambique para os píncaros do progresso sonhado, em 1962,
quando o movimento libertário da Pátria e dos Homens foi, com sucesso,
iniciado.
A nossa Constituição determina
que a Agricultura é a base do nosso desenvolvimento.
Oitenta por cento dos 25 Milhões
de Habitantes da nossa população vive no meio rural fazendo agricultura de
subsistência e outra para obtenção de rendimento.
Pela sua expressão numérica, o
agricultor é o maior investidor em Moçambique. Todos os anos, nas campanhas
agrícolas, o agricultor investe a quase totalidade dos seus recursos
financeiros, económicos e patrimoniais, bem como o seu esforço físico e
intelectual para fazer a sua machamba, que é o seu investimento sazonal por
excelência. Nesta perspectiva, o agricultor rural indígena é o único investidor
que consagra a totalidade do seu património no financiamento do seu
empreendimento todos os anos. Sem paternalismos, urge que esta sua condição
seja cuidadosamente estudada para evitarmos que o agricultor, durante todo o
seu período de trabalho activo, trabalhe para o seu continuo, paulatino e
irreversível empobrecimento. Com efeito, porque o agricultor todos os anos tudo
investe na sua machamba, tudo perde nela quando no fim da campanha ou do ano
agrícola vê o seu esforço perdido por uma miríade de razões a ele estranhas.
Face ao actual rosário de
aparente descrença em relação ao papel desempenhado pelo agricultor, em sua
qualidade de investidor integral (porque investe 100% dos seus recursos
próprios todos os anos na sua machamba), quase que dá vontade de afirmar que o
único agente económico que acredita que é possível desenvolver o País apostando
forte na agricultura é o agricultor sozinho e mais ninguém.
Investidor, por definição muito
simplificada, é aquela pessoa, singular ou colectiva, que usa as suas poupanças
próprias e alheias, se necessário, para concretizar um empreendimento,
normalmente, gerador de rendimento financeiro ou económico.
Para desenvolver o país, o
Governo de Moçambique desenvolve políticas e iniciativas legais para incentivar
a concretização de investimentos na economia.
As estatísticas oficiais
comprovam que o investimento tem aumentado, graças aos incentivos atribuídos
aos seus mentores e também porque o ambiente de paz que o País tem estado a
viver tem propiciado esta apetência do investidor para com Moçambique.
Todavia, existe uma aparente
contradição que reside no facto de o País – por força das suas condições
naturais e por imperativo constitucional – ser agrícola por excelência, mas a
nossa prática econômica não se traduzir na materialização deste comando da
nossa Lei fundamental. E nesta sua condição de País vocacionado a ser
naturalmente agrícola há um investidor individual ou familiar, nativo e
indígena que é o agricultor rural ou camponês.
É um imperativo determinante do
nosso desenvolvimento que o Estado e Governo de Moçambique reformulem o
paradigma de apoio a este investidor nacional maioritário que é o camponês, ou
agricultor rural.
O novo paradigma de apoio ao
investidor agricultor rural passa pela realização de investimentos na área da
sua capacitação técnico profissional e até educação convencional para adultos.
Mas isto pressupõe paciência, planificação num horizonte de médio e longo
prazos e nunca por campanhas de efémeros resultados.
Investir a montante e a jusante
do investidor camponês poderá significar capacitá-lo técnica e
profissionalmente, municiá-los de conhecimentos fundamentais de pedologia, do
uso do sistema de rega, ensiná-lo a usar insumos agrícolas, adestrá-los em
matéria de recurso ao crédito, revolucionar as garantias que lhe são exigidas
pelos bancos, ensinar-lhe a desenhar os rudimentos de um projecto bancável,
fazer o acompanhamento do processo de implementação do empreendimento do
camponês (a sua campanha agrícola anual), melhorar as condições de
transitabilidade das picadas dirigidas à sua machamba, melhorar os silos e os
armazéns de produtos da sua colheita, organizar mercados nos quais a
comercialização flua sem constrangimentos, conceder, quando necessário e
devidamente estudados, incentivos de subvenção para que a venda dos seus
produtos cubram a maior percentagem possível dos custos da sua produção e ele
tenha, anualmente, por via deste artificio “paternalista” do Estado, “cash
flow” não negativos, etc.
Assim agindo, o Estado de
Moçambique, fazendo uso do seu “poder de império”, evitará que 80% da sua
população empobreça todos os anos na medida em que enterra, sem vantagens, as
suas parcas poupanças em machambas mal sucedidas.
Estudemos, “mudando o que houver
a mudar”, as nossas boas experiências de um passado recente da nossa história,
em que, por exemplo, no ex-BPD (Banco Popular de Desenvolvimento), mediante a
utilização do trabalho de para-técnicos rurais, aquela instituição bancária,
vocacionada a promover o desenvolvimento nacional e o rural em particular,
ensinava o agricultor a ser um pequeno, mas bem-sucedido investidor. O retorno
do crédito concedido naquelas condições seguras ao agricultor pelo ex-BPD
rondava a casa dos 90%. E era visivel a sua lenta mas paulatina evolução, todos
os anos, de tal maneira que 1981, ficou registado como o melhor ano agrícola de
Moçambique no pós-independência, graças também ao ambiente de investimento
favorável criado a favor do agricultor rural pelo Governo e seu braço
financiador do investidor rural (o camponês), que era o ex-BPD.
Em resumo, temos que, a nível
nacional, nos capacitarmos política e psicologicamente para vermos no
agricultor o primeiro e o principal investidor do nosso País, quer pela sua
expressão numérica, quer pelo que a sua produção representa para a formação do
PIB – Produto Interno Bruto. E se assim procedermos, não estaremos inventando
nada, nem tão pouco cometendo alguma heresia político-económica fora dos
cânones estabelecidos, porque apenas estaremos agindo como determina a nossa
Constituição: “a agricultura é a base do nosso desenvolvimento”.
Outra fatia substancial do OGE é
consagrada ao desenvolvimento da Pessoa do Funcionário e Agente do Estado,
através da sua inscrição em acções de formação no local e trabalho e fora dele,
no País e no exterior.
Para terminar esta reflexão, que
fica prejudicada pelo espartilho limitativo de uma coluna de jornal, seria
tamanha injustiça se, humildemente, não me curvasse para saudar o esforço
militante, abnegado de verdadeiro e sério sacerdócio concretizado pela maioria
dos Funcionários e Agentes do Estado para entregarem ao Povo um serviço de
grande qualidade em tempo recorde.
Porém, seria cinismo imperdoável
da minha parte se, acobardado no pretexto da limitação de espaço, deste humilde
areópago da minha coluna, não lançasse a minha crítica àqueles, felizmente
poucos Funcionários e Agentes do Estado, que padecem de sede crónica e passam a
vida a molestar e a extorquir os parcos recursos do Povo pedindo-lhes refresco
para dessedentarem as suas insaciáveis e eternamente ressequidas gargantas.
Urge que todo o povo "terça
suas armas" e combata, sem tréguas, a esta minoria que, infelizmente, tem
representantes desde o escalão de funcionários seniores aos mais juniores e cuja
acção perniciosa, qual cancro em metástase acelerada, matará a Nação
Moçambicana no limiar da sua juventude de 40 anos amanhã, 25 de Junho de 2015,
condignamente celebrados.
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